Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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ABORDAGEM TRANSDISCIPLINAR SOBRE VIOLÊNCIA DE GÊNERO NO COLETIVO DE MULHERES DO CALAFATE: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
Laura Rangel Quintela, Isadora Anjos Zottoli, Mariza Silva Almeida

Resumo


Caracterização do problema: Os integrantes da ACC - Atividade Curricular em Comunidade, em estudo sobre a abordagem transdisciplinar dos problemas de saúde relacionados à violência, com o apoio do Coletivo de mulheres do Calafate (Uma organização não governamental comunitária feminista que promove ações de enfrentamento à violência contra a mulher), realizaram atividades a cerca do tema violência contra as mulheres, com o objetivo de promover a igualdade de gênero, mediante a conscientização associada à motivação, ao pensamento crítico e reflexivo da necessidade de romper estereótipos e preconceitos de gênero e sexismo ambivalente, despertando para o olhar das desigualdades entre homens e mulheres. A violência contra a mulher resulta da dominação masculina que produz e reproduz, via ideologia, uma relação desigual, havendo uma hierarquização dos papéis sociais e padrões de comportamento determinados para cada sexo. Dessa forma, as mulheres assumem muitas vezes papéis sociais enquanto “cúmplices” da violência de que são vítimas, mesmo sendo uma escolha inconsciente, contribuindo para a reprodução de sua dependência da dominação masculina. Outras vezes, essa violência de gênero se configura como uma disputa de poder entre os sexos. Neste contexto, vale considerar a construção sócio-cultural vivenciada pelas crianças no que se refere à percepção das diferenças entre mulheres e homens, sem espaços para discussão e/ou exploração desse tema numa perspectiva crítica e questionadora. Descrição da experiência: Trata-se uma atividade de extensão denominada “Brincando de fazer mímicas”, desenvolvida no dia 16 de junho de 2011, no CMC - Coletivo de Mulheres do Calafate, localizada no bairro do mesmo nome, em Salvador. Antes da sua realização, tivemos aulas sobre violência de gênero, promovemos rodas de discussão para fundamentarmos nossa prática e fizemos visita ao local onde pudemos conversar com algumas integrantes do CMC sobre os temas de trabalho, estrutura e materiais disponíveis para a realização da atividade. A ação contou com a participação da professora responsável pela ACC, cerca de 8 integrantes do grupo e 12 crianças entre 06 e 13 anos de idade, filhos(as) de mulheres que participam do CMC. Utilizamos uma metodologia participativa e problematizadora, envolvendo música, movimentação corporal, organização e raciocínio para realização da atividade lúdica. Para isso, foi utilizado como material didático uma “bola-cebola” (bola feita por várias camadas de papel, em que cada camada tinha escrito uma ação de imagem social estereotipada, a exemplo de: pagar contas e desfilar). O jogo se resumia em passar a bola de mão em mão ao som de musicas até o comando de parar (quando a música era pausada) e a criança que estivesse com a bola em mãos retirava um papel da camada mais externa da bola. Em seguida um dos integrantes da ACC lia o papel para a criança e a mesma teria que fazer mímicas para todos até que algum dos colegas descobrisse qual era a ação. Efeitos alcançados e recomendações: A atividade alcançou os objetivos esperados pelo grupo, tendo a participação ativa das crianças, que se mantiveram entusiasmadas durante todo o tempo, sendo realizada de maneira organizada, havendo interesse do público alvo, com feedback positivo entre a equipe e crianças, as quais solicitaram o retorno do grupo da ACC para realização de novas atividades na comunidade. Acreditamos que a abordagem dinâmica, lúdica e questionadora do tema atendeu a proposta e objetivo frente à temática norteadora da ACC (abordagem transdisciplinar dos problemas de saúde relacionados à violência), uma vez que as crianças se envolveram com a atividade e refletiram sobre o tema violência de gênero e como ele aparece em diversas situações cotidianas. Algumas observações das reações das crianças frente à atividade desenvolvida foram feitas pelos organizadores, como a tendência de achar que a mulher tem a obrigação de atender a certos requisitos e realizar determinadas ações e como foi notória dificuldade dos meninos presentes na atividade realizarem as mímicas vistas como ações femininas sem tendenciar a mímica ao homoafetismo. Quando a ação era estereotipada como feminina e era feita por um homem, esse homem era visto como homossexual. Destacamos como facilidades de execução da atividade o entrosamento e participação do grupo da ACC com as crianças, assim como a escolha adequada de materiais didáticos apropriados para a faixa etária e padrão social do público alvo. Na medida em que as atividades foram ocorrendo, os organizadores aconselhavam as crianças a realizarem atividades, como ajudar nas atividades domésticas (ex: arrumar a cama ao acordar) e realizar atividades culturais (danças, lutas etc.) independente do sexo e das questões de gênero nelas envolvidas. Conclusão: Os espaços de aprendizagem vivenciados no Coletivo de mulheres do Calafate se configuraram como importantes dispositivos que permitiram aos integrantes da ACC um aprendizado enriquecedor sobre a temática Violência de Gênero. Além disso, esta experiência fundamenta a nossa graduação como futuros profissionais de saúde, existindo a necessidade dos mesmos superarem alguns dos seus costumes, rompendo preconceitos discriminatórios acerca do tema, buscando promover ações de educação em saúde que tenham papel decisivo no enfrentamento da violência pela população, tornando-se engajados ético-politicamente com a realidade concreta. A problematização da realidade mostra-se como um dispositivo de crítica social e das situações vivenciadas por indivíduos, grupos e movimentos, permitindo a visão de ideologias sociais, favorecendo a liberação de pensamentos e de atos ativos de mudança social. O desenvolvimento dessa prática educativa repercutiu positivamente em relação ao aperfeiçoamento de habilidades individuais e coletivas com público infantil em situação de vulnerabilidade econômica e social, proporcionando informação, educação, além de ratificar a importância de fomentar espaços e atividades cuja abordagem envolva temas referentes a questões de gênero. Autoras: Laura Quintela, Isadora Zottoli e Mariza Almeida.