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Associativismo de mulheres de favelas: construindo redes de proteção à violência contra a mulher
Resumo
Esta comunicação trata do associativismo e da militância de mulheres moradoras de favelas do Rio de Janeiro, em especial, da criação das associações/grupos de mulheres em seus locais de moradia e de suas relações com os serviços de saúde para o enfrentamento da violência contra a mulher. E pretende discutir seus processos de luta, de resistência e também suas acomodações e consentimentos – considerando os nexos entre suas experiências cotidianas, participações em movimentos sociais, as estratégias e campos de atuação eleitos, a formatação de políticas e serviços de saúde, e de uma rede de proteção à mulher em seus territórios de moradia e na cidade.Fruto de pesquisa de Tese, ainda em andamento, tem-se buscado conhecer, a partir de pesquisa etnográfica e de entrevistas, as trajetórias e atuação dessas mulheres, e investigar suas participações em movimentos sociais e instâncias de deliberação de políticas públicas.Com avanços e retrocessos, os moradores e moradoras de favela têm construído uma história de organização, militância e conquista de direitos. Todavia, o controle armado dos territórios de favela pelos criminosos e o consequente aumento da violência, a partir de 1980, impacta suas mobilizações. E, nesse cenário, as mulheres têm desempenhado um papel central tanto na interlocução com o tráfico de drogas e com o poder e serviços públicos, como na organização de associações e de uma rede de proteção, muitas vezes informal, de apoio a vítimas de violência.Embora a pauta da violência contra a mulher ainda permaneça obscurecida em suas falas e muitas de suas respostas a este problema ocorram no âmbito privado – na estruturação dos cuidados familiares e de vizinhança – temos recolhido o político dessas práticas, revelando sua dimensão pública. E observado como a existência e proximidade com serviços locais de saúde, como unidades de saúde da família, preparados e sensibilizados a acolher questões relativas à violência contra a mulher podem representar um local estratégico na construção de uma cultura de direitos. Contudo, o despreparo e o medo dos profissionais de saúde e a desarticulação entre serviços públicos de um mesmo território obstaculizam a assistência. Ademais, verificamos a necessidade de aprofundar a discussão entre o desempenho de cuidados pelas mulheres (em casa e na vizinhança) e a criação de modelos de saúde no país e seus papéis como agentes da intersetorialidade em seus locais de moradia.