Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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Mobilização social e formação em gênero e saúde com mulheres em situação de vulnerabilidade social"
Carla Moura Lima, Michelle Oliveira, Rosane Marques

Resumo


As mulheres ainda desempenham papéis secundários em comunidades empobrecidas, nas quais predomina o autoritarismo masculino. Experiências educativas de mobilização social com mulheres visam um diálogo mais equitativo entre os gêneros. A experiência analisada trata-se de um processo de construção compartilhada de um curso de protagonismo de gênero: o Mulher Manguinhos, - formação política de mulheres de 13 favelas do Rio de Janeiro, na perspectiva da Educação Popular em Saúde. Mulheres dessas comunidades participaram desde a formulação da proposta até a sua finalização. O Curso aconteceu em três módulos: “Ser Mulher”; “Ser Criança” e “Mulheres e Políticas Públicas”, entre 2009 e 2010. O primeiro módulo discutiu a condição da mulher moradora de territórios vulnerabilizados nos dias atuais. O segundo analisou a situação das mães e crianças nas comunidades, na perspectiva do protagonismo nas lutas pelo acesso aos direitos desses segmentos da população. Foram realizados encontros regionais, intercâmbios e visitas. Utilizou-se diferentes linguagens como: vídeo, teatro, dança, música, contação de histórias, exercícios de consciência corporal, além de oficinas de construção coletiva, debates e aulas participativas. Os resultados apontam que morar em favela traz diversos impasses como as dificuldades de acesso a serviços públicos de qualidade, discriminação e maus-tratos por profissionais de saúde; abandono pelos homens; violação de direitos como o de ir e vir; além da “lei do silêncio” que predomina em suas comunidades. A análise dos discursos leva ao questionamento das políticas públicas oferecidas. Entre os efeitos alcançados podem ser citados: o inédito diálogo entre mulheres, surgiram novas lideranças para a militância comunitária, criaram um novo grupo de mulheres, que representa o segmento em diversos espaços de participação, resultando na modificação da correlação de forças do poder local. O Curso oferece elementos e recomendações para: a implementação de sistemas de vigilância de violências; aumento da resolutividade dos serviços de saúde, em especial para crianças, adolescentes e mulheres, com prevenção primária; a promoção de igualdade e eqüidade social e de gênero e a qualificação dos profissionais para tais ações. Além disso, demonstrou-se ser possível o desenvolvimento de processos educativos transformadores e libertários, a que Paulo Freire chamava de 'permanente inédito e viável', dirigida à todos indistintamente, mantendo a sua vocação popular.