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O enfrentamento da violência de gênero no meio rural: um fenômeno mundial como desafio à saúde coletiva
Resumo
O fenômeno da violência contra as mulheres, sistematicamente silenciado, naturalizado e invisibilizado por uma sociedade capitalista e patriarcal faz parte do cotidiano das mulheres em qualquer parte do mundo. Um fenômeno mundial que perpassa todas as classes sociais, gerações, orientações sexuais e se dá tanto com mulheres que vivem nas cidades como com as que vivem no campo. A violência se evidencia em dados formais, informais, em relatos de vida, confidências, denúncias e reivindicações dos movimentos de mulheres e organizações do campo. Sabemos que o silenciamento e a conseqüente ausência de dados e informações compartilham o silêncio e a invisibilidade da dor sofrida em situações de abuso e violação de direitos pelas mulheres em todo o mundo. Esta engrenagem social se evidencia nas múltiplas expressões culturais que hegemonizam a dominação do universo simbólico patriarcal e capitalista no atual contexto histórico. No caso das mulheres camponesas, do campo e da floresta, sabemos que junto com a luta pela terra, contra os crimes no campo e pela não criminalização dos movimentos sociais, é necessário dar um basta à violência contra as mulheres, materializada pela invasão de seus corpos, subjetividade e bens sociais, culturais e simbólicos. A violência contra a mulher pode ser considerada como um fenômeno social, multiforme e histórico, complexo, histórico e permeado por múltiplas dimensões e, por isto, é preciso analisá-lo considerando o que cada cultura e cada sociedade entende por violência e situá-la conforme cada momento histórico vivido.O movimento feminista é quem trouxe uma importante contribuição para a análise dos fenômenos sociais, em especial a questão da violência contra a mulher, ao desvelar a naturalização da opressão, discriminação, exploração e violência cometida contra as mulheres.A compreensão dessa construção histórica é uma necessidade não só das mulheres camponesas, mas também do campo da saúde coletiva, pois a superação destas relações e a possibilidade de construção de novas relações sociais de gênero, classe, raça, etnia e com a natureza, permeadas pelo afeto, amorosidade, respeito, companheirismo, solidariedade e construção compartilhada de poder, de saber e das condições necessárias para a sobrevivência de todas a pessoas é um desafio a ser enfrentado como um dos determinantes sociais da saúde.