Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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TEATRO COMO PROPOSTA METODOLÓGICA DE INFORMAÇÃO SOBRE O CICLO DA VIOLÊNCIA E A REDE PROTETIVA PROJETO “CASA DAS MULHERES”
Cristiane Magalhães de Melo, Juliana Martins Rodrigues, Andreia Reis, Carolina Ribeiro Bandeira, Maíra Tamara Paiva Lainha, Marisa Barletto, Paula Dias Bevilacqua, Angela Maria Assis Castro

Resumo


O Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde - PET Saúde/VS – Projeto: “A violência contra a mulher em Viçosa – MG: compreensão do fenômeno por profissionais de saúde e análise da notificação dos casos” é desenvolvido com estudantes de Enfermagem e coordenado pelo Núcleo Interdisciplinar de Estudos de Gênero da Universidade Federal de Viçosa (NIEG/UFV), o qual desenvolve outros trabalhos nas temáticas de gênero e saúde. O projeto PET-Saúde/Vigilância em Saúde tem como objetivos mapear a situação da violência contra a mulher no município de Viçosa-MG; analisar como profissionais da Estratégia Saúde da Família e da atenção secundária que atendem mulheres vítimas de violência compreendem a dimensão da violência nas comunidades pesquisadas; e promover a integração ensino-serviço-pesquisa, por meio da inserção de estudantes na experiência da vigilância em saúde e da pesquisa. Uma das metodologias do projeto é a realização de atividades de formação com profissionais de saúde, e dentre elas há a apresentação de um teatro pelas estudantes de Enfermagem, Direito, Pedagogia e Ciências Sociais. Tais estudantes são bolsistas de extensão do PROEXT (MEC/SESU) no projeto “Rede Protetiva a Mulheres em Situação de Violência–Programa Casa das Mulheres”, que vem sendo desenvolvido desde 2010. A Casa das Mulheres é um Programa, criado pelo Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Viçosa, que tem o objetivo de acolher a mulher em situação de violência, oferecendo os encaminhamentos para as instituições de atendimento. Enquanto Rede, o Programa Casa das Mulheres tem como objetivo articular os órgãos públicos e da sociedade civil de modo a não produzir a re-vitimização e inibir a violência institucional. Os órgãos que fazem parte da rede são: Delegacia de Polícia Civil, Defensoria Pública do Estado de Minas Gerais, Centro de Referência de Assistência Social (CREAS), o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), AL-ANON e CTO (Grupos dos Alcoólicos Anônimos), além da Universidade Federal de Viçosa, a União de Ensino Superior de Viçosa, Prefeitura e Câmara Municipal de Viçosa. Uma função importante da Rede tem sido a formação para o enfrentamento da violência contra a mulher e o trabalho junto à outras instituições para incorporarem a Rede. Nesse sentido, as ações junto a Estratégia Saúde da Família e aos profissionais da saúde em geral foram articuladas com o grupo PET-Saúde/Vigilância em Saúde, quando então, foi construído o trabalho do teatro. O roteiro do teatro foi uma construção coletiva de estudantes estagiários da Casa das Mulheres, elaborado durante o processo de capacitação para o atendimento da Rede Protetiva a Mulheres em Situação de Violência. A proposição da dinâmica foi que cada estudante socializasse com o grupo histórias de violência contra mulher que tinham conhecimento, como objetivo de sensibilizar sobre a relevância do tema, da proximidade cotidiana com o problema da violência, da dificuldade da quebra do ciclo da violência e dos atendimentos as mulheres que passam por isso. Como as histórias contadas pelo grupo se pareciam muito, foi solicitado que cada grupo construísse uma única história que incorporasse os elementos colocados por cada participante. Dessa construção coletiva, foi proposto que o grupo organizasse uma dramatização da história, que foi apresentada no último dia da capacitação. Desta forma, foi criado um roteiro base, que foi aperfeiçoado posteriormente e que motivou a constituição de um grupo que fizesse essa apresentação em outras situações de informação e formação. A história tratada no roteiro começa mostrando que a violência começa no início do relacionamento entre Mário e Joana, com a censura dele sobre as roupas dela e os ciúmes dele dos amigos e amigas. Com o passar do tempo, Mário passa a cometer violência patrimonial, pois tenta tirar os documentos de Joana, para tentar impedi-la de sair ou frequentar certos lugares. Num crescente de controles e censuras, Mário parte para a agressão física, mas mostra-se arrependido e pede desculpas, prometendo que nunca mais fará aquilo com Joana. Por ela o amar demais, o perdoa e voltam às pazes. Porém a violência se repete e vai piorando a cada episódio, e ela acontece das mais diversas formas. Violência física, psicológica, patrimonial, sexual e moral. A identificação do público com o teatro é nítida, pois vemos que muitas mulheres se identificam com o que é mostrado e se mostram surpresas com a Rede Protetiva que foi montada para facilitar o atendimento a essa mulher. Diante da complexidade do quadro, procuramos deixar claro no teatro quais os órgãos e/ou instituições que a mulher em situação de violência pode procurar, que são: Delegacia de Polícia, para registrar a ocorrência e pedir medidas protetivas, na qual a autoridade policial pode ajudar garantindo proteção policial quando necessário, levar a mulher vítima de violência ao hospital ou posto de saúde, levar a mulher vítima e seus filhos para abrigo ou local seguro quando houver risco, acompanhar a vítima para assegurar que ela pegue seus documentos, algumas roupas, materiais de trabalho ou outra coisa importante em sua casa. A Defensoria Pública, para também pedir medidas protetivas, propor ação de separação, de pensão e de guarda das crianças; o CREAS, em que a mulher terá o atendimento de uma psicóloga e de uma assistente social, ajudando no que for necessário; o AL-ANON, que é um grupo de apoio à familiares de pessoas que tem problemas com a bebida alcoólica; o CTO, que é um grupo que ajuda pessoas com problemas com a bebida alcoólica e a Casa das Mulheres, onde a mulher terá toda a informação que precisar e será encaminhada para o atendimento que achar necessário. O atendimento na Unidade do PSF teve atenção especial, pois procuramos não só tratar da produção da notificação compulsória da violência doméstica contra a mulher, mas também indicar a necessária articulação das agentes comunitárias na Rede Protetiva. Esse teatro é, portanto uma estratégia que utilizamos, com muito sucesso, para dar visibilidade ao quadro de violência, conseguindo então, abordar diversas situações difíceis de serem explicadas e trabalhadas em oficinas, palestras e grupos. Com o teatro conseguimos sensibilizar e fazer com que as pessoas visualizem o processo da violência e tomem consciência da sua complexidade. Foram feitos vários encontros, para discutir sobre as falas, personagens, materiais cenográficos, sobre a Rede Protetiva e o tema violência contra mulher. Essas atividades de elaboração e refinamento das cenas contribuíram para a formação das estudantes gerando maior domínio a respeito do tema, além de ser uma estratégia de formação para todas as pessoas que assistem o teatro. A partir do teatro foi elaborada uma Cartilha com o mesmo roteiro para auxiliar nos processos de capacitação sobre a Rede Protetiva Casa das Mulheres. Entendemos que o objetivo do teatro é alcançado e tem grande aceitação de todas as pessoas que o assistem, pois é uma forma simples e dinâmica de abordar um fenômeno complexo presente na sociedade, além de propiciar grande mobilização para a discussão sobre o tema da violência.