Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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Afetividade e Juventude: uma experiência de Educação Popular e Saúde
Alana Pereira Rodrigues, Welington Serra Lazarini

Resumo


Com a conquista do direito à saúde, houve a necessidade de materializar o que estava devidamente expresso na Constituição de 1988. Assim, o Sistema Único de Saúde (SUS) surge com uma proposta baseada em princípios como universalidade, equidade, integralidade e participação popular, bem como em diretrizes, como a descentralização e comando único, regionalização e resolubilidade, que o levaram a ser reconhecido internacionalmente como o maior sistema público de saúde com caráter universal no mundo. Entre suas principais características, aproximar os serviços de saúde da população é uma delas, tarefa que caracteriza a Atenção Básica, nível de organização que, segundo alguns estudos, teria a capacidade de resolver cerca de 80% das necessidades em saúde da população. Além disso, também se configura como objetivo da Atenção Básica possibilitar a participação social, identificando e valorizando as diversas organizações e manifestações que emanam da comunidade, a fim de fomentar estratégias que promovam a saúde dos indivíduos. Desse modo, cabe ressaltar a importância de se pensar em uma saúde integral, ou seja, refletir a cerca dos diversos fatores que influenciam na qualidade de vida dos sujeitos. Nesse sentido, em cada fase do ciclo vital, temos características que são peculiares àquele grupo ou aquela faixa etária da população, que precisam ser identificadas pelos serviços de saúde como elementos que contribuem ou não para a saúde integral dos sujeitos. No que se refere aos jovens e adolescentes, essa aproximação adquire contornos de extrema relevância, já que esta parcela da população representa cerca de 20% da nossa população. Entre alguns desafios da juventude atual, as pesquisas revelam que grande parte destes afirma como principais preocupações o medo do desemprego, de sobrarem e ficarem sem amigos e, por último, tem medo de morrer, sobretudo pela violência manifestada através dos homicídios e dos acidentes de trânsito. Todavia, esse público é o que menos está presente nos estabelecimentos de saúde. Os estudos apontam que a falta de acolhimento adequado nos serviços de saúde, bem como uma concepção ainda arraigada de saúde como sendo o contrário de doença, contribuem para o distanciamento dessa parcela da população dos serviços, dificultando a realização e a proposição de atividades orientadas pelo paradigma da prevenção e da promoção à saúde. Faz-se urgente rever a aproximação dos profissionais da Atenção Básica aos diversos grupos e instituições que trabalham com jovens e adolescentes nas comunidades, a fim de otimizar estas parcerias, possibilitando a formação de redes nos territórios de saúde. Consoante ao exposto, a Pastoral da Juventude do Brasil (PJB), que está ligada a estrutura orgânica da Igreja Católica Apostólica Romana, é uma organização juvenil que visa promover o protagonismo entre os jovens. Seu modo de atuação está fundamentado na formação e articulação de uma rede formada por pequenos grupos de base, que se organizam no ambiente da comunidade a que pertencem e se articulam diretamente com a Igreja local. Em suas diretrizes está o cuidado com a formação integral do indivíduo, assim denominada porque está atenta à vida das pessoas em todos os aspectos: pessoal, grupal, social e político, espiritual e, também, as habilidades que cada pessoa precisa desenvolver em grupo e pessoalmente. Fomentado pelas diretrizes dos documentos da Igreja e com o objetivo de capacitar as lideranças juvenis para atuarem junto aos grupos de jovens nas comunidades, a Arquidiocese de Vitória/ES, organizou um curso, entre os dias 28 e 29 de maio de 2011. Esta experiência contou com a participação de 120 jovens de 6 áreas pastorais, a saber: Área de Vitória, Área Cariacica-Viana, Área da Serra, Área Benevente, Área de Vila Velha e Área Serrana, que abrangem 13 municípios entre a região metropolitana e o interior do Estado do Espírito Santo. Devido a uma necessidade emanada dos próprios jovens em outros momentos, o curso propôs-se a discutir temas relacionados à afetividade, tais como sexualidade, autonomia, relações de poder, corporeidade, namoro e as intercessões destes com as novas tecnologias. Embora seja uma dimensão importante da vida humana, pouco ainda se discute acerca desta temática, seja nas famílias, nas escolas, nos serviços de saúde, nas igrejas ou até mesmo entre os próprios grupos de jovens e adolescentes, que carecem de informações adequadas frente as suas inquietações, sendo a ele dificultada a possibilidade de se vivenciar a sua sexualidade de maneira sadia e tranqüila, ou simplesmente, com menos temores. Nesse sentido, a metodologia proposta para o curso foi delineada em consonância à estratégia de Educação Popular, concebida por Paulo Freire. Partindo das premissas de reflexão crítica, empoderamento e necessidade de transformação das condições de vida da juventude, as ações foram dirigidas à construção de espaços de compartilhamento entre conhecimento técnico-teórico e a história e modos de vida dos cursistas. Para além da imposição de dogmas ou pensamentos cristalizados acerca da afetividade e da sexualidade, tanto no interior da Igreja Católica, quanto no meio da sociedade em geral, o que se propôs, através da música, da expressão corporal, da poesia e da vivência em grupo, foi uma tentativa de conduzir os cursistas a uma reflexão pessoal acerca das suas escolhas, bem como das conseqüências advindas delas. Dessa forma, foi possível discutir sobre a importância da construção de projetos de vida, com o intuito de oportunizar o desenvolvimento de mecanismos que contribuíssem com a tomada de decisão dos jovens, de maneira que os mesmos possam fazer escolhas mais saudáveis para suas vidas. Nessa perspectiva trabalhou-se a idéia de que a formação crítica-cidadã dos jovens contribui para que os mesmos possam ser protagonistas de suas histórias e, dessa forma, intervir na sociedade, criando possibilidades de produção, construção ou mudança de realidade. Logo, faz-se urgente que os profissionais de saúde, sobretudo os que atuam na Atenção Básica, incorporem em seus processos de trabalho estratégias de aproximação e de permanente conhecimento e reflexão, acerca dos modos de ser e estar no mundo dos jovens dos adolescentes, em busca da saúde integral dessa importante e esquecida parte da sociedade.