Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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CONSAÚDE: ESTIMULANDO A PARTICIPAÇÃO POPULAR ATRAVÉS DA PARCERIA ENSINO, SERVIÇO E COMUNIDADE
Tatiana Oliveira Novais, Isabela Pereira Furtado, Maria Fátima Nunes, Beatriz Teles Bastos, Marizane Souza Botelho, Murillo Carto Quirino, Renata Espíndola Silveira, Fábio César Pires de Carvalho, Paulo Gomes de Brito, Vagner Santos

Resumo


INTRODUÇÃO O Estágio em Odontologia Coletiva da Universidade Federal de Goiás (UFG) é composto por conteúdos referentes às diversas dimensões da relação entre indivíduo e sociedade, contribuindo para a compreensão dos determinantes sociais, culturais, comportamentais, psicológicos, ecológicos, éticos e legais, nos níveis individuais e coletivos do processo saúde-doença. Tem como estratégia de ensino-aprendizagem a vivência e a diversificação dos cenários de práticas, com atuação nos níveis distrital e local do Sistema Único de Saúde (SUS) de Goiânia. O estágio tem como objetivo aproximar o estudante da realidade dos serviços de saúde e das necessidades da população, para o aprofundamento do conhecimento em determinada área e/ou complementá-lo em outros cenários. Os estudantes vivenciam a realidade de uma equipe da Estratégia Saúde da Família (ESF) na periferia de Goiânia com os locais designados pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS) em reuniões de planejamento conjuntas entre as professoras, as dentistas distritais e coordenação municipal de saúde bucal. Os estudantes, através de um roteiro, conheceram a realidade por meio da Técnica da Estimativa Rápida e planejam ações conjuntas com a equipe local, sendo que o Cirurgião-Dentista (CD) da ESF é o preceptor. Esta atividade de preceptoria é considerada pela gerência como uma oportunidade de formação e educação permanente para o CD e para a equipe que integra. Assim, um grupo de estudantes de odontologia, em 2011, orientados por uma professora de odontologia coletiva, um(a) preceptor(a) e uma Equipe de Saúde da Família vivenciaram a ESF e atuaram no Jardim Dom Fernando, o qual tem um histórico de mobilização e luta, e é um local onde ocorrem estágios de vários cursos e instituições. Nesta região através da mobilização social, de líderes comunitários e articulação entre a UFG, Ministério e Secretaria Municipal de Saúde articularam e criaram uma Unidade Escola de Atenção Básica Saúde da Família (UEABSF) Dom Fernando. A partir das vivências e do conhecimento da realidade, verificou-se o desejo e a necessidade da criação de um conselho local de saúde na UEABSF para gerir os recursos destinados aquela unidade e para efetivar o controle social em uma comunidade com o histórico de participação na região. Exemplo disso é o Conselho Local de Saúde (CLS) do Centro de Atendimento Integral à Saúde (CAIS) Amendoeiras que é um dos mais atuantes da cidade de Goiânia, próximo a UEABSF, e o qual recorriam pelo fato de não possuírem um conselho local próprio. OBJETIVO O objetivo deste trabalho é descrever uma vivência, de um grupo de estudantes da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Goiás, junto à formação de um conselho local de saúde, como forma de estimular a participação popular através da parceria ensino, serviços de saúde e comunidade. METODOLOGIA A metodologia utilizada para conhecimento da realidade foi a Técnica da Estimativa Rápida preconizada pela Organização Mundial de Saúde. Desta forma, foi feito um “diagnóstico” (reconhecimento) da realidade por meio da observação, coleta de informações registradas pelas Equipes da UEABSF (como a Fichas A, entre outras), e por entrevistas semi-estruturadas a alguns informantes-chave, indicados pela equipe. Assim com este “diagnóstico” da área de abrangência da ESF e com a participação da equipe foi realizada uma hierarquização dos problemas e potencialidades encontradas, caracterização do grupo populacional priorizado, e estabelecimento dos objetivos. Além de atuar junto à formação do Conselho Local de Saúde, o grupo realizou um levantamento epidemiológico em saúde bucal, atividades educativas junto a uma escola estadual e a grupo de caminhada da unidade. RESULTADOS No “diagnóstico” da realidade local e nas vivências foi constatado, pelos acadêmicos, o desejo da equipe e da comunidade, de constituir e efetivar um CLS. Assim, participaram pela primeira vez de uma reunião do CLS no Centro de Atendimento Integral à Saúde Amendoeiras, na mesma região. Inclusive foi a primeira vez que alguns membros da ESF participaram de alguma reunião do conselho de saúde. Neste todos ficaram impressionados pela atuação, capacidade de mobilização, participação e articulação da comunidade e dos trabalhadores de saúde, inclusive pelas redes sociais. Exemplo da expressiva participação da comunidade neste conselho, é que seu presidente é um representante da comunidade. Sensibilizados, os estudantes se tornaram parceiros para a implantação e mobilização do CLS na UEABSF. Contribuindo na: articulação entre o CLS do CAIS Amendoeiras; no convite à comunidade, que junto com a equipe listaram algumas lideranças comunitárias da área de abrangência da UEABSF, os quais foram feitos convites individuais; e na construção de um folder para o esclarecimento sobre a participação popular e da importância do conselho de saúde. Durante o estágio foi possível estabelecer uma relação de aprendizagem, cooperação e desenvolver as habilidades de comunicação e mobilização, itens fundamentais para atender o processo de formação profissional norteado pelas Diretrizes Curriculares Nacionais. Além de mudar os cenários de práticas, foi possível reduzir a distância entre a teoria e a prática, pois os estudantes puderam relatar, participar das reuniões, e desenvolver habilidades de comunicação, escuta, liderança e negociação, entre outras. Após o término do estágio, as ações para a implantação do CLS continuam. Já houve a votação dos representantes pelos seus pares e o conselho funciona com reuniões mensais e participação ativa dos trabalhadores de saúde e da comunidade da região. Mesmo com inflexibilidade do ensino, e às vezes a falta de interesse dos estudantes para atuar no SUS, além da alta demanda dos serviços, foi possível estabelecer diálogo e uma agenda pautada nas necessidades, sendo assim produtor de sentidos. As professoras da disciplina e a equipe da ESF têm o interesse para a continuidade desta parceria. Para isso, deve-se haver o planejamento e estabelecimento de vínculo entre os atores envolvidos, pois estas ações e redes não são constituídas apenas pelas instituições, mas por pessoas que acreditam no diálogo e na democracia. É um desafio estimular a participação social por se constituir um modelo anti-hegemônico e muitas vezes desacreditado pela sociedade. Pode-se verificar que com esta mudança de enfoque e estabelecimento deste canal de mediação e diálogo, capaz de transformar aos poucos a relação entre ensino, serviço e comunidade. E o reflexo disso no serviço ainda é notório, visto que muitos dos cidadãos usuários do SUS vão mudando sua postura assistencialista, para outra mais colaborativa de construção, interlocução e gestão compartilhada.