Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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CONSIDERAÇÕES ACERCA DA PRÁTICA DE EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE VINCULADA À ECOLA: UM RELATO DE EXPERIENCIA NA COMUNIDADE
Isaunir Verissimo Lopes, Nathan Ferreira Moreira de Lacerda, Luisa Souto Maior, Cecília Braz Garcia, Lauren Louise, Pedro José Cruz

Resumo


INTRODUÇÃO Na conjuntura atual, tem-se requerido a aproximação entre educação e saúde, haja vista que o modelo hospitalocêntrico vigente não tem atendido satisfatoriamente às demandas da sociedade por medidas eficazes de promoção e prevenção da saúde. Surge então a necessidade de empreender práticas alternativas de educação em saúde que, senão sanem por completo a deficiência existente, ao menos sirvam como complemento às práticas tradicionais. O presente trabalho pretende relatar a experiência vivenciada por estudantes do curso de graduação em Medicina da Universidade Federal da Paraíba através de um projeto pedagógico, intitulado Projeto Aprendizes da Saúde, desenvolvido em uma escola estadual da Comunidade Cidade Verde, em João Pessoa-PB. A escola, no contexto em pauta, deve ser entendida como um espaço de relações, um espaço privilegiado para o desenvolvimento crítico e político. Trata-se de um ambiente em potencial para a construção de valores pessoais, crenças, conceitos e maneiras de conhecer o mundo, interferindo diretamente na produção social da saúde. Desse modo, justifica-se a escolha de tal instituição para a realização desta atividade. Focaremos nossa análise nas percepções, angústias, realizações e frustrações vividas durante os encontros com os alunos da escola, abordando inclusive os desdobramentos das ações desenvolvidas no decorrer do semestre. DESENVOLVIMENTO O Projeto Aprendizes da Saúde desenvolve ações educativas junto a estudantes do 6º e 7º anos da Escola Estadual Borges da Fonsêca, situada na Comunidade Cidade Verde, integrante do bairro Mangabeira, em João Pessoa-PB. Dele participam quatro estudantes do 2º período de Medicina da Universidade Federal da Paraíba. A criação e execução desse projeto constituem uma das vias de aprendizagem para alcance dos objetivos presentes na proposta pedagógica da disciplina Atenção Primária em Saúde, vinculada a Unidade de Saúde da Família Cidade Verde. Tais objetivos são: 1) debater e explicar temas recorrentes no dia-a-dia dos alunos, tais como: sexualidade, DSTs, drogas e bullying; 2) incentivar a promoção da saúde no ambiente próprio de aprendizado, dando noções básicas de higienização, alimentação saudável e saúde bucal; 3) explicar a importância da leitura para o bom desenvolvimento da saúde mental. Sob a orientação do professor e nutricionista Pedro José Cruz, as atividades são realizadas quinzenalmente, com uma reunião prévia dos graduandos para elaboração das oficinas e discussão teórica. Nessas reuniões preparatórias são escolhidos os temas a serem abordados com os alunos, o material utilizado e as dinâmicas que serão realizadas. As oficinas são divididas em três momentos: 1) exposição do conteúdo teórico; 2) realização de dinâmicas e outras atividades lúdicas; 3) debate final. As temáticas abordadas são ligadas às experiências de vida desses jovens e ao contexto social em que estão inseridos. Esses conteúdos são valorizados e problematizados, numa tentativa de solidificar um conhecimento que tenha função prática no cotidiano dessas pessoas. Para a exposição teórica fizemos uso, além da nossa retórica, de recursos visuais como exibição de vídeos, apresentação de slides e exposição de álbuns seriados ilustrados. Estas ferramentas adicionais trouxeram dinamicidade a nossa abordagem de modo a facilitar a transmissão e compreensão dos conceitos que estávamos dispostos a compartilhar com os jovens aprendizes. As dinâmicas, por sua vez, tiveram como propósito viabilizar uma maior aproximação e interação com os alunos, além de permitir uma aplicação mais prática dos saberes adquiridos na exposiçao teórica. Apesar de seus benefícios, encontramos algumas barreiras a serem transpostas durante a sua realização, como a timidez de alguns alunos e a imaturidade típica da idade. Por fim, é feita uma roda de conversa com espaço livre para relatos de experiências pessoais, opiniões, sugestões e esclarecimento de dúvidas e questionamentos. Esse diálogo servia como um termômetro tanto para avaliar o aproveitamento da atividade realizada, quanto para construir as novas ideias que norteariam os encontros seguintes. A oportunidade de trabalhar com a comunidade saindo dos limites do lar, característico das visitas domiciliares e partindo para um espaço mais coletivo, onde várias pessoas com histórias de vida diferentes se reúnem, nos proporcionou uma perspectiva diferenciada e mais ampla do contexto sociocultural em questão. Isso nos capacitou com instrumentos mais eficazes para trazer melhorias ao processo saúde-doença. A realização do projeto significou não o despejo técnico e mecanicista de informações, mas uma concreta troca de experiências pela qual os seus idealizadores tornaram-se mais sensíveis aos problemas e necessidades alheios. Apesar de assim entitulados pelos alunos, antes que professores, fomos facilitadores de um intercâmbio de conhecimentos que beneficiou ambos os lados. Foi engrandecedor perceber que, apesar de nossa incipiente formação acadêmica, conseguimos despertar o interesse e curiosidade dos adolescentes para assuntos relevantes do seu cotidiano, informando-os sobre formas de prevenção da saúde que de fato foram incorporadas por eles, ajudando, assim, a promover seu bem estar. Apesar dos entraves que surgiram, como a incompatibilidade de horários entre a escola e os estudantes de Medicina, nenhum obstáculo foi maior que o anseio de fomentar uma consciência crítica e cidadã nessa geração pela preservação de sua saúde em todos os aspectos. CONCLUSÃO De modo geral, podemos inferir que esta experiência nos permitiu refletir e compreender um conceito de saúde mais amplo e humano, livre das amarras pragmtáticas da visão biomédica centralizada no combate técnico à doenças. Concretizamos com empenho uma prática de educação em saúde que visava potencializar os princípios e objetivos da atenção primária à saúde. A vivência com os jovens da Escola Borges da Fonseca evidencia a necessidade de uma educação firmada em bases engajadas e comprometidas com a sociedade, considerando as deficiências de formação de cidadãos por parte tanto da escola como da família. No decorrer do Projeto foi possível perceber uma mudança positiva na postura dos alunos quanto a aceitação e compreensão dos temas abordados. A cada encontro eles se mostravam mais empenhados em desfrutar da experiência e levar o conhecimento adquirido para aplicação em sua rotina com a família e amigos. Não eram raras as vezes em que os estudantes compartilhavam suas vivências pessoais enriquecendo o debate do dia. Desse modo, aprendemos que a Escola deve ser entendida como um espaço de relações, um espaço privilegiado para o desenvolvimento crítico e político. Trata-se de um ambiente em potencial para a construção de valores pessoais, crenças, conceitos e maneiras de conhecer o mundo, interferindo diretamente na produção social da saúde.