Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


Tamanho da fonte: 
ESTUDO EM LITERATURA CINZA SOBRE CO-GESTÃO DE COLETIVOS ATRAVÉS DO MÉTODO DA RODA EM SOBRAL-CE
Herminia Maria Ponte, Herminia Maria Sousa da Ponte, Lucia Conde Oliveira

Resumo


“Um Método para Análise e Co-Gestão de Coletivos” publicada em 2000, por Gastão Wagner de Sousa Campos é o pano de fundo que embasa esta pesquisa, principalmente no município de Sobral-CE, que adotou esse dispositivo para organização do sistema de saúde. O Método de Co-gestão de Coletivos é dispositivo de gestão democrática, que privilegia as pessoas, o sujeito, e por isso aplica-se em equipes ou a coletivos de qualquer setor, tendo um dos maiores destaque no setor saúde, por todo uma construção social da saúde pautados nos princípios da democracia participativa, impressos na constituição federal. Em 2001, a Secretaria de Desenvolvimento Social e da Saúde de Sobral-CE implantou o Método da Roda no gerenciamento e gestão da rede pública, principalmente na Estratégia em Saúde da Família. Com experiência encampada há mais de 10 anos, o presente estudo tem como objetivo analisar as publicações científicas em literaturas cinzas relacionadas ao Método da Roda/Co-gestão de coletivos no município de Sobral-CE. Na perspectiva de conhecer o processo histórico de implantação desse dispositivo de gestão junto aos trabalhadores da saúde, sua estruturação política e organização, como parte integrante da fase exploratória da dissertação do mestrado acadêmico em saúde pública da Universidade Estadual do Ceará. Pesquisa de cunho bibliográfica, de natureza descritiva, com abordagens qualitativas em literaturas cinza. Segundo Gil (2002) a pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em materiais já elaborado constituído principalmente de livros e arquivos, sendo indispensável em estudos históricos. Portanto, no referido estudo optou-se por realizá-la em monografias e trabalhos de conclusão de cursos arquivados nas bibliotecas das instituições de ensino superior de Sobral-CE, denominadas de literatura cinza. Miguel Laufer (2007) esclarece que a denominação de literatura cinza se inclui teses e trabalhos de pesquisa em todos os níveis da educação superior, informes técnicos ou institucionais e publicações periódicas locais ou de pobre ou nula distribuição. Tradicionalmente o conceito de literatura cinza se contrapõe ao das publicações, embora com hoje em dia, com a difusão geral e disponibilidade dos meios eletrônicos, o panorama é objeto de importantes mudanças. As consultas cobriram os trabalhos publicados no período de 2001 a dezembro de 2010. As primeiras buscas foram em acervos da Biblioteca Central e Biblioteca do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) e Biblioteca Davi Capsitrano da Escola de Formação em Saúde da Família Visconde de Sabóia. Adotamos como critério de pesquisa as produções que continham os seguintes descritores: Co-gestão em Saúde, Método da Roda, Método Paidéia e Co-gestão de Coletivos em Saúde. Foram identificados dois estudos sobre o Método da Roda, o primeiro por Andréia Silveira de Assis (2004), monografia de pós-graduação em Gestão em Serviços de Saúde, intitulada “Um novo agir em gestão de saúde pública: a implantação do método de co-gestão de coletivos na secretaria de desenvolvimento social e saúde de sobral”. e o mais recente o trabalho de graduação do curso de Enfermagem de Nayana Rocha Soares (2009), “Análise do Método da Roda como um instrumento de Co-Gestão na Estratégia Saúde da Família do Município de Sobral, CE”. Em Janeiro de 2001, o Secretário de Saúde de Sobral ao conhecer a experiência resolveu implantá-la. Para envolver todos os trabalhadores na proposta do Método da Roda, foi realizado o “I Encontro das Rodas” que ocorreu em 11 de Agosto de 2001 com a participação de 587 trabalhadores (ASSIS, 2004). Durante o trabalho de diagnóstico, identificaram inexistência da figura de um gerente. Concluíram que geralmente a enfermeira da unidade era responsável pelos trâmites administrativos da unidade frente à secretaria. Em Maio de 2001 aconteceu o processo de eleição para esse cargo em todas as unidades de saúde. As Rodas dos Centros de Saúde da Família (CSFs) acontecem quinzenalmente às quintas-feiras à tarde num horário que varia entre 13: 30hs às 17: 00hs, composta por todos os profissionais do CSF, ou seja, varia ente 15 a 60 participantes. O local foi apresentado como insuficiente, pelos CSF terem salas pequena, para o quantitativo de profissionais que participam das Rodas, como os do Núcleo de Apoio a Saúde da Família (NASF) e os Residentes em multiprofissional em saúde da família. A autora segue seu descrito demarcando quatro momentos específicos nas Rodas dos CSF. O Primeiro momento ocorre a “dinâmica e/ou reflexão”, o segundo “informes”, em seguida “pauta da roda” e por ultimo “lanche e distração, é importante frisar que esse método não é uniforme em todos os CSF, mas de uma maioria. Quando os profissionais foram abordados nas sugestões para melhorar as Rodas, propuseram metodologias que envolvam ativamente os participantes como dinâmicas, mais mometos pedagógicos Soares (2009) ao discutir a percepção dos profissionais da saúde acerca da Roda infere que a maioria dos profissionais definiu esse momento como de discussão de problemas que acontecem no dia-a-dia da Unidade, e de propor ações que busquem melhorar a assistência à saúde, no entanto um único representante caracterizou o papel de planejamento/avaliação da roda. Nas bibliográficas pesquisadas, não há negação da importância e da contribuição das Rodas para os trabalhadores da saúde. No entanto contatou-se um hiato da proposta filosófica e conceitual do Método da Roda com o atual cenário descritos nos estudos. Entre os principais desafios versam sobre o desconhecimento conceitual e metodológico do Método da Roda, onde percebe que os componentes foram distribuídos em quatro momentos (dinâmica e/ou reflexão”,“informes”, “pauta da roda” e “lanche e distração), distante da concepção que eles são político, pedagógico, gerencial e terapêutico, de forma interdependente. Incipiência na participação da comunidade foi uma fragilidade referenciada pelos os trabalhadores. A desmotivação profissional em participar das Rodas, a conversas paralelas, e infra-estrutura inadequada, tem proporcionado a dispersão e a desvalorização desse espaço pelos trabalhadores. Sentiu-se necessidades novas avaliações sobre o funcionamento das Rodas, e resgatar o papel político, pedagógico e terapêutico das Rodas, para além de um momento instituído com espaço e dia, mas que a co-gestão seja parte do cotidiano da equipe. O que nos dá a entender que o método da roda deixou de ser um dispositivo de co-gestão de coletivo para torna-se um espaço instituído formal, não muito diferente a qualquer outro espaço administrativo.