Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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O Cinema Cubano pós-revolução: Disputas na construção de uma identidade nacional
Mariana Siracusa Nascimento

Resumo


A Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio é uma unidade técnico- científica da Fundação Oswaldo Cruz, que atua na formação de técnicos de nível médio em saúde, articulando com o desenvolvimento de pesquisas na área de educação profissional em saúde. Tem como eixo a perspectiva da educação politécnica. A educação politécnica propõe uma formação humana para a classe trabalhadora que supere ou que se contraponha a uma educação unilateral, marcada pela divisão social do trabalho, em que o trabalhador não compreende a totalidade das relações sociais e da produção da vida material que está inserido (RODRIGUES, 2008) O trabalho, em seu sentido ontológico, assume posição de centralidade na concepção politécnica de educação por ser a condição natural da vida humana, na qual o homem transforma sua relação com a natureza e com os outros homens. Se é o trabalho que constitui a realidade humana, e se a formação do homem está centrada no trabalho- isto é, no processo pelo qual o homem produz a sua existência-, é também o trabalho que define a existência histórica dos homens. Através desta atividade, o homem vai produzindo as condições de sua existência, transformando a natureza e criando, portanto, a cultura e um mundo humano. (SAVIANI, p.133, 2003) Pensar numa formação humana que contribua para a construção de outra sociedade, com outras relações sociais de produção, é pensar numa formação em todas as dimensões do homem, sejam elas técnicas ou intelectuais, superando, assim, a dualidade determinada histórica e socialmente entre o trabalho manual e intelectual, que é historicamente determinada pelo modo de produção capitalista. A Escola Politécnica tem como eixos norteadores além do Trabalho como princípio educativo; a Ciência, como conhecimento que se produz na humanidade e a Cultura, como dimensão simbólica da vida social. Esses eixos se articulam, possibilitando uma compreensão crítica da realidade que parte do entendimento do processo de trabalho no capitalismo. Marise Ramos (2004) ratifica como a Cultura deve ser entendida numa educação politécnica com a formação integrada. Dessa forma, [...] a cultura deve ser compreendida no seu sentido mais ampliado possível, ou seja, como a articulação entre o conjunto de representações e comportamentos e o processo dinâmico de socialização, constituindo o modo de vida de uma população determinada. Portanto, cultura é o processo de produção de símbolos, de representações, de significado e, ao mesmo tempo, prática constituinte e constituída do/ pelo tecido social.(RAMOS, p.45, 2004) É a partir desses pilares que o NUTED se configura como espaço de produção e reflexão imagética, da crítica da cultura e da imagem hegemônica, naturalizada e fragmentada, cumprindo esse papel dentro da Escola Politécnica. Embora a produção de imagens no mundo contemporâneo esteja se tornando algo absolutamente corriqueiro, não é tão abrangente a prática da reflexão e interpretação imagética fora de seus circuitos específicos. Com o objetivo de aproximar essa discussão da crítica da produção de imagens no mundo contemporâneo, o NUTED desenvolveu a disciplina de audiovisual para os estudantes da Escola Politécnica, na modalidade de Educação Artística. O curso se propõe a realizar uma leitura crítica da sociedade do espetáculo, incidindo sobre o processo de formação humana e possibilitando um ambiente de criação e liberdade. O aprendizado da linguagem audiovisual pressupõe a técnica de produção, sim como a compreensão do papel que a imagem tem nessa sociedade, não separando teoria da prática, nem forma e conteúdo. Dentro do programa do curso, há um módulo que discute o cinema mundial, dando destaque para as produções fora das grandes indústrias cinematográficas como os Estados Unidos, por exemplo. Nessa parte, se encontra o cinema latino-americano, e em especial o cinema cubano, que é o objeto de pesquisa. Uma discussão que marca o cinema cubano pós-revolução é dicotomia entre arte engajada ou a “arte pela arte”, que pode ser entendida como cultura proletária e cultura burguesa. A importância da política cultural para o processo revolucionário é sentida com a criação do Instituto Cubano del Arte e Industria Cinematográficos ( Icaic) em 1959, já que o governo via na política cultural uma forma propaganda e memória do governo. Existia, contudo, uma divergência entre aquilo que o governo pretendia com a política cultura e os projetos individuais dos cineastas, entendendo política cultural como: Mobilização da cultura levada a cabo por diferentes tipos de agentes – o Estado, os movimentos sociais, as industriais culturais, instituições tais como museus, organizações turísticas, associações de artistas e outras mais- com finalidade de transformação estética, organizacional, política, econômica e/ou social. (VILLAÇA, 2010, p.22) Nos primeiros anos após a revolução, as dificuldades econômicas e o pouco avanço das lutas e mobilizações na América Latina, levaram ao país a se aproximar cada vez mais da União soviética, num relação, inevitavelmente, de dependência nesse momento. O intercâmbio não ficou restrito ao campo econômico. No campo cultural, a imposição estética do governo do realismo soviético se fez presente como forma revolucionária e engajada da arte. Em meados da década de 60 e início da década de 70, no contexto da Guerra Fria, Cuba desponta como ponto de resistência e apoio as guerrilhas da América Latina, tendo implicações não só políticas, mas culturais, gerando uma nova maneira de se pensar os problemas do continente. A partir disso, a busca pela construção da identidade ganha novos contornos com a aproximação de países que passam pelas mesmas mazelas e que se opõem, cada vez mais, a qualquer tipo de dominação ou imposição seja econômica, política, social ou cultural. Já no fim dos anos 50, em vários países da América Latina, a recusa do cinema ‘comercial’ e custoso, a valorização da perspectiva autoral, a denúncia do monopólio das grandes empresas cinematográficas e distribuidoras, a busca dos temas nacionais, regionais, autênticos e politicamente eficazes, bem como o desenvolvimento de uma estética própria conformavam a pauta de preocupações dos cineastas que pretendiam se diferenciar do cinema ou do norte-americano, apregoando um nuevo cine latino-americano.( VILLAÇA, 2010, p.166) A discussão sobre o cinema cubano na disciplina de audiovisual se faz fundamental, já que através dela podemos conhecer um pouco mais sobre a história da América Latino e as especificidades das produções brasileiras nesse período, além da compreensão da importância assumida pelo cinema e das demais formas artísticas no processo revolucionário e na construção da identidade latino-americana. Referência VILLAÇA, Mariana M. Cinema Cubano: revolução e política cultural. São Paulo: Alameda Casa Editorial,2010