Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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O ENCONTRO REGIONAL NORDESTE DA REDE UNIDA DE FORTALEZA-CE EM 2011: A PRODUÇÃO DE TEIAS DE PARTICIPAÇÃO EM MOVIMENTO
Tiago José Silveira Teófilo, Ivana Cristina de Holanda Barreto, Vera Lúcia de Azevedo Dantas, Ana Ester Maria Melo Moreira, Núbia Dias Costa Caetano, Maria Rocineide Ferreira da Silva, Elias José da Silva

Resumo


Desde 1986 a Rede Unida vem produzindo encontros com intuito de proporcionar espaços plurais de diálogos, comunicação e suas potenciais extensões, entre diversificadas experiências de articulação ensino, serviço e comunidade. Em 2010, realizou seu 9º Congresso Internacional em Porto Alegre-RS, que mobilizou atores do Brasil e da América Latina utilizando as concepções pedagógicas da educação popular com a inclusão de metodologias problematizadoras, criativas e participativas de forma inovadora. O Congresso promoveu o diálogo entre espaços acadêmicos e movimentos sociais, apontando para novas formas de produção de conhecimento. No intuito de fortalecer o movimento da Rede Unida no âmbito das diversas regiões do Brasil, foram articulados encontros regionais tendo como referência o fomento às articulações nos territórios lóco-regionais de todo o Brasil para a construção do 10º Congresso Internacional na perspectiva de envolver atores dos serviços, da gestão, das instituições e dos movimentos sociais e de educação popular. Este percurso privilegiou a singularidade das experiências de cada região do Brasil. O eixo participação na saúde foi destinado ao Nordeste, tendo o Ceará como sede do encontro, pois se via neste cenário um acúmulo importante de articulação entre a educação popular, os movimentos sociais e os serviços de saúde. A comissão local de organização do Encontro Regional Nordeste foi constituída de forma plural por atores populares, trabalhadores, gestores, estudantes e professores e envolveu instituições governamentais como as secretarias municipal e estadual de saúde, instituições formadoras como a Universidade Federal do Ceará e Universidade Estadual do Ceará e os movimentos sociais vinculados a Articulação Nacional de Movimentos e Práticas de Educação Popular e Saúde. A partir desta articulação, o conjunto dos atores construiu estratégias de mobilização e sensibilização com a pretensão de produzir coletivamente a programação, o desenho metodológico do encontro e as diversas estratégias de comunicação e divulgação, considerando a necessidade de envolver não apenas o Estado do Ceará, mas fortalecer o conjunto de experiências no Nordeste. Dessa forma, foram realizados encontros presenciais, reuniões virtuais, entre outras estratégias, por meio das quais foi possível mapear atores desses vários espaços em cada estado, buscando descentralizar e ampliar a mobilização na região Nordeste. Para isso, foram articulados inicialmente os atores políticos que atuam na Rede Unida e nos coletivos de Educação Popular em Saúde que se constituíram referência para o processo em seus estados. O encontro ocorreu na Escola de Saúde Pública do Ceará em setembro de 2011 em Fortaleza-CE tendo como tema central: Desafios da Participação na Saúde: construindo teias com protagonismo popular, o qual foi subdividido em três trilhas com intuito de problematizar a temática participação em suas interfaces com a atenção, a formação, a gestão e o controle social nos diversos contextos do Sistema Único de Saúde. Na perspectiva de dar visibilidade às potencialidades locais, o Encontro foi realizado acolhendo o I Encontro Metropolitano de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde e o I Encontro Metropolitano de Educação Popular em Saúde de Fortaleza em parceria com a Comunidade em Movimento da Grande Fortaleza. Neste contexto, a Educação Popular constituiu-se como principal âncora do Encontro cujo percurso metodológico contou com vivências de cuidado popular, práticas com diversas linguagens artísticas, feiras de economia solidária, rodas de diálogo, audiência pública e os círculos de cultura, os quais funcionaram como base de todos os processos de discussão temática. Concebidos e sistematizados por Paulo Freire, os círculos de cultura caracterizam-se como lócus privilegiado de comunicação-discussão embasadas no diálogo firmado a partir da fala e da escuta. A fala fundamentada nas experiências refletidas dos sujeitos e na produção teórica da educação, a escuta, orientada pela vontade das pessoas de apreender a fala do outro e da outra problematizando-a e problematizando-se e, dessa forma, possibilitando a tomada de consciência dos participantes do encontro através do diálogo; desvelando a realidade e mostrando as suas interligações culturais, sociais e político-econômicas, resultantes de uma aproximação crítica dessa realidade. A dialogicidade propiciada pelo círculo revelou-se um espaço onde as contradições e os conflitos puderam ser explicitados de forma amorosa, criativa e participativa, contribuindo para a conscientização dos seus partícipes sobre a necessidade de atuar na construção de estratégias de superação das situações limites, apontadas em cada contexto temático. Foram realizados quatorze círculos de cultura que problematizaram, em grupos menores, questões vinculadas a situações vividas no cotidiano e inseridas nas três trilhas temáticas. Tais trilhas foram precedidas por duas rodas de conversa e uma audiência pública com o conjunto dos todos os atores do Encontro. No momento inicial dos círculos foi trabalhado o que Freire denominou de investigação do universo vocabular, ou seja, partindo da fala provocativa de alguns convidados, os participantes expressaram através de palavras geradoras, aspectos significativos para cada um em relação ao tema, que constituíram a unidade básica de orientação dos debates. Esse mergulho inicial fez emergir um conhecimento ampliado sobre a questão que se traduziu na definição de temas geradores. Considerando o pouco tempo disponível para o desenvolvimento dos círculos de cultura e o contexto no qual eles se inseriram na perspectiva de levantar questões problematizadoras para o contexto do 10º Congresso Internacional, o terceiro momento possibilitou a problematização da temática no que diz respeito aos aspectos mais relevantes para discussão no referido evento. Outra produção relevante foram as sínteses criativas que, junto à sistematização formal, revelaram a riqueza das linguagens da arte como o teatro, a música, a cenopoesia, o cordel, entre outras, como formas de expressar leituras críticas, mas também propositivas, da realidade. Essa forma de síntese buscou indicar ações de transformação do contexto vivido ao mesmo tempo em que explicitou as contradições, tendo na relação ação-reflexão-ação transformadora um caminho. Desta forma, os círculos de cultura marcaram o Encontro na perspectiva de ampliar a participação popular uma vez que os atores populares puderam atuar como protagonistas desta construção, tensionando os modelos tradicionais de eventos acadêmicos e permitindo encontros férteis entre o saber popular e o saber científico, nos quais o sujeito práxico se transforma na ação de problematizar em um processo no qual o diálogo se constituiu como elemento chave possibilitando a educadores e educandos se constituírem sujeitos ativos de todo o processo.