Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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PARTICIPAÇÃO, SAÚDE E ENVELHECIMENTO: HISTÓRIAS DE PARTICIPANTES DO CONSELHO MUNICIPAL DE SAÚDE DE PORTO ALEGRE
Barbara Andres, Eliane Morais

Resumo


INTRODUÇÃO: O envelhecimento da população é um fenômeno mundial expressivo, a faixa etária acima dos 60 anos está crescendo mais rapidamente que qualquer outra, e põe em questão alguns conceitos, como a própria denominação de idoso. Ainda hoje, a ideia sobre ser idoso está relacionada a questões biológicas, como a perda das capacidades físicas e deterioração do corpo físico, além do surgimento de novas fragilidades psicológicas e comportamentais. Em contrapartida, com o aumento da expectativa de vida nos últimos anos, os idosos precisaram assumir diferentes papéis na sociedade, rompendo com a imagem de fragilidade e incapacidade e se mostrando como cidadãos ativos e participantes. Nesse sentido, surge o conceito de envelhecimento ativo, onde termo “ativo” diz respeito à participação nas questões sociais, para além da capacidade estritamente física, dessa forma, uma meta para se alcançar o envelhecimento ativo é a busca da manutenção da autonomia e independência do idoso. Envelhecendo ativamente, os idosos passam a ocupar espaços aos quais antes não tinham acesso, como os espaços de participação social, onde podem atuar de forma que a promoção da saúde resulte no favorecimento do contato social, o desenvolvimento de habilidades, o sentimento de pertencimento à sociedade, dentre outros benefícios. Acredita-se que a participação social pelos idosos além de atuar como protetor de sua saúde, proporciona novas relações e faz com que os idosos lutem pela garantia de seus direitos. Com a criação do SUS, a saúde passou a ser tratada como questão de cidadania e a participação em espaços políticos, condição de seu exercício. A realização desse estudo se justifica através da hipótese de que atualmente os idosos estão envelhecendo mais ativamente e, assim, assumindo diferentes espaços de participação na sociedade. Convém salientar que no Brasil ainda não existem publicações de estudos acerca das temáticas de envelhecimento e participação social. OBJETIVOS: Analisar a experiência de participação social dos idosos e a influência no processo de envelhecimento e na saúde; descrever a trajetória de participação social dos idosos e conhecer as motivações que os levaram à participação no Conselho Municipal de Saúde (CMS). TRAJETÓRIA METODOLÓGICA: Este estudo foi desenvolvido por meio de uma abordagem qualitativa, com caráter descritivo e exploratório. A coleta das informações se deu por meio de entrevistas temáticas seguindo o método da história de vida. Os sujeitos foram 9 participantes do CMS de Porto Alegre com idade igual ou superior a 60 anos. A escolha dos sujeitos foi intencional e as entrevistas foram realizadas até atingir-se o ponto de saturação teórica, ou seja, no momento em que as informações começaram a se repetir. Para a análise das informações está sendo utilizada a Análise de Conteúdo. RESULTADOS PARCIAIS: Os nove idosos participantes do estudo tinham entre 60 e 79 anos, sendo cinco do sexo masculino e quatro do sexo feminino. Com base em análise preliminar das informações, pode-se observar que, mesmo se tratando de trajetórias distintas e, assim, heterogêneas, elas convergem no ponto em que a participação não se trata de atividades isoladas, mas de continuidade. O histórico de participação em diferentes espaços fez com que os idosos se tornassem reconhecidos como lideranças em suas comunidades. Dessa forma, na maior parte das histórias relatadas, o ingresso no CMS se deu a partir de convite de profissionais da saúde ou outras pessoas que acreditavam no potencial de participação desses idosos. Dentre as motivações que levam esses idosos a participar, foi possível identificar a necessidade de criação vínculo com o serviço, a luta por melhores condições de saúde para sua família e para ajudar a sua comunidade. Alguns idosos ainda apontaram que o início da participação se deu no momento da perda do cônjuge. Assim, a participação atua na vida desses idosos como fuga da solidão existente após a viuvez. A religiosidade apareceu também como propulsora do ímpeto de participar, muitos idosos possuem históricos de participação em espaços religiosos e os ensinamentos de caridade e solidariedade os motivaram para, como muitos apontaram, cumprir com o dever de auxiliar o próximo. Ainda, a influência familiar foi apontada pelos idosos como fator importante no incentivo para participar. Muitos deles relataram que seus familiares, apesar de não terem ocupado espaços formais de participação, exerciam algum tipo de ajuda à comunidade e, assim, acreditam que esses valores foram herdados e, assim, representam uma motivação a continuar participando. Em relação à aposentadoria e envelhecimento, mesmo tendo experiência prévia de participação social, os idosos passaram a participar mais ativamente após a aposentadoria, como forma de ocupar o tempo ocioso, fugir da solidão e se reintegrar à comunidade. Os idosos apontam o envelhecimento como, por um lado, positivo por trazer mais maturidade e experiência para lidar com os debates políticos mas, por outro, negativo no que tange as questões biológicas, visto que dificulta o acesso às reuniões, a ouvir os colegas e a escrever relatórios. Ainda, em geral, consideram sua saúde melhor que a de muitos idosos que não realizam nenhuma atividade de participação, corroborando a tese de que a participação atua como promotor da saúde. Quando questionados sobre planos futuros de participação, alguns idosos apontaram que a idade avançada não os permite planejar um futuro tão distante, mas, de qualquer foram, todos apontaram o desejo de seguir com suas atividades de participação durante o tempo que for possível, reiterando que a participação é um ato voluntário e prazeroso, não uma obrigação. CONCLUSÃO: A partir da análise preliminar de resultados, pode-se concluir que os idosos que estão ocupando espaços de participação social têm um histórico prévio de engajamento social e que, dessa forma, consideram que estão envelhecendo com mais qualidade de vida. Espera-se incentivar a participação de idosos nos espaços do SUS, incentivando sua participação na luta pelos seus direitos.