Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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Pintando o setting: Oficina Terapêutica do “Jardim Suspenso do Amor e da União” como dispositivo de inclusão de singularidades
Raphael Maciel da Silva Caballero, Gabrieli Machado

Resumo


IntroduçãoA partir do novo paradigma de atenção à saúde proposta pelas Reformas Sanitária e Psiquiátrica delinearam-se concepções e práticas de saúde que investem em políticas de atenção mais complexas, pautadas no respeito e na subjetividade dos sujeitos envolvidos. O novo modelo assistencial em saúde mental resultou em incentivos para o uso de recursos extra hospitalares, articulando com uma significativa expansão das redes de serviços comunitários de saúde mental. Sob este novo olhar surge os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) como serviços substitutivos ao modelo hospitalocêntrico. Os CAPS são serviços de atendimento diário, de caráter substitutivo ao hospital psiquiátrico. Devem atender pessoas com transtornos mentais severos e persistentes, dentro de sua territorialidade. Estes serviços são regulamentados pela portaria ministerial GM nº 336, de 19 de fevereiro de 2002.Nos CAPS trabalham equipes multiprofissionais que desenvolvem atividades diversificadas como atendimentos individuais e/ou em grupo, acompanhamento em atividades externas, atendimento as famílias dos usuários, oficinas terapêuticas e de criação, atividades físicas, atividades lúdicas, além da assistência medicamentosa, que antes era considerada a principal forma de tratamento. Nos CAPS trabalham equipes multiprofissionais que desenvolvem diversos tipos de atividades terapêuticas, compreendendo assim uma série de atividades e dinâmicas diversificadas. Como exemplos destas atividades estão: oficinas terapêuticas, atividades comunitárias, domiciliar e aos familiares dos usuários, psicoterapia individual ou em grupo, dentre outras. As atividades terapêuticas devem possibilitar espaços de produção de subjetividades, onde haja diálogo, interações, reciprocidade e construção de vínculos. Uma das principais ferramentas no campo da reabilitação psicossocial são as oficinas terapêuticas, sendo espaços que estimulam a capacidade de produção, de convivência e interação grupal, visando resgatar a cidadania da pessoa com sofrimento psíquico através da atividade criativa. O termo “oficina” é empregado para designar atividades desenvolvidas nos espaços substitutivos de cuidados em Saúde Mental, segundo o Ministério da Saúde, Portaria 189 de novembro de 1991 as oficinas se caracterizam “atividades grupais de socialização, expressão e inserção social”.ObjetivoA arte mostra-se como uma ferramenta importante e potencializadora de trocas em saúde mental. Sendo o setting a configuração de um local em que ocorrem interações entre o usuário e o terapeuta, entendemos que o espaço da oficina facilitou a expressão dos sujeitos, desenvolvendo a criatividade e possibilitando a promoção em saúde como forma de terapia, valendo-se de expressões de sentimentos e pensamentos através de outro mecanismo de comunicação. A arte.Apresentar uma discussão sobre o tema, a partir do projeto elaborado por meio da clínica de oficina terapêutica denominada: “Jardim Suspenso do Amor e da União”. MétodoO processo da elaboração da atividade se deu a partir da integração e vinculação do grupo de residentes em saúde com os usuários do serviço. Ocorreram etapas para o desenvolvimento do projeto como: Fase de PlanejamentoA fase de planejamento consistiu na discussão das possibilidades de atividades a serem desenvolvidas ao longo da oficina sugeridas pelos residentes em saúde com os usuários. A fase de planejamento do projeto iniciou com a chegada dos residentes em saúde em maio/2011, que incidiu na realização da oficina terapêutica.Fase de ImplementaçãoNa fase de implementação, que compreendeu os meses de maio, junho, julho, agosto, setembro e outubro foram realizados encontros semanais, de aproximadamente, cento e vinte minutos. Depois de certo tempo de andamento da oficina, esta foi nomeada pelo grupo de “Jardim Suspenso do Amor e da União”. O trabalho terapêutico foi ali desenvolvido com base nos interesses e nas demandas dos usuários onde eram compartilhadas experiências com o grupo da oficina durante os encontros.De forma sucinta pode-se descrever que durantes esses meses ocorreram tais etapas: utilização de garrafas PET para a construção dos vasos de flores e ervas recorte do material plástico de forma a incentivar a criatividade, visita a floriculturas, pinturas nos vasos, preparação do solo e parede na qual seria suspenso o jardim, escolha do nome da oficina, plantio das flores, ervas, dentre outros, expressão de arte na parede, promoção do cuidado e responsabilização pelo local.ResultadosCom o desenvolvimento da oficina “Jardim Suspenso do Amor e da União” pode-se reafirmar a relevância da (re) socialização do indivíduo a partir do trabalho em grupo, sendo a oficina um espaço em que o indivíduo redescobre a sua capacidade produtiva e criativa, através da expressividade. Ainda como relevância da atividade foi observada a possibilidade da expressão de sentimentos e vivências, o favorecimento da comunicação e interação entre os membros do grupo. A partir disso, tínhamos como objetivos da oficina a integração e a socialização dos usuários, o fortalecimento da autoestima e da autoconfiança contribuindo para o desenvolvimento da autonomia do sujeito enquanto protagonista de sua história. Em atividades como esta, ressaltamos que a pessoa pode ser ela mesma, implicando o criar e o recriar constante. Tendo a oportunidade de expressar seus sentimentos sem julgamento, estabelecendo relações, trocando experiências no coletivo e compartilhando emoções com o grupo.ConclusãoAs oficinas terapêuticas são espaços de construção de saberes mútuos, onde todos aprendem e ensinam. Representam uma ferramenta importante de ressocialização, descentralizando o foco do tratamento na doença e fazendo um resgate de promoção à vida, passando a exercer um papel fundamental no projeto terapêutico promovendo o exercício da cidadania, a expressão de liberdade e a convivência dos diferentes, respeitando assim a singularidade dos sujeitos em que experiências e conceitos podem ser (res) significados, (re) inventados e (re) vivenciados.Palavras-chave: Experimentações artísticas; Inserção social; Oficina Terapêutica; Produção de subjetividades; Saúde Mental; Serviços Comunitários de Saúde Mental