Tamanho da fonte: 

Com as mudanças políticas, após as eleições de 2008, e diante de um quadro, visivelmente problemático, da saúde no município, surge o Núcleo de Cultura, Ciência e Saúde na nova Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil, buscando rompimento de velhos paradigmas, alinhando Ciência, Arte e Cultura à proposta educativa em suas dimensões política, técnica e metodológica. Pensando na participação e na construção coletiva do conhecimento científico e suas implicações na saúde pública carioca, foram criados espaços de convivência: as Escolas Populares de Saúde e os Territórios de Cidadania, objetivando reflexão sobre a realidade da população e o meio de transformá-la. Surgem, então, os Agentes Culturais de Saúde, elo entre o poder público, lideranças locais, parceiros externos e a população em geral. Após os primeiros passos, Vitor Pordeus, Coordenador do NCC, médico, imunologista e ator, idealizou sua primeira proposta de trabalho, Celebração da Saúde e da Cidadania, grande manifestação cultural, espetáculo realizado em espaços públicos, com apresentação de atores da cultura local em uma feira de saúde, tendo como parceiros outros setores da Prefeitura e instituições externas. Assim nasceu o NCC, iniciando um trabalho que se propõem a mudanças, tendo como proposta de trabalho, a construção compartilhada do conhecimento, embasando-se nos pressupostos da Educação Popular em Saúde, incitando o entendimento e a possibilidade de transformar a realidade, tendo o teatro, a cultura popular, a articulação e as parcerias como pontos básicos para promover saúde e cidadania. As ações e projetos do NCC sensibilizaram gestores estratégicos, nas instâncias governamentais e na iniciativa privada, na perspectiva de repensar o atual modelo de atenção à saúde da população, um novo sistema de saúde no qual o Agente Cultural de Saúde é criador e recriador da realidade, que dialoga com os cidadãos e avança o inédito possível pela saúde pública. Embasando a proposta do NCC: Método Amir Haddad de teatro para espaços abertos, ação cultural para a liberdade, inspirada em Bertolt Brecht e no Carnaval, onde o povo é o protagonista; Nelson Vaz, cientista e imunologista, que desenvolveu uma original e revolucionária interpretação dos fenômenos imuno-biológicos, baseado no trabalho de Humberto Maturana; Drª Nise da Silveira que dedicou sua vida à psiquiatria e manisfestou-se radicalmente contra as formas agressivas de tratamento de sua época, usando terapia ocupacional, em ateliês de pintura e modelagem, reatando os laços dos pacientes com a realidade, utilizando a expressão simbólica, a criatividade e a influência positiva dos animais na recuperação dos pacientes e Paulo Freire, educador popular e filósofo brasileiro, defendendo o diálogo entre os envolvidos no processo de aprendizagem. Embasados nas ações desses mestres, atuam os Agentes Culturais com compromisso de desenvolver melhor gestão de saúde pública, mais participativa, mostrando que a população pode ter saúde, através do conhecimento, da arte e da cidadania. A experiência nos territórios possibilitou a formação de espaços de convivência em várias comunidades do município para reflexão sobre a realidade da população local e a forma de transformá-la para melhor, denominados Escolas Populares de Saúde: EPS do Morro do Urubu com Oficina sobre Meio Ambiente estimulando o reflorestamento da área e a criação de hortas; Oficina “Cine-Debate” com exibição de vídeos a fim de estimular o debate sobre as mais variadas questões e Oficina de Sabão, utilizando como matéria-prima, óleo de cozinha usado, cujos produtos são vendidos ou utilizados para consumo próprio. EPS do Complexo do Alemão, o NCC inaugurou a Biblioteca Cantinho Paulo Freire, com livre acesso da população local; prática de atividade física, direcionada por uma Agente Comunitária, projeto denominado “De bem com a vida”. EPS de Vila Cruzeiro promove reunião, com lideranças locais para planejar ações futuras. EPS de Nova Brasília atua no projeto de alfabetização de adultos da comunidade. EPS da Fazenda Modelo, desenvolvendo projetos com Plantas Fitoterápicas e Reflorestamento. EPS do Morro Azul trabalha na implantação de Horta Medicinal incentivando o consumo de fitoterápicos e seus derivados. EPS de Palmares e Manguariba, espaço reservado às pessoas da comunidade para desenvolverem atividades artísticas, como música, pintura, costura; aprender o cultivo de plantas medicinais, receber apoio escolar; conhecer técnicas de reciclagem e aproveitamento de materiais inservíveis e praticar esportes. EPS Cora Coralina, implantação de horta comunitária medicinal. EPS de Vigário Geral desenvolve o Circuito Cultural de Saúde, possibilitando visitas acompanhadas a várias empresas. EPS Yemanjá, acompanhamento escolar de crianças e adolescentes, em parceria com o terreiro de Candomblé Ilê Axé Ya Manjele O. EPS Escrava Nastácia com aulas de Artes Marciais baseadas pelo trabalho do mestre Paulo Freire, promovendo saúde através do esporte, com histórias de abandono das drogas, reintegração de famílias e retorno à escola. EPS Pedra do Sal, valorização histórica da localidade e seus moradores, respeito à ancestralidade. O NCC possui uma rede grande de parcerias, onde os Agentes Culturais encontram subsídios para a realização de suas tarefas e projetos de suas áreas, denominados Territórios de Cidadania: Instituto Nise da Silveira, onde o planejamento das apresentações teatrais e a elaboração dos materiais necessários são realizados; Museu de Imagens do Inconsciente, verdadeira viagem ao imaginário, através do afeto; Jardim Botânico do Rio de Janeiro, com oficinas sobre ervas medicinais, para que servem e como cultivá-las; Centro de Artes Calouste Gulbenkian, espaço de produção criativa, onde ocorreram várias atividades do NCC. Eventualmente, realizam-se nas Escolas Populares de Saúde, as Oficinas Itinerantes, levadas por Agentes Culturais de Saúde: Mulheres Incríveis, leitura de textos para reflexão sobre amores, sucessos, fracassos, verdadeira catarse; Cultura e Saúde da População Negra, baseada em eventos históricos, destacando manifestações da cultura afro-brasileira como elemento de promoção da saúde; “Quem canta seus males espanta”, oficina que promove saúde através do canto como terapia. O NCC conta com uma Unidade Cultural de Saúde fundada na Clínica da Família Cantagalo Pavão Pavãozinho onde todo ser humano é cientista, artista e cidadão. A união das Escolas Populares de Saúde, dos Territórios de Cidadania, da Unidade Cultural de Saúde e demais instituições parceiras, forma a Universidade Popular de Arte e Ciência idealizada e construída, por artistas, cientistas, atores, músicos, organizando o pensamento democrático e emancipatório e, através de construção compartilhada, transformando a realidade com vistas à liberdade, à justiça e ao amor ao próximo.