Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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A “linha do tempo” das políticas de saúde no Brasil: uma reflexão com gestores do macro ao micro
Maria Rocineide Ferreira da Silva, Raimundo Augusto Martins Torres, Lucilane Maria Sales da Silva, Fernanda Cristina Castelo de Lima Martins, Francisca Lúcia Nunes de Arruda, Kilma Wanderley Lopes Gomes, Ana Paula Cavalcante Ramalho Brilhante, Maira Imamura de Lima

Resumo


Caracterização do Problema: A qualificação de gestores para administrar a complexidade do Sistema Único de Saúde(SUS) é algo visto como fundamental na contemporaneidade. É com essa prerrogativa que a Política de Educação Permanente dos diferentes âmbitos do governo tem pautado a formação desse sujeito como fundamental para alavancar processos e impactar positivamente na gestão-atenção da saúde, afinal gestão e atenção devem caminhar em sintonia e aprender pelo trabalho e em contexto dá um sentido diferente e confere aprendizagem significativa, o que pode garantir transformação nos jeitos de construir, gerir e ressignificar processos. Faz-se necessário considerar a história de vida de sujeitos e a história de vida do lugar-território em se situa e traçar linhas que possibilitem encontros, capazes inclusive, de provocar muitas vezes um outro jeito de atuar no campo da gestão, qualificando pessoas para desenvolvimento de uma prática participativa com competência para considerar vários determinantes-condicionantes presentes nos espaços-tempo definidos. Descrição da experiência: Juntas, Universidade Estadual do Ceará e Coordenadoria do Trabalho e Educação na Saúde associados a Escola Nacional de Saúde Pública estão promovendo processo de formação na perspectiva da aprendizagem significativa. O objetivo desse trabalho é relatar a experiência obtida com a realização da oficina da “Linha do Tempo”, que teve como principal propósito dialogar com gestores do SUS de 15 munícípios do Ceará sobre esses movimentos de construção que tem ocorrido ao longo das décadas, passando pela reforma sanitária e culminando com a discussão de uma transformação que reafirma a necessidade de comprometimento de esferas distintas e que se materializa no Pacto pela Vida. Assim, participaram desse momento 30 gestores. Tendo como referência uma metodologia crítico-criativa, problematizadora seguiu-se esse momento de construção. Inicialmente foram entregues tarjetas, algumas com datas específicas outras em branco e solicitado que os mesmos inserissem-nas numa faixa de papel que continha sinalização das décadas iniciadas no início do século XX até os dias atuais. Nas tarjetas em branco eles iriam complementar com aquilo que não visualizaram para contar a história das políticas de saúde do Brasil. Efeitos alcançados: além de momento integrativo, de repensar sobre os conhecimentos existentes, os erros cometidos pelos colegas e corrigidos imediatamente num tom de parceria, promoveu o diálogo sobre a participação dos seus municípios de origem nessa construção do SUS, e das várias políticas que foram desenvolvidas ao longo dos tempos, além de possibilitá-los olhar para caminhada construída, em alguns casos, também refletiram sobre o que podem fazer. Reconhecer que as coisas só acontecem a partir de um contexto que pode ser produzido se houver desejo coletivo e agenciamentos para sua revelação, foi algo significativo pois para gestar e propor é preciso que haja desejo de sujeitos. Fortaleceu a ideia das singularidades locais, a importância da descentralização preconizada legalmente e implementada nas últimas décadas, mas também, o quanto trabalhadores de vários âmbitos (gestão, atenção) precisam estar preparados para levarem propostas a frente, há que se superar o senso comum e profissionalizar a atuação desse ator social de importância crucial do SUS. Pautar-se ´por uma gestão participativa foi algo também fomentado e os exemplos que caminharam nessa direção foram fortalecedores para o repensar de formas de agir em outros municípios. Nesse exercício percebeu-se como os movimentos aconteceram em épocas diferentes por conta das conjunturas locais, como exemplo, a implantação do saúde da família em algumas cidades do interior em 1994, 1995 e somente em 1998 em Fortaleza, capital do estado. As diferentes datas de implantação dos Centros de Atenção Psicossociais, municípios que já podem inserir a presença dos Núcleos de Apoio a Saúde da Família e outros que ainda não podem, porque nos mesmos ainda não existem nos seus contextos, e a criação da própria Coordenadoria da Gestão do Trabalho e Educação na Saúde(CGETS) no estado do Ceará. Foi muito importante fazer esse percurso e refletir sobre a implicação de cada um que estava ali no fomento a essa política, ficando claro para os mesmos a necessidade de assumirem-se co-gestor na construção da política de saúde brasileira, já que o município é um ente federado com responsabilidades próprias e que se assumidas podem sim, contribuir para garantia da produção da saúde dos munícipes, que também são cearenses e brasileiros. Recomendações: A necessidade de apropriar-se de metodologias ativas capazes de despertar desejos coletivos para transformação de processos que culminem com a qualidade de vida da população é primordial, já que não há um caminho definido e sim um caminho a ser construído, caminhando. A formação para gestores precisa articular como princípio básico as pautas estabelecidas no município e em alguns momentos esse aprendizado confundir-se com o próprio monitoramento, prática tão necessária a gestão mas pouco realizada, pelo que organizou-se enquanto fala. Não há outro jeito de aprender se não partirmos da realidade em que cada um está inserido, as potencialidades e enfrentamento devem constituir-se daí. Urge a necessidade de propor novos modos de formulação de processos formativos para esse sujeitos que garantam no ato de refletir, cultivo de satisfação desencadeando processos de co-gestão naquilo que se produz, da vivência educativa, a vivência no trabalho em ato. A utilização de outras ferramentas para fortalecer cada vez mais o diálogo associado a referências regionalizadas e inclusiva de saberes de várias ordens, acadêmicos, populares, tradicionais que se coadunam com a forma como os poderes são exercidos da micro a macroestrutura. A proposição de políticas acontece de forma mais efetiva se parte de negociações entre parceiros, daí que cursos como este também tem efeito político sobre o grupo que o vivencia pois descobertas também deram mote para futuras pactuações.