Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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Evidências para planejamento de políticas públicas para melhoria de cuidadores de acamados da qualidade de vida
Mayara Afonso Fernandes, Marília Pereira Lippi, Marisa Laporta Chudo

Resumo


Introdução/Justificativa: A partir de uma demanda da Secretaria Municipal de Saúde da Prefeitura de Guarulhos, coordenada pelo Núcleo de Atendimento à Atenção Básica (NAAB) Jardim Flor da Montanha, a equipe de saúde da Unidade Básica de Saúde (UBS) Jardim Rosa de França e o grupo do 7° semestre do Programa Interdisciplinar de Saúde na Comunidade (PISCO) da Universidade Cidade de São Paulo (UNICID), foram envolvidos em um projeto intitulado “Cuidando de Quem Cuida”. Este projeto desenvolvido pela Secretaria Municipal de Saúde da Prefeitura de Guarulhos visa avaliar as modificações no estilo de vida dos cuidadores e as repercussões físicas e psicológicas dos mesmos, e desenvolver propostas para a melhoria da qualidade de vida dessas pessoas. A proposta inicial desse projeto era o reconhecimento da possível adesão dos cuidadores em aceitar o auxilio de voluntários e/ou profissionais da área da saúde que iriam ser disponibilizados para que estas pessoas tivessem mais tempo para dedicaram-se a si mesmas e participar de atividades desenvolvidas na Unidade Básica de Saúde. Isso modificaria a realidade dos cuidadores, uma vez que teriam tempo para realizar atividade física, atividades culturais, tarefas diárias, lazer e dedicarem-se ao seu bem estar biopsicossocial. O trabalho dos estudantes consistiu em realizar visitas domiciliares para aplicação do questionário padrão do projeto, aos cuidadores de pacientes acamados totalmente dependentes. Após a aplicação, o grupo do Programa Interdisciplinar de Saúde na Comunidade fez o processamento e a análise dos dados obtidos e os resultados foram apresentados no II Forum de Promoção da Saúde da Secretaria Municipal de Saúde de Guarulhos. Juntamente com os dados das demais Unidade Básica de Saúde, os resultados servirão como fundamentação no planejamento de políticas públicas com foco na qualidade de vida dos cuidadores e implantação do programa Grupo de Cuidadores Voluntários. Objetivo: Avaliar a qualidade de vida de cuidadores de pacientes acamados totalmente dependentes, da área de abrangência da Unidade Básica de Saúde Jardim Rosa de França de Guarulhos, como fonte de dados para a elaboração de políticas públicas municipais visando a melhoria da qualidade de vida dos cuidadores. Material e Método: Inicialmente foram identificados, a partir dos prontuários, pacientes acamados totalmente dependentes de cuidadores. Foram agendadas visitas domiciliares a essas pessoas, realizadas pelos estudantes do Programa Interdisciplinar de Saúde da Comunidade acompanhados de seu preceptor e agentes comunitários da Unidade Básica de Saúde. Após o consentimento, os cuidadores foram entrevistados, seguindo o questionário padrão do projeto que abordava as seguintes questões: idade; sexo; grau de parentesco com o acamado; fonte de renda; doença diagnosticada prévia; realização de acompanhamento médico; prática atividade física; se gostaria de realizar atividades artesanais, culturais e/ou grupos terapêuticos vinculados a secretária da saúde ou instituições parceiras; se há alguém que o auxilia no cuidado do acamado; se já ouviu falar a respeito do grupo “Cuidador Voluntário” e se gostaria de conhecer o grupo; quem é o responsável por fazer o acompanhamento do acamado as consultas e aos exames; se há algo que possa ajudá-lo nos cuidados do acamado; identificação de alterações da rotina ao se tornar cuidador; a expectativa da realização de atividade externa caso um cuidador auxiliar esteja presente. Os dados foram compilados e analisados. Os resultados foram apresentados em um Forum Municipal aos gestores da saúde locais. Resultados e Análise: Foram selecionadas 32 famílias de acamados, totalmente dependentes de cuidador. A maioria dos cuidadores era do sexo feminino (87,5%), na faixa etária de 50 a 70 anos (59,40%), sendo predominantemente filhas dos acamados (43,80%). A maioria dos cuidadores possuem outras fontes de renda que não a do acamado (62,50%), sendo que alguns tornam-se dependentes do benefício de aposentadoria do acamado. Do total de cuidadores 59,38% tem alguma doença diagnosticada e 84,38% fazem seguimento médico na Unidade Básica de Saúde de referência. Apesar de 51,43% não praticar atividade física, 68,75% apreciam atividades culturais e gostariam de participar de grupos terapêuticos (84,38%). Quase que a totalidade (90,62%) tiveram sua rotina de vida afetada por se tornar cuidador e apenas 59,38% tem ajuda de um cuidador auxiliar. Além do cuidado, 87,50% são responsáveis por acompanhar o acamado à exames e consultas, comprometendo um maior tempo de sua vida pessoal, e por isso 81,25% acredita que melhoraria sua qualidade de vida se tivessem um voluntário. Foi evidenciado que 56,25% dos cuidadores, conseguem ter alguma atividade externa quando tem ajuda de um auxiliar. A grande maioria gostaria de conhecer uma proposta local conhecida por Grupo de Cuidadores Voluntários (93,75%), apesar de 62,50% nunca terem ouvido falar. Quando questionados sobre o que poderia ser feito para ajudá-los, a resposta variou desde a necessidade de equipamentos para manejo do paciente, quanto profissionais e voluntários auxiliares. Conclusão e Proposta de Intervenção: Os dados demonstram que a atividade de cuidador extrapola os cuidados físicos para com o acamado e envolve uma série de fatores biopsicossociais que afetam direta e indiretamente o cuidador,ou seja, é um potencial fator de perda da qualidade de vida e saúde dessas pessoas, que, se melhor assistidas e auxiliadas, poderiam minimizar os impactos dessa atividade. Os dados reafirmam a necessidade de planejamento e execução de políticas públicas que visem a melhoria da qualidade de vida desse grupo. A proposta de intervenção inicialmente baseou-se na incorporação de profissionais e/ou voluntários que irão auxiliar os cuidadores nos cuidados com os acamados, de forma que ao dividir as tarefas com um auxiliar, os cuidadores teriam uma maior disponibilidade de tempo para cuidarem de si mesmos. Após a aplicação do questionário verificou-se que, além do auxílio dos voluntários e profissionais, a grande maioria dos cuidadores (59,37%) ansiou por apoio psicológico e equipamentos para o manejo do acamado. Apesar de que, este último demanda um caráter bastante complexo, uma vez que a moradia de grande parte dessas pessoas não comporta a acomodação de utensílios como: andadores, cadeiras de rodas e camas com regulagem de posição e altura. Assim, com a compilação de todos esses dados analisou-se que o planejamento da proposta inicial deve abranger não somente o aspecto do auxilio prático, mas também a implementação de ações voltadas para saúde psíquica dos cuidadores. Se viabilizado este projeto, mencionamos a necessidade de convocação de voluntários, preferencialmente, da própria comunidade, e que estes sejam devidamente treinados para estarem aptos na realização desta atividade. Após a apresentação desse trabalho a Secretaria Municipal de Saúde de Guarulhos, houve uma mobilização para planejamento de ações dirigidas aos cuidadores. A proposta de intervenção do grupo consiste em auxiliar na implantação dessas ações e, posteriormente, coletar os dados para avaliação do impacto dessas medidas.