Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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GRUPO PATERNIDADE
Helder Camilo Leite

Resumo


ARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA: Em nossa sociedade, o “cuidado” do bebê sempre foi papel considerado como sendo feminino e as mulheres ainda são educadas, desde muito cedo, para desempenhar e se responsabilizar por este papel. Todavia, é perceptível a necessidade do apoio e participação da figura do pai para que mãe e bebê transpassem o período puerperal sem problemas e que, posteriormente, o bebê venha a se desenvolver biopsicosocialmente da maneira esperada. Além disso, acompanhamos os avanços socioeconômicos femininos e a necessidade do casal dividir as tarefas antes exclusivas de cada sexo, assim, inicia-se a construção de um novo modelo que valoriza e aponta como verdadeiro e importante a inserção da figura paterna no desenvolvimento harmonioso do período gravídico-puerperal tanto para a mulher quanto para o bebê. No entanto, apesar do exercício pleno da paternidade ter se tornado uma demanda ao homem da atualidade, o que muitas vezes ainda vemos na prática é um vazio da figura paterna, seja por desinteresse, seja por acreditar que não há maneiras de se ajudar no período ou por falta de conhecimento de como pode dar suporte ao conjunto mãe-bebê. Essa situação, somada às demais alterações da realidade do casal envolvidas no período, pode contribuir para um desgaste do relacionamento ou até mesmo para a separação do casal, podendo gerar também um pior relacionamento entre os pais e o bebê, além de alterações fisiológicas que podem vir a comprometer o próprio filho, como, por exemplo, o fato de uma maior carga emocional de estresse liberar altas cargas de adrenalina que, como se sabe, é inibidora da ocitocina, hormônio essencial para que haja a ejeção do leite, prejudicando assim a amamentação. Casais separados que têm dificuldades para manter um diálogo, acabam se afastando ainda mais e a responsabilidade pelo bebê geralmente recaí toda sobre a mãe. Estudos de Gomes e Resende nos mostram que a presença de um pai participativo é que irá dar subsídios para facilitar a passagem da criança do mundo da família para o mundo da sociedade, dando artifícios para a defesa, para a exploração do ambiente, das escolhas, tomadas de decisão. Sendo assim, o Núcleo Perinatal entende que é possível preparar os pais no entendimento da importância de sua participação na promoção da saúde da mulher e do bebê. Para tanto, faz-se necessário incentivar a participação do pai na assistência pré-natal e parto, nos cuidados com o bebê após o nascimento, esclarecendo possíveis dúvidas e consequentemente auxiliá-lo na construção do exercício da paternidade. DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA: Com horários flexíveis, adaptados aos horários de visita dos pais, os grupos de paternidade, que ocorrem no próprio Núcleo Perinatal, promovem atividades educativas, com rodas de discussão e pequenas atividades práticas de puericultura, levando-se em consideração a experiência individual dos pais. Os temas abordados passam pelas questões de como são as alterações fisiológicas e psicológicas da mãe e do bebê e quais situações derivam disso, quais são os direitos da mãe, do pai e do bebê, de como se dá a ajuda paterna nos cuidados com o bebê, na manutenção do aleitamento materno, nos afazeres domésticos, nos cuidados com os outros filhos, entre outros. Aqueles que já possuem filhos têm ajudado a conduzir o grupo e dependendo do estágio do ciclo gravídico puerperal em que se encontra a futura mãe, determinados temas têm sido priorizados, de maneira que o pai possa entender melhor as reações fisiológicas e psicológicas que estão ocorrendo com a mãe em cada fase. Pais com filhos internados na UTI Neonatal são preparados para o enfrentamento desta situação, contando também com espaço para contarem suas aflições, serem ouvidos e esclarecerem qualquer dúvida. É um momento também de grande aprendizado para toda a equipe de saúde multidisciplinar envolvida que a partir dos exemplos individuais, consegue vivenciar melhor as situações expostas e isso resulta em melhor atendimento às demandas dos pacientes que chegam a nossa unidade, bem como reforça a base de conhecimento e experiência para o atendimento do grupo de paternidade seguinte. EFEITOS ALCANÇADOS E RECOMENDAÇÕES: O Grupo Paternidade tem contribuído para facilitar um espaço de informação, troca de experiências e formação de multiplicadores de conhecimento voltado para a construção do exercício da paternidade, para divulgação dos direitos paternos e para facilitar a adaptação da vivência de ser pai. Ao final, obtemos como algumas das definições sobre o que é ser pai ditas pelos próprios pais que “ser pai é participar, amar, esperar, se envolver, ter esperança, cativar, brincar, chorar, ser carinhoso, se emocionar, acordar de madrugada, dividir as tarefas, educar, aceitar, ouvir, abraçar o mundo pelo filho” – conceitos inimagináveis em nossa sociedade há algumas décadas atrás. Pais participantes do grupo entendem melhor as necessidades da mãe e do bebê, buscam apoiar ambos e se demonstram mais seguros e mais responsáveis pela saúde da família. Criando um ambiente favorável à participação do pai no período gravídico-puerperal, mais acolhedor, cria-se um ambiente mais confiante e mais compreensível. Com isso, possibilitamos à mulher maior confiança em sua capacidade de parir e na construção da maternidade. Além disso, a participação do pai é fundamental para o desenvolvimento biopsicossocial do bebê que, assim, tem maiores chances de se desenrolar de maneira satisfatória e o núcleo familiar se torna mais sólido, sendo em última instância muito benéfico para a garantia de um mundo melhor, de uma sociedade mais cooperativa e verdadeira nas suas emoções e comportamentos. Espera-se que tal experiência faça parte da assistência prestada nos serviços de saúde já que o papel desses em tal temática é de fundamental importância, uma vez que deve servir de incentivo, buscando a inovação de atitudes profissionais, o que muitas vezes não ocorre, desrespeitando até a Lei Federal N° 11.108, que diz que o SUS é obrigado a permitir a presença de um acompanhante, junto à mulher, durante o pré-parto, parto e pós-parto imediato. O acompanhante deve ser indicado pela mulher. Contudo, há muita resistência das instituições de saúde e dos profissionais em fazer cumprir esta lei. A resistência é ainda maior no caso do acompanhante ser o pai. Os serviços de saúde devem, portanto, colaborar no fortalecimento das práticas de instrumentalização da figura masculina neste cenário historicamente feminino. Para tanto, deve-se capacitar os trabalhadores da saúde em temas relacionados às questões de gênero, cuidado paterno e metodologias para trabalho com homens, incluir os homens nas atividades do pré-natal, ultrassonografia, parto, pós-parto e atenção a crianças e adolescentes, facilitar a visitação, a presença dos pais nas enfermarias e UTI, acompanhando os filhos internados, estabelecer, quando possível, horários alternativos para consultas e atividades de grupo e visitas para facilitar a presença daqueles que trabalham, entre outras atitudes que visem o máximo possível a aproximação do pai.