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Perfil de atendimento de uma UPA e seu impacto na saúde pública
Resumo
O arranjo organizacional do Estado brasileiro que dá suporte à efetivação da política de saúde no Brasil é o Sistema Único de Saúde (SUS). Ele consta de um conjunto organizado e articulado de serviços e ações de saúde e coordena tanto o conjunto de organizações públicas de saúde existentes nos âmbito municipal, estadual e nacional, quanto serviços privados de saúde que o integram de forma complementar, quando contratados ou conveniados para tal fim. A estrutura do SUS originalmente conta com uma proposta de regionalização e hierarquização onde a atenção primária funciona como a porta de entrada. Sendo responsável por atividades, como a prevenção de doenças, o diagnóstico e o tratamento precoce de patologias agudas, o controle e acompanhamento de patologias crônicas, devem ter como conseqüência a redução das internações hospitalares por esses problemas. Entretanto, crises nesse sistema levaram à abertura de grandes unidades hospitalares de urgência, estimulando a procura de hospitais terciários como acesso mais rápido. Para combater essa situação, as Unidades de Pronto Atendimento (UPA) seriam responsáveis por receber casos de pequena e média urgência, desempenhando importante papel no atendimento secundário de urgência. As UPAs configuram uma rede de atenção a urgência, com acolhimento e classificação de risco em todas as unidades que estão estrategicamente implantadas. A dinâmica de atendimentos está diretamente relacionada ao trabalho do Serviço Móvel de Urgência – SAMU que organiza o fluxo de atendimento e encaminha o paciente ao serviço de saúde adequado à situação. O objetivo do estudo foi descrever o motivo da procura e o perfil dos usuários de uma Unidade de Pronto Atendimento, localizada em um bairro da zona Norte do Rio de Janeiro, assim como, o destino ou encaminhamento dado a esses usuários. Para isso, realizou-se um estudo transversal descritivo, tendo como público-alvo pacientes atendidos na UPA e, para isso, analisou-se boletins de atendimento referentes ao mês de setembro de 2011. Os dados foram armazenados e analisados através do programa Epi Info, versão 3.5.1. Dos 182 prontuários, 73,3% eram da Clínica Médica, 15,6% da Pediatria e 10,0% a Odontologia. A média de idade foi de 33,69 anos (DP± 20,44) e 50,5% eram do sexo masculino. Em relação à residência, 54,2% eram moradores da área programática (AP) 3.3 (destes, 15,3% eram do bairro de Madureira), mesma área da UPA; e 25,4% da AP 4.0 (sendo 14,2% da Praça Seca). Em relação à evolução, 84,0% dos pacientes receberam alta, 9,4% encaminhados para unidade básica e 0,6% transferidos para unidade de internação. Quanto ao diagnóstico do atendimento, observou-se que 18,1% eram infecções de ouvido, nariz ou garganta; 10,4% mialgia ou artralgia; 9,9% infecções da pele e do tecido subcutâneo; 9,3% problemas odontológicos e 7,1% gastroenterites infecciosas e outras complicações. Ao analisar o perfil de atendimento da UPA estudada, observa-se que a maioria dos atendimentos ocorre na Clínica Médica, apresentado um papel significativo em relação ao total de pacientes atendidos diariamente. A média de idade é relativamente baixa, indicando que também existe uma demanda importante de pacientes mais jovens, refletindo a importância de um investimento para essa população, seja por meio de programas assistenciais ou prevenção primaria destinada a faixas etárias especificas, com base nas suas queixas principais, sem deixar de investir na saúde dos mais idosos. A proximidade da UPA com o local de residência também pode ser apontada como uma característica que merece destaque, uma vez que cerca da metade dos pacientes atendidos na UPA moram na Área Programática em que a UPA se localiza (3.3). Além disso, esses dados demonstram que em algumas áreas o sistema de saúde se mostra deficiente, afinal elas se locomovem para outra área programática a fim de serem atendidas. Dessa maneira, a proximidade da UPA com o local de residência consegue cumprir com a sua tarefa de exercer atendimentos secundários de urgência, reduzindo o tempo de trajeto em busca de atendimento. A evolução dos pacientes, em sua maioria, tem como final a alta hospitalar. Entretanto, nota-se que é pequena a porcentagem de encaminhamento dos pacientes aos serviços de atenção básica, atitude que se fosse realizada devidamente, poderia reduzir a demanda de atendimentos de urgência e melhorar a qualidade de vida e sobrevida dos mesmos. No que diz respeito às queixas principais dos pacientes, a maioria destas poderia ser evitadas ou minimizadas por meio da adoção de estratégias de atenção básica e da prevenção primária. Isto é, seria necessária uma ampliação do sistema básico de assistência à saúde da população do Rio de Janeiro, de maneira que fosse possível expandir as áreas com cobertura adequada de assistência primária e uma melhora na qualidade da assistência. Além disso, uma mudança na cultura da população, estimulando a mesma a freqüentar continuamente os programas de saúde e não somente em situações emergenciais. Essas medidas implicariam numa otimização do controle de doenças e potencial economia de recursos, evitando a saturação do atendimento das UPAs. No que diz respeito ao destino desses pacientes após o atendimento inicial feito pela Unidade de Pronto Atendimento, percebesse que apenas uma pequena parcela dos usuários são encaminhados para uma Unidade de Atenção Básica. O ideal seria que as UPAs estimulassem esse maior contato da população com a saúde primária, isso seria possível através de um encaminhamento para esse tipo de acompanhamento quando se constatasse que o usuário não tinha acesso ou conhecimento sobre o mesmo. Contrapondo isso, vemos que a maioria dos pacientes da UPA recebeu alta sem nenhum encaminhamento para a atenção primária. A transferência para unidades de internação é muito pequena nos indicando que a maioria dos casos atendidos tem uma boa evolução durante o atendimento e grande parte dos casos que chegam na UPA são de baixa complexidade. Assim, podemos concluir que as UPAs possuem um importante papel na otimização do atendimento e na qualidade de assistência à população, no que diz respeito aos serviços de urgência aos pacientes. Entretanto, é importante que medidas de atenção primária atuem concomitantemente, de maneira a evitar sobrecarregar o seu sistema e melhorar a qualidade de vida, sobrevida e saúde da população.