Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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A CONTRIBUIÇÃO DO TRABALHO PROFISSIONAL NA EFETIVAÇÃO DA INTERSETORIALIDADE NO ÂMBITO DAS POLÍTICAS SOCIAIS PÚBLICAS
Daniela Andrade da Anunciação, Laís Stefani, Mara de Oliveira, Nilva Lucia Rech Stedile, Ana Kelen Dalpiaz

Resumo


O presente estudo tem por finalidade analisar a contribuição do trabalho profissional, junto às políticas sociais públicas, na efetivação da intersetorialidade. Tem, entre outros objetivos, constituir base teórica acerca do tema. A pesquisa bibliográfica, que resultou nessa sistematização, possibilitou uma revisão conceitual sobre trabalho e seus processos – tendo como direção a tradição marxista – e intersetorialidade. Tais estudos forneceram balizas interpretativas à necessária relação entre intersetorialidade e trabalho profissional no âmbito das políticas sociais públicas. Inicialmente, define-se trabalho e seus processos e, diante da direção optada, busca-se relacionar o trabalho profissional com a intersetorialidade. Trabalho é aqui compreendido enquanto “[…] processo entre o homem e a natureza, […] em que o homem, por sua própria ação, media, regula e controla seu metabolismo com a natureza […] numa forma útil para sua própria vida”. (MARX, 1983, p. 149). Nesse sentido, conforme ainda Marx (1983), possibilita ao homem, diante de seu valor eminentemente social, realizar-se e reconhecer-se em suas próprias criações, como forma de libertação e humanização. É preciso, no entanto, não esquecer que o trabalho pode configurar-se de forma alienada, expressão autêntica da sociedade capitalista. A alienação do trabalho (este último enquanto atividade humana prática) pode ser analisada, principalmente através de dois aspectos: “1) a relação do trabalhador com o produto do trabalho como um objeto estranho que o domina. [...], 2) a relação do trabalho como ato de produção dentro do trabalho.” (MARX, [1844], 2007, s/p). Ou seja, a alienação decorre enquanto resultado e enquanto processo da atividade produtiva. A primeira enquanto alienação do objeto e, a segunda enquanto autoalienação, onde “sua própria atividade humana [é] algo estranho e não pertencente a ele mesmo, [...] como uma atividade voltada contra ele [e] independente dele.” (MARX, [1844], 2007, s/p). Na perspectiva de que os profissionais (junto a operacionalização das diferentes políticas sociais públicas) compreendam a base conceitual e analítica sobre trabalho junto a tradição marxista e sobre alienação do trabalhador na sociedade capitalista, é necessário apreender o trabalho como valor social e não externo ao trabalhador, seja no ato de produção seja no produto. Para isso é preciso identificar e entender os elementos dos processos de trabalho junto aos quais se inserem os diferentes profissionais: objeto, finalidade, o próprio trabalho ou trabalho em si, os meios e o produto ou resultados. O objeto de trabalho caracteriza a matéria na qual se aplica o trabalho; a finalidade, formulada no plano subjetivo (abstrato) é o momento em que o trabalhador, com consciência, idealiza previamente os resultados que busca atingir (MARX, 1983). Essa, quando efetuada de forma consciente, no plano subjetivo é o que diferencia os homens e mulheres dos demais animais “[...] o que distingue, de antemão, o pior arquiteto da melhor abelha é que ele construiu o favo em sua cabeça, antes de construí-lo em cera. (MARX, 1983, 149-150)”. Esse trabalho intencionado em uma finalidade é operacionalizado através do trabalho em si, destarte, “atividade orientada a um fim, isto é o próprio trabalho” (MARX, 1983, p. 153), concretizado, “num plano objetivo (que resulta na transformação material da natureza [objeto]); assim, a realização do trabalho constitui uma objetivação do sujeito que o efetua”. (NETTO; BRAZ, 2006, p. 32). Para a execução da atividade o (a) trabalhador (a) utiliza-se de meios, enquanto “[...] uma coisa ou um complexo de coisas que o trabalhador coloca entre si mesmo e o objeto de trabalho e que lhe serve como condutor de sua atividade sobre o objeto.” (MARX, 1983 p. 150). No fim do processo de trabalho, obtém-se um resultado/produto que “já no início deste existiu na imaginação do trabalhador, e, portanto idealmente”. (MARX, 1983, p. 149-150). Para que as políticas sociais públicas sejam operacionalizadas, na premissa da integralidade e da garantia da cidadania plena, a intersetorialidade é indispensável. Significa que apesar de cada política social ter um campo específico de atuação, “erigido pelo reconhecimento de uma certa necessidade social” (ANUNCIAÇÃO, 2011, p. 43), apenas as várias políticas sociais públicas articuladas entre si e dessas com políticas econômicas podem efetivar proteção social. A intersetorialidade se efetiva a partir de, no mínimo, duas grandes premissas articuladas e indispensáveis. Uma de ordem político-institucional vinculada a organização e gestão das políticas públicas através de fóruns nacionais, estaduais e municipais, legalmente constituídos, articuladores das ações das políticas sociais públicas. Outra, por meio do trabalho de diferentes profissionais, que requer, considerando os elementos acima mencionados, um trabalho planejado, conjugado, complementar, cujas ações estabeleçam vinculações, relações horizontais e interdependência na obtenção de objetivos comuns. Pressupõe, trabalhar em rede, assumindo, conjuntamente, responsabilidades e compromissos com a resolutividade das necessidades concretas existentes na realidade social, visando uma linha de cuidado igualitário, integral e universal. Logo, o trabalho de diferentes profissionais, para garantir direitos sociais universais, precisa ser pensado e operacionalizado na lógica de seu valor social buscando formas de rompimento com o trabalho alienado, contribuindo assim, para a efetivação da intersetorialidade. REFERÊNCIAS ANUNCIAÇÃO. Daniela Andrade da. Especificidade não identificável da política social pública de assistência social: dilemas conceituais, legais , históricos e políticos. 2011. Monografia – Centro de Ciências Humanas, Curso de Serviço Social, Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul, 2011. MARX, Karl. Capítulo V: Processo de trabalho e processo de valorização. In: O Capital: crítica da economia política. Volume 1. Livro Primeiro. O processo de produção do capital. (Os economistas). Tradução por Regis Barbosa e Flávio R. Kothe. São Paulo: Abril Cultural, 1983. ______. Manuscritos Econômico-Filosóficos. Primeiro Manuscrito. Trabalho Alienado. [1844]. Primeira edição 1932. Transcrição por Alexandre Moreira Oliveira, 2007. Disponível em: http: //www.marxists.org/portugues/marx/1844/manuscritos/cap01.htm. Acesso em janeiro de 2012. NETTO, José Paulo; BRAZ, Marcelo. Trabalho, sociedade e valor. In: Economia política: uma introdução crítica. São Paulo: Cortez, 2006.