Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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A EXPERIÊNCIA DA MEDIAÇÃO DE OFICINAS SOBRE INTEGRAÇÃO E APRENDIZADO ACERCA DA ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE.
Jaquelline Passos Carvalho, Anny Karoliny das Chagas Bandeira, Letícia do Carmo Brito, Mariza Silva Almeida

Resumo


Introdução: A formação para o trabalho em saúde tem sido considerada um desafio atual do Sistema Único de Saúde (SUS). Os poucos espaços de discussão na graduação sobre o SUS demonstram um problema na composição curricular, com componentes curriculares e/ou carga horária mínima para conteúdos que tratem sobre os desafios, avanços e até mesmo a história do SUS. O não domínio por partes dos estudantes sobre o panorama da saúde nacional acaba por sinalizar uma formação deficitária, refletindo em profissionais pouco preparados e compromissados com o sistema. No intuito de minimizar as lacunas sobre a formação para o SUS, aproximar os estudantes e apropriá-los de conteúdos pouco trabalhados nas salas de aula, faz-se necessário a criação de atividades que possibilitem a formação de futuros profissionais com comprometimento ético e político enquanto agente modificador e construtor das práticas sociais e de saúde. Neste sentido o Programa de Educação Tutorial (PET) da Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia (UFBA) realizou uma atividade de discussão sobre a Organização do Sistema Único de Saúde (SUS) entre seus (suas) integrantes e os (as) integrantes do PET Odontologia da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), além de ter sido aberto para o público externo que tivesse interesse em participar da atividade. Abordamos como eixos temáticos: O trabalho em saúde, com enfoque para formação de saúde; Financiamento do SUS; Gestão e Planejamento em Saúde; Educação Permanente em Saúde; e Equipe multidisciplinar. Tendo em vista a possibilidade do desenvolvimento de um trabalho em equipe multiprofissional, de se compartilhar diferentes olhares e vivencias dentro do campo de atuação já experimentados enquanto estudantes, sujeitos críticos e usuários acreditamos que, as discussões desses temas junto a comunidade de estudantes da UEFS poderia funcionar como importante ferramenta para o formação profissional e na co-responsabilização em consolidar o SUS. A proposta do trabalho em equipe tem sido veiculada como estratégia para enfrentar o intenso processo de especialização na área da saúde e veio para introduzir os estudantes, ainda na graduação, em um espaço interativo e pluridisciplinar. Por meio do estímulo às discussões relativas aos processos de organização do sistema de saúde, se torna possível o amadurecimento da prática multiprofissional e interdisciplinar. Cremos que esse tipo de experiência amplia o conhecimento e o vínculo a proposta do SUS por todos envolvidos, mediadores e demais estudantes. Metodologia: Foram realizados 05 encontros, em forma de oficinas. Entendemos que a oficina é uma metodologia de trabalho em grupo, caracterizada pela construção coletiva de um saber, de análise da realidade, de confrontação e intercâmbio de experiências e por isso trata-se de um método eficaz para discussão de tais temas. Estas aconteceram entre outubro e dezembro de 2010 em Feira de Santana, na UEFS, no período vespertino, sob mediação a cada encontro por três integrantes do PET-Enfermagem. Somando-se 15 integrantes no grupo, estes se dividiram e escolharam entre os eixos temáticos de acordo com maior afinidade ou interesse por um tema. Reunidos em trio os integrantes tinham a responsabilidade em estudar e pesquisar sobre seu tema escolhido, além de propor e formular a atividade a ser realizada. Antes mesmo da aplicação das oficinas para o público alvo na UEFS, estas eram apresentadas para o grupo PET Enfermagem, assim como também os textos disponibilizados para leitura prévia para que o grupo todo participasse de forma direta da construção de todas as oficinas. A carga horária total foi de 40 horas, somando a participação de 100 estudantes incluindo os do PET enfermagem. Por meio eletrônico foi disponibilizado referencial teórico a todo (a)s participantes permitindo uma abordagem problematizadora dos temas. Como mediadores tínhamos a incumbência de estimular a reflexão crítica diante das discussões, assim como, formular questionamentos para o grupo, conduzir debates, dinâmicas e construir junto com os (as) participantes, um processo de apropriação coletiva do conhecimento. Efeitos alcançados: Tal atividade permitiu o empoderamento de um conhecimento diferenciado aos já construídos na graduação, garantindo também uma maior integração entre os discentes do curso de Enfermagem e Odontologia. Além de que, a integração com outra categoria profissional permitiu ampliar o olhar, (re) conhecendo desafios e semelhanças nos processos de trabalho, o que nos permitirá um melhor agir em equipe. O desafio da mediação apresentou-se como estímulo para a busca e apropriação de conhecimentos, com embasamento teórico, que dificilmente foram tratados com tanta profundidade dentro das disciplinas curriculares. Sem o desenvolvimento de propostas de atividades como esta o conhecimento e ainda mais a relação dos estudantes com os conteúdos voltados para o SUS se tornam insipientes. A obrigação para a realização de um trabalho que pudesse atingir seu objetivo de promover um espaço democrático de discussão e reflexão crítica em torno da organização do Sistema Único de Saúde exigiu esforço, dedicação, estudo e comprometimento dos mediadores em se tratar de temas que anteriormente possuíam pouco domínio. Esta experiência nos leva a inferir que as discussões havidas nas disciplinas, não são suficientes para preparar profissionais para responder e entender as reais demandas e necessidades de saúde da população frente ao SUS, sendo importante então, que sejam viabilizados espaços e momentos complementares como estes na formação acadêmica. Esse momento também nos estimulou a pensarmos mudanças na forma de trocar conhecimento, de uma maneira mais horizontalizada, dinâmica e principalmente voltada para ações e serviços de saúde, tendo foco na realidade dos usuários e profissionais do SUS. Recomendações: A responsabilidade por uma formação de qualidade e diferenciada requer a pro atividade dos estudantes, como agentes modificadores das realidades enfrentadas nas universidades. O despertar para tanto, torna-se fundamental para que os estudantes passem e continuem a ser sujeitos críticos e co-responsáveis pela produção de conhecimento na perspectiva de mudança na formação coerente com a necessidade da saúde e da sociedade. Além de que, possibilitar o contato com outros cursos permite ampliar o olhar, (re)conhecer a atuação profissional e desafios do outro. A importância de reformular a formação de profissionais mais críticos e mais preparados para uma melhor atuação nos serviços requer esforços no sentindo de possibilitar debates, discussões e mobilização dos mesmos, pois só assim será possível um olhar diferenciado sobre os processos de trabalho, nossos papéis e responsabilidades com vistas à consolidação do SUS. REFERÊNCIAS: IRIBARRY, Isac Nikos, Aproximação sobre a trandisciplinaridade: Algumas linhas históricas, fundamentos e princípios aplicados ao trabalho de equipe. Ver Reflexão Crítica, 2003, pg 2. PEDUZZI, Marina. Equipe multiprofissional de saúde: conceito e tipologia. Rev. Saúde Pública [online]. 2001, vol.35, n.1, pp. 103-109. ISSN 0034-8910. http: //dx.doi.org/10.1590/S0034-89102001000100016. ERDMANN, Alacoque Lorenzini et al. O olhar dos estudantes sobre sua formação profissional para o Sistema Único de Saúde. Acta paul. enferm. [online]. 2009, vol.22, n.3, pp. 288-294. ISSN 0103-2100. http: //dx.doi.org/10. 1590/S0103-21002009000300008.