Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


Tamanho da fonte: 
“Praça Virtual” da FESF-SUS: educação e participação em uma Comunidade Virtual de Prática
Leandro Dominguez Barretto, Flaviana Khoury

Resumo


A Fundação Estatal Saúde da Família da Bahia (FESF-SUS), é uma fundação pública, intermunicipal, instituída por 69 municípios baianos com o objetivo de qualificar, expandir e interiorizar a estratégia de saúde da família na Bahia realizando, em parceria com os gestores municipais, a Gestão do Trabalho e Educação Permanente dos profissionais das Equipes de Saúde da Família vinculados às FESF-SUS e que atuam nos municípios contratualizados. A política de Educação Permanente em Saúde (EPS) da FESF-SUS tem importante papel na atração, fixação de profissionais e de qualificação do cuidado em saúde ofertado pelas equipes. Em pesquisas realizadas com trabalhadores da saúde da família da Bahia (FESF-SUS, 2010), a oferta de cursos e outras atividades de educação permanente foram consideradas pelos mesmos como fator “mais importante” para fixação em equipes de saúde. Além disso, o isolamento de profissionais que atuam em distantes municípios do estado é referido como um fator desestimulante. Desta forma, com trabalhadores distribuídos em diversos municípios do Estado da Bahia, a FESF-SUS precisou aposta no uso de tecnologias de comunicação via internet e da Educação à Distância (EAD), para diversificar as ofertas de formação e educação permanente, bem como aproximar os profissionais e diminuir a sensação de isolamento, articulando com a formação através da troca de experiências e conhecimento entre os diversos profissionais. Foram elaboradas ofertas de curso de formação dos profissionais da FESF-SUS a partir de tecnologias EAD, tendo como momentos principais de aprendizagem as atividades de dispersão realizadas por todos os membros da equipe de saúde da família, a partir dos problemas e vivências do cotidiano, com posterior discussão nos fóruns. Estes cursos envolviam todos os profissionais da FESF-SUS e os fóruns tornaram-se espaços de troca dos participantes. Além disso, parte dos tutores dos cursos foi selecionada entre os próprios profissionais da FESF-SUS, ampliando a superfície de troca entre trabalhadores que atuam na estratégia de saúde da família vinculados a uma mesma instituição. Desta forma, constituíam-se Rodas de EPS Presenciais em cada USF/ Municípios e Rodas Virtuais nos fóruns de discussão. O Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), utilizando a plataforma Moodle, tornou-se um importante espaço frequentado pelos trabalhadores, não somente para acessar cursos, mas para acompanhar outras informações sobre a instituição. Agregada à oferta de cursos em modalidade EAD, o AVA também ofertava desde sua criação o “Fórum Geral dos Trabalhadores”, um espaço incialmente criado para esclarecimento de dúvidas gerais aos trabalhadores que iniciavam suas atividades no município. Este Fórum, juntamente com os espaços virtuais de divulgação de informações e outros fóruns temáticos criados, foi nomeado de Praça Virtual, inspirado no conceito ofertado por Emerson Merhy, onde a “Praça” é o local onde indivíduos e coletivos vão para se encontrar, sem o compromisso de realizar uma função única específica. Assim, as dúvidas passavam a ser respondidas pelos próprios trabalhadores mais antigos, e novos temas foram ganhando o espaço. Insatisfações, dificuldades com a inserção no município, relatos de experiências exitosas, informes sobre eventos, etc... foram surgindo na Praça, que acabou conformando-se em uma Comunidade. Assim, conformou-se a principal Comunidade Virtual de Prática da FESF-SUS, na medida em que Comunidades de Práticas, mais do que simples comunidades virtuais de relacionamento, implicam na “partilha de uma prática entre os seus diferentes membros” (ILLERA, 2007). Além do Fórum Geral dos Trabalhadores outros fóruns temáticos foram sendo criados na medida em que um tema específico demandava a criação de um outro espaço para aprofundar o tema, sendo que o acesso a estes espaços é livre a qualquer trabalhador da instituição. Nesta comunidade, o cotidiano dos serviços bem como os diversos desafios inerentes ao trabalho em uma nova instituição ou município, podem ser debatidos, problematizados e compartilhados entre os participantes, de forma voluntária e com pouca mediação externa. A “Praça Virtual” da FESF-SUS, entendido enquanto um lugar público, onde as pessoas movimentam-se mais à vontade, conversam, trocam experiências e saberes. A Praça constituiu-se em um espaço que divulga e socializa informações, como notícias e arquivos, mas que permite ampla interação através de Fóruns de discussão sobre temas mobilizadores, constituindo-se também em espaço de Gestão Participativa, na medida que reivindicações também são pautadas e debatidas entre trabalhadores e gestores da FESF-SUS. Neste trabalho, analisamos a participação dos trabalhadores da FESF-SUS na Comunidade Virtual de Prática denominada Praça Virtual, através da análise da frequência dos profissionais no espaço e nas principais manifestações na Comunidade. Além disso, buscamos realizar uma descrição das atividades e, a partir de uma importante diretriz da política de EPS da FESF-SUS, compartilhar experiências com trabalhadores e gestores de todo o país. Observamos que, a despeito do uso de ferramentas virtuais ainda não ser uma realidade para todos os trabalhadores da Saúde da Família, a Praça Virtual tem demonstrado ser um espaço “freqüentado” por uma parcela significativa dos profissionais. Utilizando dados de novembro de 2011, verificou-se que dos 319 profissionais cadastrados na Praça, 271 (85%) acessam regularmente o ambiente principal e 126 (40%) acessam regularmente os fóruns de discussão. Os debates nos fórum ficam registrados no ambiente, funcionando com fonte de pesquisa e atualização para os novos trabalhadores que se incorporam à Fundação e podem interagir com discussões anteriores. A Praça também funciona com um espaço de diálogo e de gestão, na medida em que os trabalhadores da gestão da FESF-SUS também frequentam o espaço e participam de discussões ao serem demandados pelos trabalhadores. Por fim, a Praça Virtual ganhou importante destaque durante o processo eleitoral para escolha dos representantes dos trabalhadores no Conselho Curador da FESF-SUS, onde ocupam 02 das 15 vagas existentes. Todo o processo de debate e campanha ocorreu através de discussões virtuais que ocorreram na Comunidade de Prática que chamamos Praça! Esta experiência demostra as potencialidades do uso de novas tecnologias de informação e comunicação através da internet, como ampliando a gestão participativa, bem como as possibilidades de aprendizado através da interação entre trabalhadores.