Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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A PREVENÇÃO DO CÂNCER CÉRVICO UTERINO SOB A ÓTICA DO ENFERMEIRO (A) NO MUNICÍPIO DE ITAÚNA, MG.
Deolane Vasconcelos Antunes

Resumo


Introdução: O câncer cérvico uterino é considerado um problema de saúde pública que atinge todas as classes sociais e regiões brasileiras. Apesar de apresentar maior potencial de prevenção e cura quando diagnosticada precocemente, essa doença é o segundo tipo de câncer mais incidente entre as mulheres, com aproximadamente 500 mil casos novos e 230 mil óbitos por ano no mundo (INCA, 2010). O diagnóstico precoce é realizado pelo rastreamento populacional com o citopatológico do colo de útero, exame seguro e de baixo custo, podendo ser feito em unidades de saúde da rede pública que tenham profissionais capacitados (Camargo et al., 2007). O enfermeiro, na atenção primária em saúde, exerce um papel importante na prevenção do câncer cérvico uterino, pois realiza a coleta do exame citopatológico e promove ações de educação em saúde (Bruner & sddarth, 2005). Objetivo: Conhecer os fatores que influenciam a coleta do exame citopatológico a partir da vivência dos enfermeiros das Unidades de Saúde da Família (USF). Método: Estudo epidemiológico descritivo realizado em Itaúna, Minas Gerais, em 2011. Foram entrevistados todos os 15 enfermeiros das Equipes de Saúde da Família (ESF) do município. A ESF é priorizada pelo Ministério da Saúde para reorganizar a Atenção Primária em Saúde (APS) mediante o cadastramento e a vinculação dos usuários, reafirmando os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS): a universalização, a descentralização, a integralidade e a participação da comunidade (Ministério da Saúde, 2006).Os dados foram coletados por meio de um questionário semiestruturado. As informações foram processadas no programa Epidata 3.1 e analisadas no Epi-Info 6.0. Realizada a distribuição de freqüências e/ou medidas de tendência central. Esse estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade de Itaúna, Nº 036/10, conforme Resolução nº. 196/96 do Ministério da Saúde. Resultados e Discussão: Os entrevistados concordaram (87,3%) que as mulheres atendidas nas unidades de saúde da família não apresentam resistência ao realizar a coleta do exame citopatológico com o profissional enfermeiro. No entanto, 12,7% deles relataram que as usuárias não realizam o exame ao ter conhecimento que é o profissional enfermeiro que fará a coleta. A coleta de material para exame citopatológico pelo enfermeiro está respaldada na Lei 7498/1986, conforme a Lei do Exercício Profissional e Decreto Regulamentador (COREN, 2010), e se capacitado, têm habilidade e competência para realizar essa ação preventiva.Outros motivos que dificultam o acesso da mulher à ação de prevenção elencados pelos enfermeiros foram: medo/vergonha (53,4%), disponibilidade de horário (20,6%), falta de informação (13,3%) (Figura 1). Estudo realizado com a população feminina brasileira em relação à prevenção mostra que os principais motivos de resistência estariam relacionados às questões culturais, tais como medo, vergonha, religião, desconhecimento do exame e a não permissão do parceiro para que a mulher realize o exame (Ferreira, 2007). Figura 1. Visão do enfermeiro (a) sobre os motivos pelos quais possam dificultar a procura da mulher pela ESF para a realização do exame preventivo em Itaúna,MG, 2010. Dentre as intervenções realizadas na consulta de enfermagem que antecede a coleta do exame, 46,7% dos enfermeiros disseram realizar entrevista prévia com a paciente, 20% relataram orientar as pacientes quanto às medidas preventivas, 20% informaram sobre o procedimento de coleta, bem como apresentaram os materiais utilizados no procedimento e 13,3% orientaram em relação à periodicidade do exame (Figura 2). Figura 2. Intervenções realizadas pelo enfermeiro (a) durante a consulta de enfermagem à usuária que irá se submeter à coleta do exame citopatológico, na ESF, Itaúna,MG, 2010. A consulta de enfermagem tem sido utilizada como forma de assistência à mulher na prevenção, quando o profissional identifica aspectos da história de vida e das condições de saúde da usuária. Diante do compromisso com a educação em saúde, o enfermeiro promove atividades educativas ressaltando orientações sobre o procedimento e importância do exame, assegurando o cuidado de qualidade (Moura et al., 2010). Tendo em vista o esclarecimento das dúvidas das usuárias em relação à prevenção do câncer do colo uterino e do exame citopatológico, 46,7% dos enfermeiros disseram orientar as mulheres em visitas domiciliares, 26,7% relataram proferir palestras, 13,3% dos profissionais relataram distribuir jornais informativos e 13,3% afirmaram promover grupos de apoio (Figura 3).No processo educativo, que visa permear toda ação da enfermagem, o enfermeiro deve desenvolver habilidades e competências com objetivo de mobilizar conhecimentos, conscientizando as mulheres através das atividades educativas (Bôas, Araújo, Timóteo, 2008). Figura 4. Atividades educativas realizadas pelo enfermeiro (a) da ESF que tem por objetivo orientar e esclarecer as usuárias quanto à prevenção do câncer cérvico-uterino e coleta do exame citopatológico, Itaúna,MG, 2010. Com o objetivo de aumentar a cobertura do exame citopatológico, 40% dos enfermeiros relataram que promovem multirão de preventivo aos sábados, 40% disponibilizam atendimento após horário de funcionamento da unidade e 20% dos profissionais não realizam nenhuma ação neste sentido.Há um número significativo de mulheres que os programas não conseguem alcançar para a realização do exame citopatológico por vários motivos, dentre eles, a falta de tempo, a rotina de trabalho e até mesmo a ausência de um local para deixar os filhos. Conhecer a realidade dessas mulheres significa atender de forma eficaz com o objetivo de intervir proporcionando assim maior cobertura e adesão ao exame. Para Ferreira (2009) uma estratégia de intervenção para adesão e cobertura dessa ação preventiva seria disponibilizar o atendimento à mulher fora do horário de funcionamento da unidade, horário pelo qual possibilite a procura da usuária pelo serviço com o objetivo de aumentar a demanda. Considerações finais: Os enfermeiros das ESF de Itaúna, MG têm atuado na prevenção do câncer cérvico uterino desenvolvendo ações de prevenção e promoção. Os sentimentos de medo e vergonha e a disponibilidade de horário ainda constituem-se os maiores dificultadores na adesão da mulher à prevenção e do câncer de colo uterino, o que dificulta o diagnóstico precoce. Referências: 1. Instituto Nacional do Câncer. Colo do Útero [Internet]. Brasil [acesso em 2010 Aug 25]. Disponível em: http: //www2.inca.gov.br/connect/tiposdecancer/site/home/colo_utero.2. Instituto Nacional do Câncer. Periodicidade de Realização do Exame Preventivo do Câncer de Colo de Útero. Rev Bras Cancerologia. 2002; 48(1): 13-15.3. Bruner LB, sddarth DS. Tratado Enfermagem Médico-Cirúrgica. 10 ed. Rio de Janeiro: Guanabara. Koogan, 2005.4. Camargo, Eli de Fátima Ferreira, et al. O papel do enfermeiro frente à prevenção do câncer do colo uterino na saúde coletiva. 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