Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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(Re)inventando os processos de formação em serviço: a criação de novas práticas e vivencias nos cenários de ensino na Residência Integrada em Saúde
Raphael Maciel da Silva Caballero, Gabrieli Machado

Resumo


Caracterização do problemaDesde sua implantação em 2004, a Residência Integrada em Saúde do Grupo Hospitalar Conceição (RIS/GHC) busca qualificar seu desenho pedagógico, visando promover maior exposição dos residentes e dos cenários de prática à um conceito cada vez mais ampliado de saúde e de cuidado integral. Nessa perspectiva, tem-se incorporado gradualmente nos planos de curso espaços cujas vivências não dicotomizem a relação saber-fazer e, simultaneamente, incluam a singularidade de cada contexto sanitário pelas múltiplas abordagens da atenção à saúde, da participação popular, da gestão do SUS e da formação de trabalhadores. A proposição de quatro atores/segmentos cruciais para o encontro Educação-Saúde - inspirada na formulação de Ceccim e Feuerwerker, nomeada de “quadrilátero da formação”, a qual articula atenção à saúde, gestão do sistema, formação de trabalhadores e participação popular - serve à construção e organização de uma gestão da educação na saúde integrante da gestão do sistema de saúde. Dessa forma, a Educação Permanente em Saúde, incorporada ao cotidiano da gestão setorial e da condução gerencial dos serviços de saúde, colocaria o SUS como um interlocutor nato das instituições formadoras, na formulação e implementação dos projetos político-pedagógicos de formação profissional, e não mero campo de estágio ou aprendizagem prática. (CECCIM e FEUERWERKER).A tentativa desafiadora de reconfiguração da relação ensino-serviço é muito evidente em uma das áreas onde a complexidade intersetorial é constantemente trazida à relação de cuidado: a saúde mental. Assim, esse relato sistematizado visa registrar o processo de implantação do estágio em gestão na formação do residente em saúde mental, bem como evidenciar alguns efeitos sobre os processos de trabalho na rede de serviços do GHC e na rede municipal de serviços de saúde em Porto Alegre/RS.Descrição da experiênciaEm meados do ano de 2010 iniciaram-se negociações com a Secretaria Municipal de Saúde da cidade de Porto Alegre, na busca de uma relação convenial formalizada e com termos claramente pactuados. A proposta deste novo cenário de conhecimentos e invenções foi assegurar no projeto formativo de trabalhadores em saúde (mais especificamente no âmbito do cuidado em saúde mental) a perspectiva da integralidade, transitando pelos vértices do quadrilátero citado. No entanto, o desafio foi não esquadrinhar esse itinerário, oferecendo possibilidades de compreensão mais sistêmica de intervenções aparentemente descontextualizdas ou desvinculadas – ligar os pontos do quadrilátero em desenhos múltiplos. Assim, optou-se pela abrangencia que a experimentação em espaços de gestão (aquí diferenciada de gerenciamento administrativo) ofereceria ao residente, convocando a vivência em atenção/assistência, mas também relações com o controle social, as iniciativas de educação/formação em saúde, além de interrelações nos diferentes níveis de gestão.Nesse contexto, o objetivo de RIS/GHC foi inserir cenários de prática em gestão do SUS, especialmente no território onde seu programa está inserido. Em contrapartida, ofereceu-se à gestão municipal uma parceria na implementação de ações estratégicas – levantamento de situações específicas (principalmente em saúde mental), auxílio na elaboração de relatórios periódicos de gestão e aproximação entre áreas e gestores no município, por meio da relação de ensino – atendo-se a duas abrangências identificadas como relevantes: áreas técnicas (políticas municipais de Infância e Adolescência, Saúde Mental e Humanização) e gerências distritais (três subdivisões distritais de saúde no município). Os cenários foram escolhidos pela interface mais clara com a Saúde Mental e/ou pela relação territorial com serviços onde os residentes já estão inseridos no GHC (Caps 2, Caps Infantil, Consultórios de Rua e Caps A/D).O estágio durou cerca de 8 meses, com três turnos semanais de inserção dos residentes junto à gestão municipal. Nesse período cada área recebeu um residente, combinando -se planos de estágio pactuados em todos os aspectos com os atores envolvidos – inclusive os dias de estágio, tendo em vista a singularidade que cada espaço de gestão oferece. Após a estruturação inicial os residentes foram instigados a formular projetos de trabalho para o ano, com o objetivo de articular a experiência na gestão municipal com as realidades no campo dos serviços de saúde mental. É importante ressaltar que esse projeto foi articulado com a referência de cada área técnica, para que sua execução colaborasse na construção ações de gestão e atenção comprometidas com o contexto loco regional, agindo transversalmente nos cenários do SUS.Além da rotina específica de cada espaço foi elaborado um cronograma de reuniões integradoras mensais, para acompanhamento das vivências e impressões das áreas técnicas que receberam os residentes. Ao final do ano, realizou-se um encontro geral para avaliação e planejamento das ações no período seguinte, consultando-se disposições de todos os envolvidos.Efeitos alcançadosApós o primeiro ano dessa parceria de vivências em gestão municipal (2011) pode-se constatar que maior compreensão dos residentes acerca do SUS como uma rede não somente assistencial, mas também com articulações políticas complexas e frequentemente determinantes do resultado das ações de cuidado. Ao considerar que o desenvolvimento de trabalhadores e práticas mais cuidadoras ocorre permanentemente nas experiências cotidianas e vivencias diárias, a RIS/GHC avaliou que as experiências na gestão puderam colaborar na qualificação do profissional residente em saúde mental. A ampliação do conceito de cuidado, inserindo sua atuação clínica no contexto do sistema de saúde, bem como convocando o trabalhador a implicar-se politicamente com a organização dos serviços e equipes, foi um dos maiores diferenciais. Esta inovadora experiência parece proporcionar ao residente em saúde a construção de novas perspectivas profissionais, ressignificando seu trabalho em quaisquer dos vértices do quadrilátero – ou em todos eles, em movimento de Educação Permanente em Saúde. É importante ressaltar que os efeitos não restringiram-se somente ao processo de formação dos residentes, estendendo-se também à relação entre trabalhadores da gestão municipal e distrital e trabalhadores do Grupo Hospitalar Conceição – originando aproximações e fluxos novos, em direção à integralidade da atenção em saúde.RecomendaçõesA partir dessa experiência, percebeu-se que a inserção da gestão como parte relevante do projeto pedagógico na formação de trabalhadores para a área da saúde, especialmente para o SUS, foi extremamente produtiva. Esta vivência parece imprescindível ao trabalhador em saúde, facilitando a visão de cuidado ampliado, reconhecendo a atuação em saúde como processo ensino-aprendizagem e articulando a integração profissionais-usuários, pela ampliação do olhar em direção a um Sistema Único de Saúde.Atualmente há intenção de ampliar e qualificar essa interface gestão-atenção em saúde, procurando assegurar a intersetorialidade nas ações da residência e dos cenários de prática envolvidos.Palavras-chave: Gestão em saúde; Residência Integrada em Saúde; Saúde mental.