Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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1º Turma do Curso de Formação Pedagógica para a prática da preceptoria: perfil e expectativa dos participantes
Daniela Pimenta, Márcia Martins, Lia Márcia Cruz da Silveira, Denise Herdy Afonso, Márcia Fernandes Mendes Araújo, Luciana Rodrigues, Daniela Sobrino, Ana Isabel Tachau, Aida Assunção, Letícia Rodrigues

Resumo


Caracterização do Problema: A formação dos profissionais de saúde prevê a oferta de profissionais que valorizam ações e práticas baseadas nos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS). Pensando no produto final do profissional de saúde, que é atender adequadamente o usuário, atendendo à integralidade do cuidado, a formação dos profissionais de saúde não pode estar distante do debate e da formulação da política pública de saúde, o modelo de atenção deve ser centrado na relação queixa-conduta, sendo imprescindível para tal desenvolver nos profissionais de saúde competências tais como a comunicação, liderança, tomada de decisão, atenção à saúde, gerenciamento e administração e educação permanente em saúde. A Gestão do Trabalho em Saúde trata das relações de trabalho a partir de uma concepção na qual a participação do trabalhador da saúde é fundamental para a efetividade e eficiência do Sistema Único de Saúde. Dessa forma, o trabalhador é percebido como sujeito e agente transformador de seu ambiente e não apenas um mero recurso humano realizador de tarefas previamente estabelecidas pela administração local. É esperado que as instituições formadoras reorientem suas práticas pedagógicas baseadas nas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) em consonância com o SUS. Portanto é fundamental capacitar profissionais que estejam em contato direto com indivíduos em formação (graduação ou pós-graduação). Sendo assim, haverá possibilidade de implementar as mudanças desde a formação para que o profissional aprenda a trabalhar em equipe, integrando saberes e prestando assim um atendimento de melhor qualidade. Descrição da experiência: Criação de um curso de formação pedagógica para a prática da preceptoria tendo como eixos estruturantes o cuidado, a gestão e a educação, com o objetivo de capacitar preceptores de programas de Residência para atuarem como atores de mudança no processo de formação profissional em saúde. Criado pela gestão da Coordenadoria de Desenvolvimento Acadêmico do Hospital Universitário Pedro Ernesto, hospital de ensino da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, através do NAPPRE (Núcleo de Apoio Psicopedagógico ao residente), é caracterizado como curso de extensão, modalidade aperfeiçoamento, utiliza metodologias ativas de ensino e aprendizagem em atividades presenciais e à distancia, utilizando a plataforma Moodle, através do Telessaúde Uerj, buscando a aprendizagem significativa para o desenvolvimento das competências pedagógicas do preceptor em todas as atividades propostas, sendo essa uma das estratégias de educação permanente da instituição e constituinte do programa de desenvolvimento acadêmico da instituição. O objetivo principal do curso é a qualificação do preceptor e do programa de residência no qual o mesmo se insere. Para tal, o preceptor apresenta ao concluir o curso, um projeto de intervenção para aperfeiçoamento do Programa de Residência ao qual está vinculado com supervisão, apoio e acompanhamento da equipe da CDA/NAPPRE. A iniciativa do Curso surgiu após o primeiro encontro do Fórum permanente de Residência do Hospital Universitário Pedro Ernesto, também promovido pela Coordenação Acadêmica do HUPE, no qual após um dia cheio de atividades onde grupos de trabalho pensaram no papel do preceptor, todos os produtos trazidos pelos grupos falavam claramente sobre o conceito de preceptor que incluía competências gerais, pedagógicas e atitudinais, assim como competências específicas relacionadas à sua área de trabalho. No que dizia respeito às responsabilidades educativas do preceptor foi pensado pelos grupos que este deveria gostar do que faz, estar presente e aberto à contribuição do residente e à troca, ter atitudes e comportamentos éticos, saber liderar, planejar e implementar atividades educacionais coerentes com as peculiaridades do local de trabalho, respeitar as individualidades para favorecer o aprendizado dentro do perfil institucional, estimular a produção do conhecimento, ser comprometido com a instituição, com os pacientes e com suas funções. Ainda neste Fórum, ao final do dia, algumas frases foram registradas: “Devemos continuar como fórum permanente. Incentivo a criação do curso para preceptores.”; “Tenho certeza que hoje se inicia de modo mais amplo, um processo irreversível de avanço”; “O HUPE agora tem um espaço permanente para a discussão da formação do preceptor e, consequentemente, na formação de uma residência de boa qualidade.”; “As discussões foram relevantes e a diversidade entre as preceptorias nos faz repensar. A finalidade de ser fórum permanente é necessária.”; “Sugiro a criação de um espaço formador de preceptores a fim de uniformizar a cultura da preceptoria do HUPE.”; “São necessários vários desdobramentos e continuidade de ações e, para esse início, a dinâmica foi muito proveitosa.” A partir daí a construção do curso, bem como seus objetivos já faziam todo o sentido. Efeitos alcançados: Foram 21 preceptores inscritos na primeira turma (95% mulheres) de 6 categorias profissionais diferentes (5 médicos, 3 enfermeiros, 3 nutricionistas, 2 fonoaudiólogos, 5 assistentes sociais, 3 fisioterapeutas), todos atuantes na instituição, dos quais a média de tempo na preceptoria é de 9 anos. Destes participantes, 33% desconheciam as Diretrizes Curriculares Nacionais e dentre os 67% restantes, as competências mais citadas por eles referiam-se 78% à atenção à saúde e/ou educação permanente em saúde. As expectativas dos preceptores relacionadas ao curso incluíam: compreensão e aperfeiçoamento da prática pedagógica, identificação de possibilidades e desafios institucionais e valorização da função do preceptor e do espaço de troca. Deste grupo de preceptores, 17 ( 83%) concluíram o curso, conseguindo desenvolver projetos de intervenção que qualificassem ou promovessem mudanças de atitudes em seus programas de residência. Para que uma rede de ações contínua se estabeleça, no dia da finalização da primeira turma do curso, ocorreu o início da segunda, possibilitando um vínculo de trabalho entre os participantes o que pode favorecer que, institucionalmente, ocorram as mudanças pensadas pelo grupo em seus projetos. Ainda houve o convite a seis preceptores para tornarem-se facilitadores da segunda turma do curso, sendo que três (50%) puderam aceitar o convite, tornando o ciclo de trabalho cada vez mais ativo e participativo. Recomendações: O exercício da preceptoria exige competências pedagógicas específicas, porém faz-se necessário que estes profissionais compreendam sua função a fim de tornarem legítimo seu exercício e se implicarem no processo. Entendemos que a formação pedagógica é mais complexa que a transmissão de conteúdos. A implementação de saberes baseados nas competências citadas na DCNs, tornando o profissional de saúde capacitado a atuar, com senso de responsabilidade social e compromisso com a cidadania, como promotor da saúde integral do ser humano é um desafio para professores e preceptores, exige o exercício de reflexão permanente e de trabalho em equipe, além de espaços coletivos de aprendizagem que favoreçam a construção coletiva, a legitimidade e a parceria institucional.