Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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A VISITA DOMICILIAR REALIZADA PELO AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE NA VISÃO DO ENFERMEIRO
Angela Fernandes Leal da Silva, Sonia Acioli, Luciana Valadão Alves Kebian, Laís Paiva das Chagas, Patricia Ferraccioli

Resumo


Introdução: Este estudo tem como objeto a visão dos Enfermeiros acerca das práticas desenvolvidas por Agentes Comunitários de Saúde (ACS’s) durante a visita domiciliar (VD) no contexto da Estratégia Saúde da Família (ESF). A Saúde da Família é uma estratégia centrada na família, entendida a partir de seu ambiente físico e social, o que facilita a compreensão ampliada do processo saúde/doença e a necessidade de intervenções que vão além das práticas curativas pelas equipes de saúde da família (BRASIL, 2001). O modelo preconiza uma equipe de caráter multiprofissional (um médico generalista, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem e quatro a seis agentes comunitário de saúde por equipe) que trabalha com definição de território de abrangência, adscrição de clientela, cadastramento e acompanhamento da população residente na área (ESCOREL et al., 2007). A ESF prevê ainda a utilização da atenção domiciliar à saúde, em especial uma categoria mais específica, a visita domiciliar que prioriza o diagnóstico da realidade dos indivíduos. Os ACS’s devem pertencer à comunidade onde atuam desenvolvendo ações nos domicílios de sua área de responsabilidade, como a VD. Participam da programação das unidades, onde, suas atividades são supervisionadas e coordenadas, principalmente pelos enfermeiros (CARBONE; COSTA, 2009) embora, não sejam membros da equipe de enfermagem. Azeredo et al (2007) destacam que os ACS’s são os maiores responsáveis pelo acompanhamento domiciliar das famílias, no entanto, a VD não deixa de ser realizada também por outros profissionais que compõem a equipe. Nesse contexto, definiu-se como objetivo conhecer a visão dos Enfermeiros acerca das práticas desenvolvidas por ACS’s durante a VD na Estratégia Saúde da Família. Metodologia: Trata-se de um estudo descritivo, de natureza qualitativa. O cenário de estudo foram duas Unidades Básicas de Saúde da Família. Os sujeitos foram oito ACS’s alocados nas unidades selecionadas. A coleta de dados foi realizada em 2010, por meio de entrevistas semi-estruturadas, e para a avaliação dos dados utilizou-se a técnica de análise de conteúdo proposta por Bardin. Esta pesquisa seguiu as determinações do Conselho Nacional de Saúde e foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro através do parecer 324A/2009. Resultados: A partir da análise das entrevistas foram construídas três categorias: a visão dos enfermeiros sobre as práticas de saúde dos ACS’s desenvolvidas na VD; a segunda categoria aborda a interação profissional entre enfermeiro e ACS's durante a VD; e, a terceira trata do vínculo entre ACS's e as famílias na VD. Em relação à primeira categoria os enfermeiros referem que o ACS identifica as demandas de saúde da população durante a VD por meio da observação, principalmente da infra-estrutura a das relações intrafamiliares. E, que estes são responsáveis por compartilhar os achados com os outros membros da equipe revelando o quão complexo é o processo de trabalho em uma equipe multiprofissional. Dentro desta realidade o diálogo entre os profissionais é considerado fundamental para a dinâmica de trabalho desenvolvida na ESF. Realiza ainda ações de educação em saúde a partir dos principais problemas de saúde apresentados pela comunidade. Atividade esta avaliada pelos enfermeiros como predominante dentro das práticas do ACS. O discurso dos enfermeiros trouxe ainda a prática educativa como a ação que freqüentemente é desenvolvida em conjunto por estes profissionais. Por vezes, os enfermeiros relatam o fato do ACS acompanhar todos profissionais de saúde ao domicílio por diversos motivos tais como, os outros profissionais sentem-se seguros ao caminhar pela comunidade com o ACS por este ser um morador daquela localidade, que no caso do cenário do estudo em particular apresenta um contexto de violência. No entanto, o papel do ACS durante a VD acaba se limitando a acompanhante dos outros membros da equipe. O enfermeiro, como estabelecido pela ESF, realiza a visita domiciliar somente aos usuários com necessidades de saúde prioritárias identificadas pelos ACS. Neste caso, o enfermeiro acompanhado do ACS realiza a visita domiciliar, o que facilita a aproximação com a família e o desenvolvimento de práticas de saúde mais coerentes com a realidade destes usuários. Na segunda categoria, relativa à interação profissional entre enfermeiro e ACS's durante a VD, os relatos demonstram que a principal atividade que eles realizam juntos é a educação em saúde especificamente orientação acerca da prevenção e tratamento de algumas patologias. Evidencia ainda pouca interação entre os profissionais, o que por vezes gera situações de conflito. Contudo nos relatos dos enfermeiros surgiram menções a confiança depositada nas práticas desenvolvidas pelo ACS. Com relação à terceira categoria, a relação dos ACS's com os usuários é valorizada pelos enfermeiros, geralmente a família adquire vínculo que facilita a interação com a equipe sendo explicada pelo fato do ACS ter o papel de mediador da integração entre a equipe de saúde e a comunidade. Desta forma os usuários sentem-se seguros para revelar suas vulnerabilidades e necessidades facilitando o diagnóstico situacional e a elaboração de estratégias de intervenção fundamentadas na co-responsabilidade. Conclusão: Ao pautar a visão dos enfermeiros sobre as práticas desenvolvidas pelo ACS’s durante a VD, identificou-se que o papel do ACS é atrelado à identificação de demandas de saúde das famílias de sua micro área. Os ACS’s e enfermeiros orientam as famílias sobre os principais problemas de saúde que afligem a comunidade. A interação profissional enfermeiros e ACS’s é pequena. Diversas vezes, ocorre desvalorização do papel do ACS pelo enfermeiro ao utilizá-lo apenas como acompanhante durante a VD. Acredita-se que a interação entre ambos está sendo prejudicada pela ausência de reflexão em torno das práticas de saúde desenvolvidas durante a VD. Apesar disso, as práticas desenvolvidas por esses profissionais foram reconhecidas pelos enfermeiros como importantes dentro do processo de trabalho, assim como vínculo dos ACS’s com as famílias. Referências ACIOLI, S. Novos olhares sobre a saúde: sentidos e prática populares. [tese de Doutorado em Saúde Coletiva]. Rio de Janeiro: Instituto de Medicina Social, Universidade do Estado do Rio de Janeiro; 2003. 147f. BRASIL. Ministério da saúde. Departamento de Atenção Básica. Guia prático do Programa Saúde da Família. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2001. CARBONE, M.H; COSTA, E.M.A. Saúde da Família: Uma abordagem multidisciplinar. 2ª. ed. Rio de Janeiro: Rubio, 2009. 261p. ESCOREL, S. et al. O Programa de Saúde da Família e a construção de um novo modelo para a atenção básica no Brasil. Revista Panamericana de Salud Pública, Washington, v.21, n.2-3, p. 164-176, Feb./Mar. 2007. AZEREDO, C. M et al. Avaliação das condições de habitação e saneamento: a importância da visita domiciliar no contexto do Programa de Saúde da Família. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 12, n. 3, p. 743-753, maio/jun. 2007.