Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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ACOLHIMENTO: MODO DE PRODUÇÃO EM SAÚDE NA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA
Ariállisson Monteiro dos Santos, Margarete Knoch Mendonça, Ana Cristina dos Santos Mello Ireno

Resumo


Introdução: O acolhimento constitui-se como uma das diretrizes da Política Nacional de Humanização do Ministério da Saúde como uma resposta de atenção às necessidades de cuidado integral e da dimensão subjetiva implicada no seu estado de saúde. Neste sentido a atitude acolhedora é uma atitude atenta e de direito de todo cidadão, é o respeito a sua individualidade. Na Atenção Básica, a Estratégia de Saúde da Família (ESF) apresenta um modelo diferenciado de ação marcado pelas condições de gestão e de trabalho de acompanhamento contínuo das famílias, onde o acolhimento individual e coletivo possui maiores condições de ocorrer. Na prática, este acolhimento, produz um processo de construção e ressignificação subjetiva da consciência dos envolvidos. Objetivos: Investigar a valia do acolhimento e criação de vínculo com os usuários da ESF para a eficácia de processos interventivos e a, participação dos usuários nas ações e relações profissional-usuário. Metodologia: Trata-se de um estudo qualitativo-descritivo com pesquisa bibliográfica sobre acolhimento, Sistema Único de Saúde, Atenção básica. As fontes consultadas foram: artigos, livros, teses, dissertações e publicações do Ministério da Saúde. Também foram observações na rotina da UBSF Paulo Coelho Machado, Campo Grande/MS. Este trabalho é integrante da prática do Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde) da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Discussão: O trabalho em saúde é um processo de produção que se faz mediante atuação de profissionais e usuários por um objetivo em comum. Para tanto a apreciação, valorização e estado subjetivo do usuário, são pré-condições para o sucesso interventivo. O grande volume de demanda de atendimentos e metas de produtividade a serem alcançados acrescentando-se às outras condições estressantes do trabalho, gera a perturbação da escuta clínica dos profissionais, resultando em carências de atenção e cuidado de aspectos sinalizados na fala do usuário sobre seu estado. Por efeito, se sujeita o profissional não a análise do sujeito em seu sofrimento e suas necessidades correlacionadas, mas a avaliação da sua queixa em uma forma isolada. Estudos de Caprara e Franco (1999) expõem que usuários que se percebem despersonificados e reduzidos em sua patologia demonstram desmotivação e crítica ao processo de atendimento. Para estes autores é necessário que os profissionais incorporem cuidados ao sofrimento do paciente onde, além do suporte técnico-diagnóstico se mostrem sensíveis ao reconhecimento da realidade do paciente. É fato que os pacientes algumas vezes não adentram em relatos mais abrangentes sobre sua condição psicossocial e econômica, e até mesmo indiquem outros incômodos físicos os percepcionando como problemas secundários. Em tal lacuna o interesse declarado do profissional proporciona um momento do paciente analisar-se no seu estado de saúde e ser partícipe na sua avaliação clínica. Uma boa relação entre a equipe de saúde e usuários melhora a satisfação, a qualidade do serviço e a adesão ao tratamento. A prática evidencia intervenções capazes de contornar elos inviabilizantes de projetos terapêuticos convencionais (CAPRARA & RODRIGUES, 2004; CAPRARA & FRANCO, 1999). É necessário ao profissional, a continua reinvenção de seu processo de acolhimento e compreensão dos casos. Dito de outra forma, uma plasticidade, ou seja: capacidade de mudança, de adaptação de técnicas e múltiplas combinações de atividades objetivando sempre dar conta da variedade de problemas de saúde, da inconstância dos recursos disponíveis (CAMPOS, 1994, p.63 apud MATUMOTO, 1998, p.24) O atendimento impessoal aos pacientes acentua negativamente a representação de distanciamento entre ele e o profissional de saúde e neste efeito favorece o não reconhecimento do profissional como sujeito empenhado na solução de sua demanda. Nesta posição de desconsideração o paciente se permite às impróprias alterações ou interrupções das recomendações profissionais sem apresentar muitas resistências. Isto é comum pela discriminação de que aspectos particulares de sua condição de vida não foram considerados, mas lhe são avaliados como pertinentes. Conclusões O acolhimento visando o engajamento dos usuários às ações das equipes da Estratégia de Saúde da Família é potencialmente favorável para atingir; a percepção subjetiva dos usuários sobre a ESF e atuação profissional; a motivação aos cuidados preventivos; a fluidez e riqueza de informações na comunicação com usuários; o rapport entre os profissionais da ESF e usuários; o índice de situações conflituosas entre profissional-usuário e por fim; a eficiência dos recursos, instrumentos e métodos da UBSF para mobilizar e informar os usuários das ações de saúde. Estes aspectos são atrelados uns aos outros e direta ou indiretamente alterados por meio da prática do acolhimento na rotina do atendimento. A fluidez da comunicação e a motivação pessoal para o cuidado com a saúde são consequências próprias de quando avaliamos junto do paciente a sua condição de vida e seus problemas subjacentes tentando contorna-los no possível. Efeitos subjetivos vão para além da diminuição do sentimento de impotência do indivíduo sobre sua própria vida, uma característica é o fato do indivíduo passar a reconstruir sua expectativa e representação sobre a atenção e interesse profissional que lhe é dispensado diminuindo sua predisposição a resistentes confrontações das práticas terapêuticas indicadas. Os sentimentos positivamente promovidos, por fim, dentro desta análise, torna a mobilização do público das equipes mais susceptíveis à adesão em ações de promoção e prevenção quando solicitados. Obviamente que para isso se faz necessária o contínuo reforço dos vínculos formados com os usuários e suas famílias. REFERÊNCIAS CAPRARA, A.; FRANCO, A.L.S. A Relação paciente-médico: para uma humanização da prática médica. Cad. Saúde Pública,v.3, n.15, p.647-654, jul-set, 1999. Disponível em: <http: //www.scielo.br/pdf/csp/v15n3/0505.pdf> Acessado 06 jan. 2011. CAPRARA, A.; RODRIGUES, J. A relação assimétrica médico-paciente: repensando o vínculo terapêutico. Ciência & Saúde Coletiva. n.9, v.1, p.139-146, 2004. Disponível em: <http: //www.scielosp.org/pdf/csc/v9n1/19831.pdf> Acessado 06 jan. 2011. MATUMOTO, S. O acolhimento: um estudo sobre seus componentes e sua produção em uma unidade da rede básica de serviço de saúde. Ribeirão Preto, 1998. Tese (mestrado) – Escola de Enfermagem Ribeirão Preto, USP.1998.