Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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A CONSTRUÇÃO CURRICULAR COLETIVA PARA A GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM POR COMPETÊNCIAS: o eixo rede de cuidados a saúde da mulher e da criança
Ana Paula Vieira dos Santos Esteves, Suzelaine Tanji, Jonas Leite Junior, Emilene Pereira de Almeida, André Luiz Chagas de Araújo, Gleyce Padrão de Oliveira

Resumo


CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA: As atuais Políticas Nacionais de Saúde e de Educação apontam para a necessidade de mudanças nos processos de formação profissional, e propõe um novo perfil profissional alicerçado no desenvolvimento cognitivo e na avaliação de competências. Deste modo, o Curso de Graduação em Enfermagem do Centro Universitário Serra dos Órgãos (UNIFESO), com intuito de acompanhar as novas demandas das Diretrizes Curriculares Nacionais, iniciou a implementação do novo currículo a partir de janeiro de 2007, que tem como característica fundamental ser um currículo integrado, onde os conteúdos curriculares se entrelaçam. Este estudo relata a construção das competências voltadas à ação do cuidado e construção do conhecimento à saúde da mulher e da criança visando seus atributos cognitivos, atributos psicomotores (habilidades) e atributos afetivos. Possuíamos uma proposta de ação da integração das antigas disciplinas de enfermagem obstétrica, ginecológica e Neonatal, integrado com as outras disciplinas do antigo ciclo básico: fisiologia, anatomia, histologia, farmacologia e microbiologia. DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA: Em 2009, o curso evolui para o 5º período, cujo eixo de conhecimento versava sobre a saúde da mulher e da criança. Tendo em vista a necessidade de estruturar o período e, pautado na nova proposta pedagógica, tínhamos que construir as competências que iriam direcionar a construção de conhecimento deste referido período. Esta construção constituiu-se numa desafiante e árdua tarefa, não só pelas atividades pedagógicas leituras e discussões, mas, sobretudo, pelo enfrentamento das incertezas de como inovar? Como fazer diferente? Como superar o modelo do currículo tradicional voltados ao cuidado da saúde da mulher e da criança no período neonatal? Como construir competências que levassem o estudante a traçar linhas de cuidado a essa população, visando à integralidade e a interdisciplinaridade? Os objetivos da construção destas competências foram: Levar o estudante a constante ação-reflexão-ação e a construção do conhecimento pertinente à proposta do período; Implementar metodologias ativas e refletir sobre o seu desenvolvimento no processo de formação; Resgatar conhecimentos e experiências prévias; Desenvolver estratégias de ensino, como a construção de situações-problema, práticas em laboratórios de habilidades, conferências, apresentação e discussão de temáticas com a utilização de filmes; Acompanhar o processo de cuidar em enfermagem das mulheres, crianças e suas famílias; Realizar o processo avaliativo de modo formativo, contínuo e sistemático. Dessa forma, escolhemos como referenciais teóricos para a construção das competências do 5º período, Philippe Perrenoud e Isabel Alarcão, partindo dos pressupostos que, para a formação de profissionais enfermeiros visando o cuidado integral da saúde da mulher e da criança, pautados por competências, abrange desde a disposição para aprender até a capacidade de empreender e para isso, requer um ensino de qualidade, ativador de mudanças, que lhes confira competência na realização de atividades assistenciais, gerenciais, de ensino e pesquisa. Para tanto, este relato da experiência da construção destas competências se justifica a partir do momento que demonstra a intencionalidade da ação do cuidado de enfermagem descrita em seus atributos cognitivos, psicomotores (habilidades) e afetivos, diferenciando esse cuidado prestado, centralizando a mulher como protagonista da história e valorizando o trinômio mãe/filho/família para a produção das linhas de cuidado criada por um “coletivo desejante e dialógico”. Outrossim, os profissionais envolvidos, por sua vez, também tiveram que se apropriar do significado da noção de competência, para não torná-las meros exercícios redacionais, eles foram partícipes na validação das competências construídas e foram capazes de não entendê-las apenas como um planejamento elaborado para atender exigências burocráticas. Nas sessões de Educação Permanente, momento que os docentes se encontram para discussão e reflexão do processo didático pedagógico, eles conseguiram ver a intencionalidade das competências propostas em cada momento da construção do conhecimento, os quais os estudantes estavam sendo envolvidos no processo constante de ação-reflexão-ação. No 5º período, construímos as competências específicas e as categorizamos em três dimensões: cognitivas, psicomotoras (habilidades) e afetivas. Buscamos inserir mais competências voltadas ao cuidado integralizado do ser humano em suas vertentes éticas, políticas, sociais, culturais e humanísticas no sentido de ampliar e tecer a rede de cuidados a saúde da mulher e da criança em seu período neonatal, não esquecendo de, centralizar esta população de estudantes e a específica do período (mulher e criança), como geradores e mobilizadores deste cuidado. EFEITOS ALCANÇADOS E RECOMENDAÇÕES: Esse conjunto de competências tem se constituído como estratégia que valoriza a construção de conhecimentos de forma participativa, questionadora e, sobretudo baseada na realidade de situações, fatos e histórias de vida. Para tanto, foram atingidas ao longo do período nos diversos cenários de aprendizagem (módulo tutorial, Integração Ensino Trabalho e Cidadania, Laboratórios de Habilidades, laboratórios de Ciência da Saúde), através de dramatizações, painéis, músicas, brincadeiras populares, jogos educativos, situações problema, atendimento ao usuário, rodas de conversa visando à educação em saúde, dentre outros. Portanto, as competências criadas geraram um âmbito de reflexão e ação no qual se pretende superar a separação que existe entre teoria e prática, entre conhecimento e trabalho e entre a educação e a vida. Nesse sentido, acreditamos que tal metodologia permite um verdadeiro pensar e repensar da prática cotidiana e enriquece o processo de construção de conhecimento, já que parte de uma interação de diferentes olhares favorecendo a reflexão de nossas práticas, no intuito de preparar melhor os docentes e discentes, para a atuação junto a seres humanos que necessitam de cuidados. Assim, compreendemos que as competências pedagógicas contribuem significativamente para a formação de profissionais críticos e suscetíveis às mudanças que ocorrem a todo o momento na sociedade. Percebemos, ainda, que a metodologia adotada fomenta a co-responsabilização pelas decisões tomadas, pois não é centrada em um único ator e sim enfatiza a importância dos diversos atores sociais que constroem as matizes de um sistema de saúde e educação mais justo e igualitário. Assim, torna-se fundamental atentarmos para o caráter participativo que envolve profissionais de saúde e comunidade, que não existe saber mais importante, mas diferentes saberes que possuem igual valor e importância. Nesse sentido, as competências criadas apontaram novas descobertas e caminhos, uma vez que consiste num processo em construção de todos os atores envolvidos, visando à comunicação, para a contextualização, para o estabelecimento de vínculos, de reflexão, de mudanças, de construção coletiva de um saber. A ação docente aqui buscou a formação de profissionais com habilidades e competências aliada ao senso crítico e transformador. Assim, o desenvolvimento da metodologia ativa, cujo princípio é fundamentado pela espiral construtivista, balizada por competências configurou-se em uma experiência diferente da formação instrumental, dando significado de agir em sintonia com os discentes, tornando-se um aprendiz com eles. Aprender a aprender, visando à construção das competências aqui descritas propiciou a busca do conhecimento, respeitando os processos mentais dos sujeitos cognoscentes, aproveitando cada participação com atenção concentrada e, posterior intervenção adequada. Portanto, favoreceu a oportunidade de (re)construção de conceitos, posturas e soluções diante da realidade que se apresentaram no cotidiano do profissional enfermeiro(a) no intuito de melhorar o processo de trabalho da enfermagem e, conseqüentemente assegurar uma assistência de qualidade junto à população.