Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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Mulheres Líderes num Contexto de Destradicionalização - Ecos do Patriarcado na comunidade de Sobrália e arredores
Elizabeth Maria Fleury Teixeira

Resumo


No marco das transformações produzidas pela redemocratização, vivida em diversos países da América Latina nas últimas décadas, no Brasil esse processo se inicia em meados dos anos 80, numa lenta retomada da democracia à sociedade brasileira, processo no qual as mulheres tiveram uma participação importante. Em termos jurídicos, há também o registro da Constituinte de 1988, que trouxe consistentes transformações, construindo-se ali uma delimitação legal dos direitos das mulheres. Estas transformações que inicialmente se observa nas grandes metrópoles, chegaram de uma forma ou de outra às cidades de porte médio e às pequenas comunidades do interior do país. Funcionando como reflexo destas pequenas modificações, algumas estruturas governamentais começaram a surgir dedicadas a pensar políticas públicas na área da mulher - primeiro os estados e depois os municípios passaram a abrigar essas configurações estatais, que participam do processo e foram também a própria expressão destas transformações. Os conselhos estaduais de direitos da mulher, que inicialmente foram criados em Minas e São Paulo (em 1983, no início dos governos Tancredo e Montoro), foram as primeiras estruturas a emergir desse quadro, sendo seguidas pela criação do Conselho Nacional de Direitos da Mulher (1985, gov. Sarney), e Secretaria de Estado dos Direitos da Mulher (2002, gov. Lula), tornando-se depois Secretaria Especial de Políticas Públicas Para Mulheres (2003, gov. Lula). Destinadas a pensar e agir sobre a realidade nacional, essas estruturas estatais estiveram nas transformações que se inscreviam no quadro geral das mudanças trazidas pela redemocratização e os fenômenos próprios da modernidade, resultado de profundas modificações econômicas, sociais e culturais, que se deram em todo o mundo ao longo dos anos 70, 80 e 90. Como resultado de uma destas políticas públicas dedicadas às mulheres, tive a oportunidade de participar da criação de um curso dirigido a mulheres líderes, já recentemente em 2008, a meses da realização de eleições municipais no país. O objetivo do curso, financiado pela esfera federal, aqui em Minas realizado pelo NEPEM-UFMGcom minha colaboração, era melhor qualificar mulheres líderes, pré-candidatas indicadas por seus partidos, para a disputa eleitoral. Nesse episódio, se pôde entrar em contato com mulheres do interior que vivem estes processos de transformação, expressando com suas vivências a complexidade destes fenômenos nos quais estão profundamente envolvidas e não somente como seu resultado ou sua causa (conf. Giddens, 1992; Bourdieu, 1998; Perrot, 2006). Através delas, mulheres que enfrentam conflitos e densidades que este fenômeno implica, se pôde vislumbrar os sinais de um processo de mudança social do qual estas mulheres líderes emergem trazendo uma carga de contradições, complexidades e revelações que interessa compreender melhor. Por esta razão, retomo agora essa experiência no sentido de produzir uma pesquisa quali-quanti, partindo de dados levantados em um Censo de 2008, (questionário aplicado a todas as 107 alunas do I Lidfem), cujas respostas constituem um banco de dados coletados por estudantes bolsistas do NEPEM-UFMG (Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher). O banco de dados constitui um marco inicial desta pesquisa, sendo o primeiro questionário aplicado a mulher líderes do interior do Brasil de que se tem notícia, que será analisado e incorporado ao estudo atual. O objetivo agora é tentar compreender mais ampla e profundamente este fenômeno - a emergência de mulheres líderes no interior de Minas - a partir da vivência de uma amostra selecionada de ex-alunas daquele curso, fazendo um estudo comparado a respeito da experiência das mulheres líderes e de mulheres que levam uma vida mais recolhida ao lar. Isto é, vivem uma experiência no âmbito da vida privada, enquanto aquelas mesclam as duas experiências – vida pública e vida privada. Partimos do pressuposto de que estas comunidades escolhidas – Sobrália e a vizinha Governador Valadares - podem apresentar diferenças de estágio de desenvolvimento, crescimento e diferenças culturais, de cuja análise comparada a pesquisa poderá se beneficiar, estudando as vivência de suas líderes emergentes em comparação com a experiência de mulheres que escolheram uma vida mais recolhida ao lar.