Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO PELA FOTOGRAFIA: DISTINÇÃO ENTRE A ESSÊNCIA E A APARÊNCIA NA IMAGEM FOTOGRÁFICA NO ACAMPAMENTO PEDAGÓGICO MANDALA (EPSJV/FIOCRUZ)
Gregorio Galvão de Albuquerque

Resumo


A fotografia, assim como a obra de arte, altera seu papel social, político e econômico no desenvolvimento sistema capitalista. Para Harvey (1989), há um fascínio na modernidade pela técnica, “velocidade e pelo movimento, pela máquina e pelo sistema fabril, bem como pela cadeia de novas mercadorias que penetravam na vida cotidiana”, provocando “uma ampla gama de repostas estéticas que iam da negação à especulação sobre possibilidades utópicas, passando pela imitação” (HARVEY, 1989, p.32). Neste sentido, a fotografia, uma produção material do ser humano, é um campo de disputas ideológicas para o ocultamento e fetichismo das relações sociais. Uma arte que permitiu a reprodução das ideologias das classes dominantes, utilizando-a como espetáculo. A fotografia passa a ser identificada como discurso, prática do olhar e também pedagógica a partir da apreensão de elementos e unidades no corpus fotográfico, permitindo uma aproximação à rede de significações que subsumem nosso olhar à imagem, superando, assim, a naturalização de realidade da fotografia. Como os jovens pensam sobre as imagens na sociedade do consumo? Eles produzem imagens, mas somente extraem delas a aparência? Estas perguntas são norteadoras para o estudo que tem como objetivo principal analisar a imagem fotográfica como produtora de conhecimento e sua potencialidade pedagógica. As opções metodológicas que norteiam a leitura das imagens fotográficas se definem a partir de premissas da fotografia se relacionando a dois aspectos: como mediação de um contexto histórico social e cultural da sociedade de consumo, seja no ato da produção ou na própria realidade retratada; e a fotografia em si mesma, como um registro visual estético de uma experiência criadora do fotógrafo. Por se constituir como um artefato cultural produzido pelo homem, sua análise “deve resultar tanto de um ponto de vista social dos significados que o fotógrafo tira da realidade, quanto de aspectos da tecnologia fotográfica contemporânea” (CIAVATA, 2002, p.52). Como campo empírico do estudo será analisada a experiência de produção de imagens fotográficas nos Acampamentos Pedagógicos Mandala da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV) da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ). A EPSJV possui como elementos estruturantes do seu currículo integrado: o Trabalho, como princípio educativo e produção da existência humana; a Ciência, como conhecimento que se produz pela humanidade; e a Cultura, como dimensão simbólica da vida social. Garantindo o processo de aprimoramento do aluno no sentido do desenvolvimento de valores e instrumentos de compreensão e crítica da realidade e também o acesso ao conhecimento científico e tecnológico na contemporaneidade, resgatando o processo histórico deste conhecimento. A produção e discussão artística assumem a dinâmica de resgate da cultura e seus valores em uma dinâmica de relação com o trabalho.A EPSJV possui um currículo integrado que busca inovações e disciplinas que proporcionem esta integração. Uma articulação entre a arte e a ciência permite deflagrar processos criativos nesta direção. Um dos projetos da EPSJV que caminham nesta direção é o Projeto Acampamentos Pedagógicos Mandala. Uma possibilidade de unir a arte, o trabalho, a ciência e a cultura, gerando conhecimento como parte do aperfeiçoamento que a atuação sobre a natureza produz, e o trabalho se torna princípio educativo, evidenciando a relação entre ciência e produção e as implicações da divisão técnica e social do trabalho. O Projeto Acampamentos Pedagógicos Mandala da EPSJV tem como objetivo ampliar as possibilidades de formação integrada do Ensino Médio, utilizando como eixo principal à dimensão da cultura, transversalmente a do trabalho e da educação. O projeto surge, em 2008, como uma proposta de democratizar o acesso aos alunos de atividades de integração e aprendizado fora do ambiente escolar, potencializando e problematizando a definição simplista de “acampamento”. “Há que se dar ao aluno horizontes de captação do mundo além das rotinas escolares, dos limites do estabelecido e do normatizado, para que ele se aproprie da teoria e da prática que tornam o trabalho uma atividade criadora, fundamental ao ser humano” (CIAVATTA, 2010, p. 101). O Projeto de Acampamentos Pedagógicos Mandala surge no sentido de se pensar a pertinência de um projeto que promova tal experiência, em oposição à vivência do urbano mediada por imagens naturalizadas no cotidiano. A produção de imagens dentro de uma experiência de acampamento - onde os alunos são retirados do seu contexto urbano e tecnológico e colocados em experiência - através de oficinas de fotografia e processo de interiorização e exteriorização compõe o leque de atividades que visa corroborar a interpretação e a vivência dentro de um determinado espaço, elaborando, assim, uma crítica sobre as imagens do seu cotidiano. É por esse caminho, a educação pela experiência, que se acredita promover efetivamente a formação. O trabalho com fotografias no Projeto Mandala tenta explorar o máximo da criatividade e a abordagem crítica daquilo que é fotografado. O aluno tem a oportunidade de dizer o significado que aquelas imagens possuem para ele e para sua construção mental daquele lugar, mas, agora, não mais de uma forma tão distante, como quando visto na televisão ou no cinema, mas sim como uma experiência adquirida com os acampamentos. Primeiramente, é preciso entender e investigar como as imagens, principalmente as urbanas, são construídas, reconstruídas e naturalizadas. Investigando tanto a percepção e a recepção das imagens diante das relações sociais, culturais e econômicas. As fotografias têm seu sentido modificado para os alunos quando estes deixam seu lugar de apenas receptores e passam a ter um papel ativo sobre a imagem que consomem, já que são eles que as constroem também. É o despertar do senso crítico, da desconstrução de uma imagem, de um espaço naturalizado. É a inclusão da diferenciação na formação cultural do indivíduo, pois, ao se manter a relação natureza-urbano, criam-se espaços de contradição socioculturais onde os alunos passam a entender melhor essa relação e se apropriam melhor desses conceitos (natural e urbano) e de suas especificidades. Este trabalho é resultado parcial da dissertação no Programa de Pós-Graduação em Educação na Universidade Federal Fluminense (UFF) Referências CIAVATTA, Maria. O mundo do trabalho em imagens: a fotografia como fonte histórica. Rio de Janeiro: DP&A, 2002. ___. A formação integrada: a escola e o trabalho como lugares de memória e de identidade. In.: FRIGOTTO, Gaudêncio. CIAVATTA, Maria. RAMOS, Marise (orgs).Ensino Médio Integrado - Concepção e contradições 2.ed. São Paulo: Cortez, 2010. p.83-105. HARVEY, David. Condição pós-moderna. 20ªed. São Paulo: Redições Loyola, 1992.