Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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Apoio Matricial da Saúde Mental às equipes da atenção básica: conquistas e desafios de uma nova experiência na Residência Integrada em Saúde do Grupo Hospitalar Conceição Apoio Matricial da Saúde Mental às equipes da atenção básica: conquistas e desafi
Maria Marta Orofino, Ana Celina de Souza, Marta Marcontonio

Resumo


Resumo: CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA: O apoio matricial constitui um arranjo organizacional que visa oferecer suporte técnico em áreas específicas às equipes responsáveis pelo desenvolvimento de ações básicas de saúde para a população. Nesse arranjo, a equipe por ele responsável, compartilha alguns casos com a equipe de saúde local. Esse compartilhamento se produz em forma de co-responsabilização pelos casos, que exclui a lógica do encaminhamento, podendo se efetivar através de discussões e/ou intervenções conjuntas de caso e/ou comunidades. Assim, ao longo do tempo e gradativamente, também estimula a interdisciplinaridade e a ampliação da clínica na equipe. Avaliando da necessidade de dialogar com este conceito, no processo de formação de residentes multiprofissionais, as ênfases de Saúde Mental e Saúde da Família e Comunidade, da Residência Integrada em Saúde do Grupo Hospitalar Conceição (RIS/GHC) promoveu, durante o ano de 2011, uma primeira experiência de estágio integrado em apoio matricial da Saúde Mental, em algumas ESF e UBS da Gerência Distrital Norte Eixo Baltazar (GDNEB) da Prefeitura Municipal de Porto Alegre. DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA: Um grupo de trabalho, composto por coordenação da RIS, preceptores, equipe de apoio matricial e gestão municipal, iniciou o construção deste projeto a partir da experiência que a equipe de apoio matricial realizava nos serviços de atenção básica da gerência. Neste primeiro momento levantamos 7 serviços de saúde na gerência dispostos a receberem residentes de núcleos profissionais diferentes, sendo estes: Psicologia, Enfermagem, Terapia Ocupacional, Serviço Social e Educação Física. Foram 3 Unidades Básicas de Saúde (UBS) e 4 Estratégias de Saúde da Família (ESF), que trabalharam com 3 residentes ao longo de 8 meses. A/O residente da saúde mental esteve durante os 8 meses de realização do estágio, e as/os residentes da SFC, cada um/a ficava 4 meses, no primeiro e segundo semestre respectivamente. Cada equipe de saúde apresentou um/a trabalhador/a para ser a referência no campo, aquele que inicialmente seria o acolhedor deste novo colega de trabalho em formação e que facilitaria sua apresentação na equipe. Nossas principais recomendações para as equipes e para os residentes foram que toda equipe fosse participante nesta formação, e que as ações do apoio matricial seriam da equipe em conjunto com o/a residente, nunca ao contrário. Os objetivos iniciais do estágio foram: estímulo ao aquecimento da rede intersetorial, promoção de abordagens de saúde mental coletiva no território, nucleação de grupos, promoção de trabalho interdisciplinar, entre outros. Importante destacar que estes objetivos são frutos de processos longitudinais de curto, médio e longo prazo, e que requerem relações interpessoais baseadas no respeito, na confiança, no vínculo e na co-responsabilização entre as/os residentes e os trabalhadores das equipes de saúde. Os proponentes e participantes do estágio pactuaram a existência de espaços coletivos de sustentação do estágio, como reuniões mensais para compartilhar as experiências, encontros com a equipe de apoio matricial com participação dos preceptores e referência local. EFEITOS ALCANÇADOS: Este encontro entre gerências, serviços, ênfases, campos de práticas e núcleos profissionais provocou uma experiência indiscutivelmente favorável para o processo de formação dos Residentes (R2), bem como das equipes de trabalho, no que compete às ações cotidianas de articulação da saúde mental com a atenção básica. Importante destacar que este estágio deu condições para que um importante diálogo acontecesse: entre as ênfases da residência integrada, construindo um cenário de prática comum para os residentes da atenção primária e da saúde mental, que até então tinham um encontro semanal teórico de duas horas, como espaço de encontro entre as ênfases. Sobre as diferentes experiências em apoio matricial, o estágio provocou diversas intensidades de trabalho conjunto. As equipes puderam contar com um maior volume na presença do apoio matricial em saúde mental no cotidiano de trabalho, o que provoca, constantemente, os profissionais para utilizarem o recurso do apoio, nos problemas encontrados na atenção. Serviu também para provocar novos posicionamentos dos trabalhadores de saúde frente às possibilidades criativo-resolutivas incidindo no cuidado ao usuário e da própria equipe. Diversas equipes, diferentes problemas, criativas soluções. Aconteceram experiências de avaliação das referências e contra-referências acumuladas na caixa de marcação de consultas, com posterior realização de grupos de acolhimento a estes usuários “pacientes”, no intuito de avaliar o nível de sofrimento, o grau de urgência e pensar planos terapêuticos possíveis para estes usuários. Outros serviços realizaram um mapeamento da rede social, comunitária e intersetorial de apoio ao trabalho com saúde mental, com referências de contato, estreitamento de laços a partir de uma demanda da própria rede com a unidade de saúde. Para o grupo de residentes, de maneira geral o estágio foi considerado positivo, por vários motivos, que passam pela possibilidade de trabalhar com outra ênfase da RIS, de aprender com o outro e vivenciar o trabalho em conjunto com o profissional de referência (atenção básica ou saúde mental), a partir de uma intensidade diferente daquela operada na lógica do encaminhamento. Acreditamos que o estágio constituiu estes trabalhadores em formação a partir da política de apoio matricial, ampliando sua atuação para estar entre os serviços, indo além da formação em especialidades. Regidas pelo modelo de redes de cuidado, de base territorial e atuação transversal com outras políticas específicas, fundamentadas nos princípios do SUS e da Reforma Psiquiátrica, bem como o estabelecimento de vínculos e acolhimento, as ações proporcionadas por este estágio resultaram em novos aprendizados para todos envolvidos neste processo de formação. Recomenda-se a continuidade da experiência, pelas avaliações realizadas de todos integrantes do estágio. Nesta próxima fase o estágio terá tutoras de referências que são profissionais envolvidas com o ensino em serviço das duas ênfases de residência, para aproximar-se dos desafios vivenciados pelos residentes em seu processo de formação e facilitar o seu desenvolvimento enquanto apoiador matricial. Desta forma, o presente relato tem como objetivo principal compartilhar esta experiência no programa da RIS/GHC que, por sua inovação e ousadia, contribuiu positivamente não só para o processo de formação em serviço destes residentes, mas também para a organização da atenção à saúde mental em rede e para potencializar práticas de intersetorialidade, interdisciplinaridade e promoção da cidadania dos usuários e familiares.