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A EXPERIÊNCIA DO VER-SUS CULTURA: PROMOÇÃO E PRODUÇÃO DE SAÚDE ATRAVÉS DA ARTE
Resumo
A Promoção (e a produção) da Saúde O conceito de Promoção da Saúde, expresso na construção da Política Nacional de Promoção da Saúde (BRASIL, 2010), contempla a noção de qualidade de vida, de relações mais solidárias, tolerantes com os outros, relações cidadãs com o Estado e relação de extremo respeito à natureza. A Promoção da Saúde é, portanto, uma das estratégias do setor saúde para buscar a melhoria da qualidade de vida da população. Seu objetivo é produzir a gestão compartilhada entre usuários, movimentos sociais, trabalhadores do setor sanitário e de outros setores, produzindo autonomia e co-responsabilidade. A Política Nacional de Promoção da Saúde, diz que: [...] Entende-se que a promoção da saúde é uma estratégia de articulação transversal na qual se confere visibilidade aos fatores que colocam a saúde da população em risco e às diferenças entre necessidades, territórios e culturas presentes no nosso País, visando à criação de mecanismos que reduzam as situações de vulnerabilidade, defendam radicalmente a equidade e incorporem a participação e o controle sociais na gestão das políticas públicas [...] (BRASIL, 2010) O VER-SUS A realização de projetos de Vivências e Estágios na Realidade do Sistema Único de Saúde (VER-SUS) tem sido uma estratégia adotada, nacional e localmente, com o objetivo de reorientar a formação profissional em saúde por meio da integração de estudantes à realidade da organização dos serviços, levando-se em consideração os aspectos de gestão do sistema, as estratégias de atenção, o controle social e os processos de educação na saúde. Os participantes das vivências/estágios são estimulados a se comprometerem com os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS) e com as necessidades da população, e agirem como atores sociais capazes de realizar transformações. O VER-SUS permite a integração de diferentes profissionais da área da saúde, incentivando, assim, a convivência e o trabalho multiprofissional. Os Pontos de Cultura e Saúde Em 2004, nasce o Programa Nacional de Cultura, Educação e Cidadania – Cultura Viva que visa estimular e fortalecer uma rede de criação e gestão cultural, baseada no empoderamento, na autonomia e no protagonismo social, recepção e disseminação cultural, tendo como principal ação a criação de Pontos de Cultura selecionados por meio de editais. Os Pontos de Cultura são espaços de permanente produção, formação do indivíduo, reconhecimento dos modos de vida, participação social, recepção e disseminação cultural (IPEA, 2010). São transversais à cultura e não possuem um modelo único nem de instalações físicas, nem de programação ou atividade (BRASIL, 2005). Os Pontos de Cultura são reconhecidos e apoiados financeira e institucionalmente pelo Ministério da Cultura e possuem gestão compartilhada entre o poder público e a comunidade. No ano de 2007, os Ministérios da Cultura e da Saúde fizeram um acordo de cooperação para desenvolverem ações em conjunto no sentido de garantir acesso aos bens e serviços culturais, à qualificação do ambiente hospitalar e das unidades de saúde, promovendo o diálogo entre as práticas culturais e as políticas públicas de saúde, considerando a diversidade, promovendo a humanização e resignificando, assim, o cuidado em saúde (BRASIL, 2010). Em 2008, foi lançado o edital Cultura e Saúde, que selecionou iniciativas culturais que atuassem no campo sociocultural com promoção da saúde, prevenção de doenças e educação popular para o cuidado/autocuidado em saúde. No Rio Grande do Sul, o Grupo Hospitalar Conceição (GHC) criou, através deste edital, uma Rede de Pontos de Cultura e Saúde que fazem articulação entre a rede pública de atendimento à saúde e a rede pública de equipamentos culturais. A experiência do VERSUS CULTURA Em 2010, a Comissão de Integração Ensino Serviço da 1ª Coordenadoria Regional de Saúde do Rio Grande do Sul (CIES-1ª CRS/RS), em parceria com o Grupo Hospitalar Conceição (GHC), com docentes, discentes e trabalhadores, realizou o “VER-SUS CULTURA: Um Tororó de Parpite”, junto à Rede de Pontos de Cultura e Saúde do GHC. O VER-SUS CULTURA foi realizado em dezembro de 2010. A primeira atividade teve como objetivo propiciar aos estudantes conhecer e vivenciar algumas das práticas de promoção de cultura e saúde nos Pontos visitados: Ponto “Falando a Gente se Entende” (tem como objetivo formar comunicadores populares); Ponto “Teia Viva: Arte, Trabalho e Saúde” (tem como desafio construir espaço de reflexão sobre o conceito de cuidado, a partir da percepção de saúde como um bem associado a outras esferas da vida, lazer, trabalho e educação); Ponto “Ventre Livre” (têm como foco trabalhar a saúde da mulher, em especial questões relacionadas à gravidez); Ponto “Jardim Ipiranga” (realiza oficinas com o objetivo de criação de grupos que possibilitem a inserção social na construção da cidadania); Ponto “Saúde na Tela” (aborda o tema cinema e saúde e tem por objetivo proporcionar às comunidades atendidas pelo GHC acesso à cultura audiovisual e conhecimentos técnicos para geração de trabalho e renda); Ponto “Cultura GHC: no Caminho da Integralidade” (Programa Saúde na Comunidade em parceria com a Rádio Comunitária do Rubem Berta); Ponto “Nazaré Zen” (o foco prioritário são os jovens, com vistas à qualificação para o mercado de trabalho no ramo da informática). No segundo momento da vivência, os participantes, através da metodologia de discussão em roda, debateram a experiência e conversaram sobre os aprendizados que a vivência proporcionou. Neste encontro, refletiu-se acerca da potencialidade que estudantes, profissionais e usuários, enquanto diferentes atores sociais, tem de transformar a realidade social. Discutiu-se também sobre a construção de um conceito ampliado de saúde, sobre a educação permanente e o empoderamento dos usuários. Evidenciou-se a importância das práticas interdisciplinares e multiprofissionais, articuladas interinstitucional e intersetorialmente, a fim de que seja possível obter maior integração ensino-serviço no campo da saúde e a necessidade de reorientar as práticas de ensino e atenção. Além disso, a vivência permitiu reafirmar a saúde como um direito social, fortalecendo a consciência sanitária, realizando um amplo debate sobre o fortalecimento da cidadania, compreendendo a importância da participação do Estado e da sociedade no que se refere ao direito à saúde. O VER-SUS CULTURA permitiu, por fim, que os participantes (literalmente) vivenciassem novas formas, através da cultura, de se promover e produzir saúde, ressaltando o potencial de iniciativas culturais nos mais diversos espaços de educação e saúde. Para que se tenha uma dimensão do quanto realizado, disponibilizamos um vídeo construído pelos próprios participantes (com cerca de 5min de duração), a fim de refletir sobre a potencialidade das experiências vividas e apontar novos e possíveis caminhos para a educação popular em saúde e para a promoção da saúde. Vídeo disponível em: http: //www.youtube.com/watch?v=UEV71m4En8k BRASIL. Ministério da Cultura (MinC). Catálogo Cultura Viva - Programa Nacional de Arte, Educação, Cidadania e Economia Solidária. 3ªed. 2005. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Política Nacional de Promoção da Saúde / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde. – 3. ed. – Brasília : Ministério da Saúde, 2010. IPEA (SILVA, Frederico A. Barbosa da & ARAÚJO, Herton Ellery: organizadores). Cultura viva: avaliação do programa arte educação e Cidadania. Brasília: Ipea, 2010. BRASIL. Ministério da Saúde, Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Departamento de Gestão da Educação na Saúde. VER – SUS Brasil: cadernos de textos. Brasília: Ministério da Saúde, 2004.