Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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Atendimento no serviço público de saúde: percepções dos participantes de uma Parada LGBT do Rio de Janeiro.
Heloisa Ferreira dos Santos Corrêa, Luiza Maria Figueira Cromack, Viviane Manso Castello Branco, Maykeline Leite, Denise Jardim, Maria Teresa Pereira, Jeanne Lima, Tania Maria Almeida Silva

Resumo


INTRODUÇÃO: Este texto é resultado de uma pesquisa realizada na 16ª Parada LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transgêneros) do Rio de Janeiro que aconteceu dia 09 de outubro de 2011 na praia de Copacabana. Essa pesquisa foi realizada por adolescentes e jovens do Projeto Rede de Adolescentes Promotores da Saúde (RAP da Saúde) da Superintendência de Promoção da Saúde, da Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro em parceria com o Centro de Promoção da Saúde (CEDAPS). Os jovens e adolescentes do RAP da Saúde participam ativamente de movimentos que promovam o respeito à diversidade e aos direitos humanos. Eles ainda atuam em suas comunidades pautando e estimulando a discussão de temas da saúde dentro das escolas, dos serviços de saúde e nas ruas. O RAP da Saúde parte do reconhecimento de que o investimento em adolescentes e jovens e a valorização das suas potencialidades, da criatividade e do dinamismo são elementos chave para a promoção da saúde e do desenvolvimento. O movimento LGBT tem capturado a atenção da sociedade brasileira tanto pelo crescente número de participantes quanto por reivindicações que objetivam repensar o campo político e a ampliação dos direitos sociais. No Brasil, uma multiplicação de eventos conhecidos como Paradas LGBT tem sido realizados a partir da mobilização do que se convencionou chamar de Movimentos Homossexuais. As Paradas, como evento estratégico, questionam os mecanismos sociais e institucionais de inferiorização social e discriminação sofrida pela população homossexual na sociedade brasileira, com a finalidade de transformar a condição de vida desta população. Tem ainda como objetivo maior garantir os direitos dos homossexuais, dar visibilidade a essas categorias sociais fomentando a criação de políticas públicas para os mesmos e ocupar os espaços políticos para proporcionar uma troca efetiva entre todas as categorias sociais, além de elevar a auto-estima dos homossexuais e sensibilizar a sociedade para o convívio com as diferenças. Entretanto ainda se faz necessário a consolidação de legislação específica, pois ainda não há uma que puna e consiga resolver a questão, por exemplo, da união civil entre pessoas do mesmo sexo. Assim sendo, a “Parada LGBT” mostra-se uma ação coletiva de cunho político com grande valia, enquanto instrumento de participação social e política dessa população na sociedade contemporânea, pois através dela emergem tematizações da própria sociedade brasileira. OBJETIVO: Conhecer o perfil dos participantes da Parada Gay e identificar sua percepção a cerca dos serviços municipais de saúde bem como sugestões para qualificação destes serviços para atendimento à população LGBT. MÉTODO: Foi realizada entrevista através de questionário semi estruturado que mostrou além do perfil dos entrevistados, sua experiência com atendimento nas unidades públicas de saúde do município do Rio de Janeiro e sugestões para qualificação das mesmas. RESULTADOS: Foram entrevistadas 161 pessoas maiores de 15 anos, sendo a maior frequência (26,1%) de adolescentes entre 15 e 19 anos. No quesito raça/cor, houve prevalência de pardos (40,37%) e brancos (32,92%). Já na questão orientação sexual, a heterossexualidade foi prevalente em 75,2% dos entrevistados, enquanto apenas 22,3% eram homossexuais, bissexuais, transsexuais ou travestis. Quanto ao atendimento em unidades públicas de saúde, 68,3% já foram atendidos em unidades de baixa, média e alta complexidade. As perguntas abertas revelaram que 70,3% consideram ruim o atendimento nas unidades públicas de saúde e 20,5% sugeriram melhorias no atendimento aos usuários. CONCLUSÃO: Percebe-se que a Parada Gay além de ser um movimento de reivindicações que pensa a ampliação dos direitos sociais da população LGBT, é também um evento público já considerado turístico na cidade. As paradas traduzem, ao mesmo tempo, a luta pela legitimidade dos direitos de igualdade, liberdade e a discussão do reconhecimento das diferenças em âmbitos diversificados, tais como: família, ambiente de trabalho, escola, política. A Parada também é representativa das complexidades ligadas à militância em meio à incorporação de uma linguagem globalizada de ativismo. A insatisfação quanto ao atendimento nas unidades públicas de saúde foi relevante sendo possível, então, iniciar uma reflexão sobre a fragilidade das relações interpessoais entre homossexuais e profissionais de saúde. Embora tenham acesso ao serviço, o desenvolvimento do processo de comunicação é muito superficial e deixa de esclarecer questões importantes. Perde-se, portanto, a oportunidade de desenvolver um trabalho educativo de promoção da saúde. O cuidado aos homossexuais deve ser culturalmente apropriado ao seu valor e estilo de vida, o que justifica a utilização de técnicas e habilidades específicas no atendimento, para a garantia mínima de uma boa anamnese e condução das orientações. Como sugestões para sua melhoria apareceram, principalmente, a necessidade de maior número de profissionais disponíveis, maior investimento financeiro no setor saúde e destinação correta destes investimentos. A participação de jovens é estratégica para enriquecer a discussão e construção de políticas públicas. Os temas mais discutidos entre os jovens são as questões da prevenção do HIV/AIDS, havendo formação dos mesmos para as discussões. A inserção de jovens e adolescentes do RAP da Saúde nos serviços de saúde atuando em parceria com os profissionais de saúde promovem, então, melhorias não só no atendimento ao usuário, mas também nas condições de vida da comunidade. Atividades de promoção da saúde e prevenção da doença são desenvolvidas chamando a atenção para a importância no uso de preservativos (feminino ou masculino) em todas as relações sexuais, na adesão correta ao tratamento e principalmente não dar espaço para o preconceito. Em face desta realidade, é necessário que os órgãos governamentais responsáveis pelas políticas de saúde levem em consideração as mudanças ocorridas ao longo dos anos no comportamento sexual da sociedade e desenvolvam um processo de educação continuada com os profissionais para acolher adeqüadamente essa demanda.