Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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Atividade Física vs Práticas Corporais no diálogo entre a Educação Física e a Saúde Coletiva: uma revisão.
Alessandra Xavier Bueno, Fraga Branco Alex

Resumo


Desde o lançamento da Política Nacional de Promoção à Saúde (PNPS) em 2006 e dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF) em 2008, a discussão acerca da inserção de profissionais de Educação Física no SUS vem ganhando relevo. O profissional “começa a ser reconhecido formalmente como pertinente e legítimo no serviço público de saúde, na dimensão das políticas públicas e na própria discussão da formação em saúde”. Diferentes documentos relativos às políticas públicas de saúde no Brasil, principalmente os documentos acima citados, fazem menção à expressão “Atividade Física/Práticas Corporais”, quase sempre separados por uma barra. A união dos dois termos em uma única expressão parece ter o objetivo de contemplar diferentes conceitos que estão sendo cada vez mais discutidos no campo da Educação Física. Este trabalho é parte de uma revisão de literatura e tem por objetivo apresentar as ideias que circundam os conceitos de Atividade Física e Práticas Corporais e o uso desses conceitos no SUS. Segundo o American College of Sports Medicine (2003), a atividade física é definida como “o movimento corporal produzido pela contração do músculo esquelético que eleva substancialmente o despendido de energia”, ou seja, o conceito está relacionado ao gasto energético. Quando nos referimos à Atividade Física estamos falando de propostas sistematizadas de movimento que consideram apenas o “biológico” do individuo, deixando de lado o que ele pensa ou sente. Isso pode ser observado em diversos trabalhos da área específica, na temática atividade física e saúde. O fato da Educação Física figurar timidamente nas esferas de formulação de políticas públicas de saúde e educação no Brasil pode ser justificada não só por a Educação Física ter seus alicerces na biomedicina hegemônica - enquanto profissão da saúde - mas também por um movimento da própria Educação Física na década de 1980 onde, discutir aptidão física por exemplo, significava preocupar-se com saúde. Já o termo Práticas Corporais é eleito por pesquisadores que estabelecem relações com as ciências humanas e sociais. Está ligado à humanização, às diversas subjetividades, às manifestações culturais. Segundo Carvalho (2010), apesar de podermos pensar as Práticas Corporais como “tecnologias do cuidado”, não podemos perder de vista a dimensão não tecnológica dessas práticas. Elas podem não ter a pretensão de estabelecer normas e regras no que se refere ao cuidado com o corpo; podem viabilizar outros modos de pensar, fazer e sentir o movimento e a gestualidade como expressão de sentidos e significados. No Referencial Curricular da Educação Física do Estado do Rio Grande do Sul (2009), há uma proposição de agrupamento das diferentes práticas corporais que mostra claramente a amplitude deste conceito, colocando para “dentro” do grande grupo das Práticas Corporais Sistematizadas aquilo que, também, chamaríamos de Atividade Física, como por exemplo, a ginástica enquanto exercício físico. Este documento, por ser formulado para a Educação, insere a Educação Física na área das Linguagens e dos Códigos juntamente com Artes, Literatura, Língua Portuguesa e Língua Estrangeira Moderna. Isso se justifica pelo uso da linguagem corporal, um elemento central no processo de interação dos alunos com a cultura corporal de movimento. Os princípios e diretrizes do SUS dialogam claramente com valores de uma cidadania para todos, onde pensar saúde é pensar em diversas esferas da vida do indivíduo e da comunidade (lazer, transporte, acesso aos serviços de saúde, trabalho, moradia dentre outros). O exemplo dos Referenciais Curriculares da Educação Física proposto para a área da Educação pode nos ajudar a pensar de que forma propor programas para a saúde. Se as práticas corporais possibilitarem experienciar outras dimensões pouco exploradas, como as emoções, as relações com o outro, com os elementos da natureza, seriam ainda mais importantes como colaboração que a Educação Física pode prestar em sua contribuição social. No que diz respeito à prática de exercícios físicos, ou comumente chamado de atividade física, como podemos pensar em programas que envolvam diferentes pessoas, diferentes comunidades, sem levar em consideração as diferentes experiências que produzem o sujeito? Pensar os programas de saúde que envolvam as diversas práticas corporais na perspectiva da cultura corporal de movimento, do usuário como ser social e não meramente biológico, requer a problematização destes dois conceitos tratados sucintamente neste trabalho, tanto na formação dos profissionais como nos serviços de saúde. Vale ressaltar que a Saúde Coletiva “é conhecida como um campo de saberes e práticas que toma como objeto as necessidades sociais de saúde, com intuito de construir possibilidades interpretativas e explicativas dos fenômenos relativos ao processo saúde-doença, visando ampliar significados e formas de intervenção”(LUZ, 2007). Partindo do princípio de que o elemento central é o cuidado do usuário, devemos repensar o modo de cuidado do corpo. O corpo - sempre em construção - expressa e (re)significa as diferentes experiências do indivíduo. Assim, o conceito de Práticas Corporais utilizado como base para elaboração de programas que envolvam gestos corporais, permitem que os indivíduos possam participar de atividades que possibilitem produção de novas experiências, que resignifique e que faça sentido para si. A proposta de aproximar a discussão da Educação Física com a Saúde Coletiva traz para a área da Educação Física discussões fundamentadas nas ciências humanas e pode contribuir para que os profissionais específicos compreendam sua prática pedagógica de maneira contextualizada, relevando os elementos da cultura corporal como manifestações e expressões humanas (LUZ, 2007). É incipiente a discussão acerca a diferença conceitual dos termos Atividade Física e Práticas Corporais no campo da Saúde Coletiva. Ampliar esta discussão, principalmente sobre as Práticas Corporais, contribui para a elaboração e resolutividade das ações de cuidado na Atenção Básica. Referências: BAGRICHEVSKY, MARCOS. A formação do Profissional em Educação Física enseja perspectivas (críticas) para a atuação na Saúde Coletiva? In: FRAGA, Alex e WACHS, Felipe. Educação Física e Saúde Coletiva. 2° ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2007 CARVALHO, YARA M. Atividade Física e Saúde: Onde está e quem é o “sujeito” da relação? Revista Brasileira de Ciência do Esporte. V.22, n.2, jan, p.9-21, 2001. ____. As Práticas Corporais como Práticas de Saúde e de Cuidado no Contexto da Promoção de Saúde. Tese de Livre-Docência. Faculdade de Saúde Pública. Universidade de São Paulo. 2010. LUZ, MADEL T. Novos Saberes e Práticas em Saúde Coletiva: Estudo Sobre Racionalidades Médicas e Atividades Corporais. 3ª Ed. – São Paulo: Hucitec, 2007. Secretaria de Educação do Estado do Rio Grande do Sul. Referencial Curricular, vol. II. 2009.