Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE DEPRESSÃO E TRANSTORNO DE HUMOR OU AFETIVO EM CUIDADORES DE PACIENTES HOSPITALARES
Mariana Bogoni Budib, Leticia Ribeiro Lorena, Carem Calixto Correa, Leila Simone Foerster Merey

Resumo


Introdução: O adoecimento de uma pessoa próxima é um fator que desperta problemas emocionais e alterações no cotidiano da família, principalmente nos cuidadores, que estão em contato direto com o paciente. O cuidador geralmente é membro da família ou amigo próximo, e assume este papel de maneira inesperada, sem preparo psicológico, o que pode levar a uma sobrecarga emocional do mesmo. O cuidar exige apoio financeiro e estrutura física, os quais são despendidos pela família, além de períodos de dedicação e estrutura emocional do cuidador, muitas vezes abalada pelo sentimento de ansiedade e medo, normalmente presentes nesta situação, podendo evoluir para sintomas de depressão, transtornos de humor ou afetivos e à diminuição da saúde física. Os sintomas depressivos podem se manifestar de várias formas, como alterações de humor, tristeza, perda de interesse por qualquer atividade, crises de choro, falta de prazer, variação diurna do humor, alterações no sono como insônia ou hipersonia, fadiga, variação de apetite e de peso. Estes distúrbios podem acontecer principalmente durante as internações hospitalares, onde a rotina dos cuidados se torna intensificada. O cuidado informal abrange três categorias: sobrecarga, necessidades e qualidade de vida. A sobrecarga pode corresponder às demandas no papel do cuidar propriamente dito e às sensações relacionadas ao ato de cuidar. As necessidades são agrupadas em cognitivas, emocionais e físicas e, finalmente, a qualidade de vida é definida como bem-estar físico, emocional e social. O cuidado informal é importante para que o paciente conviva com pessoas próximas durante a maior parte do tempo, colaborando com sua recuperação. A qualidade da relação entre paciente e cuidador é considerada um importante fator na mediação do estresse e, indiretamente, ela contribui para a redução do impacto causado pela doença no cuidador. Quando os cuidadores avaliam a relação de forma positiva, é reportado um menor impacto e redução dos sintomas relacionados a estresse e depressão. Objetivo: Avaliar a incidência de transtornos de humor e depressão em acompanhantes de pacientes hospitalares. Metodologia: Foram entrevistadas 19 mulheres cuidadoras de pacientes internados no Hospital Universitário (HU) da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Campo Grande – MS. Os setores selecionados foram: Pediatria, Clínica Médica e Unidade de Pronto Atendimento. Para a avaliação foi utilizado o Inventário de Depressão de Beck, o qual consiste em 21 questões. Dessas questões, apenas 20 itens eram apropriados à população aplicada, pois a maior parte das entrevistadas não se sentiu a vontade para responder, porque o item abordava o tema sexualidade. A seleção das entrevistadas foi realizada de maneira aleatória, e as perguntas eram feitas pelo entrevistador para melhor compreensão e assim, proceder à escolha das alternativas, que era registrada pelos pesquisadores. O Inventário de Depressão de Beck avalia a presença e a gravidade de componentes agressivos, afetivos, cognitivos, motivacionais, vegetativos e psicomotores. Cada item possui uma escala que varia de 0 a 3 pontos, os quais foram somados ao final para obter-se uma taxa que varia de 0 a 60 pontos. Pessoas com escores acima de 15 pontos são consideradas como portadoras de transtornos de humor ou afetivo, e as que possuem escores acima de 20 pontos, são consideradas depressivas. Os resultados foram avaliados por meio de estatísticas simples. Resultados: A idade média das entrevistadas foi de 37,84 anos. Na análise dos resultados foi observado que das 19 mulheres entrevistadas, 2 (10,52%) apresentaram escore acima de 20 pontos, 1 (5,26%) apresentou escore acima de 15 pontos, e 16 (84,21%) mulheres apresentaram escore abaixo de 15 pontos. Entretanto, dessas 16 mulheres, 4 (25%) obtiveram uma pontuação indicando possível transtorno de humor ou afetivo. Conclusão: Observou-se que a maioria das acompanhantes não apresentaram transtornos de humor ou depressão, porém das 19 mulheres entrevistadas, 21,05% apresentaram um escore próximo a 15 pontos indicando um possível transtorno de humor ou afetivo, devendo-se atentar também às mulheres que apresentaram escores acima de 15 e 20 pontos (15,78%). Outro aspecto observado foi a porcentagem de cuidadoras do sexo feminino, totalizando 100%, sendo compostas especialmente por esposas e filhas dos pacientes. Este achado nos leva a acreditar que o fator cultural possa exercer influência neste contexto, onde a função do cuidar é visto como um papel feminino. Cuidadores mulheres sofrem um impacto maior, possivelmente pelas diferenças de tarefas entre o cuidador do sexo feminino e o do masculino. As mulheres frequentemente são responsáveis por várias tarefas desgastantes, como a higiene do paciente, assumir as atividades domésticas, e no caso de esposas e filhas a sobrecarga emocional é maior, devido à perda do convívio social com o ente. A avaliação da qualidade de vida de cuidadores de pacientes hospitalares apresenta características diferenciadas. A atribuição de cuidar pode implicar em um problema de saúde e qualidade de vida, uma vez que o cuidar potencialmente interfere na vida do cuidador que deixa de cuidar de si próprio, abandonando suas vontades, alegrias e prazeres para dar lugar às tristezas, devido a desgastante carga de trabalho e o cansaço excessivo. Estratégias de intervenção com cuidadores merecem atenção especial e podem ser aplicadas visando amenizar a sua angústia e do seu entorno, na tentativa de modificar a maneira como ele interage com o paciente e seus familiares. Sugerimos que novas pesquisas sejam feitas a fim nortear a implantação de ações e estratégias para melhorar a saúde do cuidador evitando um adoecimento futuro.