Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


Tamanho da fonte: 
Avaliação e Planejamento - Demanda Espontânea
Ana Paula Souza, Lorena Viana Vieira, Lidia da Silva Firmino Pereira, Aline Laura Guedes Silva

Resumo


Consideramos que para que haja produção de sentido para o processo de trabalho de uma equipe e, como consequência, melhor resolutividade das ações ofertadas, o planejamento em saúde deve ser construído com base no diagnóstico situacional, na avaliação do serviço e de forma participativa pelos seus membros, considerando as especificidades do território de atuação e da população, as características singulares da equipe e seus objetivos e meios de trabalho. Tendo isso em vista, apresentamos a experiência de uma ação articulada entre ensino e prática, realizada conjuntamente por uma equipe multiprofissional de residentes em Saúde da Família e uma equipe de Saúde da Família, com o objetivo de construir um espaço compartilhado para reflexão e planejamento das ações de saúde. A fim de levantar percepções acerca do processo de trabalho da equipe a partir de um espaço conjunto, foi realizada uma roda de conversa com os profissionais da equipe, onde foi identificada por parte destes, a questão da sensação de sobrecarga de trabalho como um problema urgente a ser enfrentado, sendo que o atendimento à demanda espontânea foi considerado como potencializador desta sensação. Consideramos que o lugar que é dado à demanda espontânea na organização da agenda de serviços de uma equipe de Saúde da Família pode evidenciar as dinâmicas do serviço e os critérios de acessibilidade, bem como orientar as ações para a continuidade do cuidado. Como desdobramento do espaço conjunto criado e com o intuito de estabelecer uma aproximação da demanda espontânea e atuar sobre ela, elaboramos um estudo exploratório da demanda espontânea da equipe, com suporte da epidemiologia, com o objetivo de promover uma reflexão do processo de trabalho da equipe, principalmente em termos de acesso ao serviço e acolhimento à demanda espontânea. Conhecer a demanda espontânea foi um caminho que vimos como potencial para melhorar o planejamento e a organização do processo de trabalho da equipe e, dessa forma, enfrentar a sensação de sobrecarga sentida pelos profissionais. Para a realização desse estudo da demanda espontânea, propusemos para a equipe a implantação de um instrumento de registro da demanda espontânea no acolhimento a partir do qual coletaríamos os dados para nosso estudo. A coleta de dados também foi feita a partir das agendas do médico e da enfermeira da equipe. A coleta de dados foi feita durante um mês (07 de outubro a 10 de novembro de 2011). Para o registro da demanda espontânea foi acordado que o agente comunitário de saúde (ACS) que estivesse no acolhimento ficaria responsável pelo registro dessas demandas, sendo que considerou-se demanda espontânea como todos os usuários que chegam ao acolhimento sem estar previamente agendados. O instrumento de registro, elaborado conjuntamente pela equipe de residentes e equipe de Saúde da Família, continha os seguintes campos de registro: data e turno do registro; nome do ACS responsável pelo acolhimento; dados de identificação do usuário – nome, sexo, data de nascimento (ou idade) e endereço ou prontuário; queixa(s) do usuário; conduta dada pelo ACS. Os dados produzidos foram computados e analisados a partir de um programa de estatística (SPSS 17.0). A variável queixa, que estava registrada com o texto livre dos ACS e, portanto com uma variedade enorme, foi agrupada de acordo com semelhanças e, posteriormente, classificada em queixas clínicas (p. ex: sintomas respiratórios, dor, febre) e queixas não clínicas (p. ex: pedido de exame, pedido de receita, pedido de atestado). A partir da análise da demanda espontânea da equipe, foi possível identificar uma grande quantidade de queixas não clínicas que chegam como demanda espontânea no acolhimento, o que possivelmente potencializa a sensação de sobrecarga sentida pelos profissionais. Essas queixas não clínicas representam, em sua maior parte, procura por procedimentos que estão relacionados às ações de saúde da equipe e que tem sua importância, mas que não tem caráter de atendimento imediato. Dessa forma, consideramos que essas queixas poderiam ser absorvidas na rotina planejada do processo de trabalho da equipe, prioritariamente no território, sendo que o espaço da agenda da equipe reservado à demanda espontânea poderia então ser ocupado, principalmente, por usuários que apresentam queixas sintomáticas e que necessitam de atendimento imediato. Essa questão, entre outras, evidenciou a importância da avaliação e do planejamento das ações da equipe como forma de aprimorar a qualidade do serviço e o processo de trabalho da equipe. O planejamento de uma agenda de trabalho da equipe possibilitaria a concretização dos princípios da integralidade e da continuidade do cuidado, na medida em que considerasse o acompanhamento dos usuários em suas necessidades ao longo do tempo, o que poderia de alguma forma produzir impactos na procura espontânea da população pelo serviço. Além da melhoria da qualidade da atenção à saúde, um planejamento neste sentido possibilitaria uma maior apropriação dos profissionais pelas suas ações, contribuindo para uma maior autonomia e melhoria no nível de satisfação desses profissionais. As discussões geradas por este estudo puderam ser levadas para a equipe e vêm possibilitando conversas sobre o processo de trabalho, a partir da organização do fluxo das ações da equipe, em uma perspectiva de educação permanente. Não deixando de considerar os obstáculos para a concretização do planejamento das ações em saúde, foi possível uma sensibilização da equipe para a importância do mesmo, com a perspectiva de construção conjunta do planejamento das ações da equipe. Acreditamos que esta experiência compartilhada entre as equipes de Saúde da Família e de residentes vêm contribuindo para o aprimoramento das práticas destes profissionais, principalmente no sentido da sensibilização quanto à importância de espaços em que as decisões sejam tomadas coletivamente pelos atores envolvidos no cuidado. Consideramos que um processo participativo de planejamento e avaliação das ações possibilita uma maior aproximação da realidade e uma apropriação das ações pelos profissionais, o que contribui para uma maior eficácia do cuidado em saúde.