Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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Buscando articulações, fomentando e ousando redes: o fenômeno violência contra as mulheres na sua multidimensionalidade
Letícia Becker Vieira, Stela Maris de Mello Padoin, Ivis Emília de Oliveira Souza, Maria Celeste Landerdahl, Cristiane Cardoso de Paula

Resumo


A Secretaria de Política para as Mulheres elaborou, em 2008, a Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres que tem por finalidade estabelecer ações de prevenção e combate à violência contra as mulheres. Essa se sustenta nos conceitos de enfrentamento e de rede de atendimento a partir das dimensões de combate, prevenção, assistência e garantia de direitos das mulheres. A construção da rede de atendimento busca dar conta da complexidade da violência contra as mulheres e do caráter multidimensional do problema, que perpassa diversas áreas. Assim para enfrentar este problema social é necessária a ação conjunta dos diversos setores envolvidos com a questão (saúde, segurança pública, justiça, educação, assistência social, entre outros), no sentido de propor ações que: desconstruam as desigualdades e combatam as discriminações de gênero e a violência contra as mulheres; interfiram nos padrões sexistas/machistas ainda presentes na sociedade brasileira; promovam o empoderamento das mulheres; e garantam um atendimento qualificado e humanizado às mulheres em situação de violência (BRASIL, 2008). No que tange o outro eixo da política da assistência às mulheres em situação de violência, a Política Nacional busca garantir o atendimento humanizado e qualificado às mulheres por meio da formação continuada de agentes públicos e comunitários; da criação de serviços especializados (Casas-Abrigo, Centros de Referência, Centros de Reabilitação e Educação do Agressor, Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, Defensorias da Mulher); e da constituição/fortalecimento da Rede de Atendimento (articulação dos governos – Federal, Estadual, Municipal, Distrital- e da sociedade civil para o estabelecimento de uma rede de parcerias para o enfrentamento da violência contra as mulheres, no sentido de garantir a integralidade do atendimento). Todavia, ainda existe uma tendência ao isolamento e desarticulação dos serviços no enfrentamento da questão. Para tanto, a consecução destes dois eixos da política enfrentamento e assistência é fundamental um trabalho em rede, visando superar essa desarticulação e a fragmentação dos serviços. Ao considerar o compromisso social da academia em produzir conhecimento que contribua para as práticas assistenciais inseridas em políticas sociais, seja por meio de algum dos elementos da tríade pesquisa, assistência e extensão buscam-se fomentar as premissas acima referidas consolidando a parceria entre academia e serviço que presta atendimento as mulheres em situação de violência. Nessa perspectiva, ao considerar a interdisciplinariedade da questão, destaca a intersecção dos serviços de saúde neste processo de enfrentamento da violência como um cenário assistencial além de compreender a delegacia como uma das portas de entrada das mulheres na rede de atendimento. Nesse contexto interdisciplinar e intersetorial, um trabalho cooperativo tem como principal ganho o processo de construção de vínculos mais sólidos entre a universidade, a comunidade e os serviços públicos, haja vista que contribui para o desenvolvimento de aprendizagens plurais (FAGUNDES, BURNHAM; 2003). Assim desenvolveu-se uma pesquisa de dissertação de mestrado com o objetivo de apreender o significado da ação das mulheres que denunciam o vivido da violência no cenário: Delegacia de Polícia para Mulher (DPPM) e de Pronto Atendimento (DPPA) no município de Santa Maria - Rio Grande do Sul. As participantes foram 13 mulheres de 18-59 anos, que realizaram a denúncia da violência do companheiro nestes serviços. O projeto foi aprovado pelo CEP - UFSM (n.23081.015518/2009-66). A partir das entrevistas apreendeu-se que a mulher significa uma relação de anonimato com o companheiro e busca relações de familiaridade para enfrentamento da violência. A partir desta pesquisa sinalizou-se a importância de buscar articulações, e fomentar a estruturação e fortalecimento de redes no município em questão para enfrentar o fenômeno da violência contra as mulheres na sua multidimensionalidade. Nesse sentido tem-se como objetivo relatar a experiência de uma parceria entre academia e serviço policial no desenvolvimento de uma pesquisa da área da saúde em uma instituição constituinte da rede de atendimento às mulheres em situação de violência na Delegacia de Polícia para a Mulher. A experiência oriunda de uma investigação de dissertação de mestrado em um serviço policial no município de Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil, no primeiro semestre de 2010; tal investigação apontou perspectivas para um cuidado de Enfermagem voltado a essas mulheres. O campo de produção dos dados não constitui o lócus de atuação da Enfermagem, sendo, portanto um desafio à inserção da pesquisadora no cenário do estudo. No entanto, ao considerar a interfaces da ciência de enfermagem, em tempos de interdisciplinaridade, tal experiência mostrou impar na busca de redes promotoras de vida em uma articulação educação, saúde, participação e cidadania. O trabalho em rede surge como um caminho estratégico para superar uma tendência de fragmentação dos serviços na tentativa de agregar saberes/fazeres nas diversas dimensões da questão violência. Na tentativa de fomentar o fortalecimento da rede de atendimento e agregar conhecimento pesquisadora propôs ao serviço policial o desenvolvimento de uma atividade de extensão. Aponta-se assim a importância de socializar as profissionais que deliberam nos serviços que constituíram o cenário da pesquisa os resultados encontrados na pesquisa e a partir de uma discussão e reflexão conjunta agregar saberes acerca da questão violência. A proposta de desenvolver uma oficina entre profissionais –pesquisadora busca o desafio de construir/fortalecer uma rede que transcenda a dimensão assistencial saúde – segurança pública, e que agregue também a dimensão educativa e de compromisso social da academia, com vistas a conduzir um momento reflexivo que contribua com subsídios teóricos para a ação assistencial dos profissionais para com as mulheres voltadas às suas necessidades assistenciais que estão relacionadas com seu mundo da vida e relações, centrado no sujeito, a partir dela própria. Vale destacar que tal atividade está agendada para ser desenvolvida na data alusiva ao Dia Internacional da Mulher, o que possibilitará também estimular reflexões e a compreensão sobre o real sentido da data junto aos profissionais da delegacia, que está ligada a uma história de enfrentamentos e conquistas, que devem contribuir na superação de desigualdades e reconhecer que ainda existe discriminação, que ela é injusta e que mata. E que está intimamente ligada com a situação de violência. Conclui-se que pela complexidade e multidimensionalidade da questão da violência contra as mulheres o enfrentamento da violência não pode mais se limitar a ações isoladas, pautadas na linearidade e na objetividade. Aponta-se a assim a importância de se buscar a estruturação e fortalecimento de redes de atendimento as mulheres, bem como é repensar o papel da universidade e dos serviços na abordagem da violência contra as mulheres, com intuito de fomentar espaços de práticas e saberes que envolvam alunos, profissionais das diversas áreas envolvidas, comunidade para enfrentarmos a partir de ações possíveis e conjuntas o fenômeno da violência. Referências: BRASIL, SECRETARIA DE POLÍTICAS PARA AS MULHERES – PRESIDÊNCIA da República. Política Nacional pelo Enfrentamento à violência contra a Mulher. Brasília –DF, 2008. FAGUNDES NC, BURNHAM TF. Transdisciplinaridade, multirreferencialidade e currículo. Rev da FACED . 2003; (5) 39-55.