Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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Comparação da cobertura das orientações dietéticas e dos hábitos alimentares entre indivíduos autodeclarados diabéticos e os que negam diabetes em uma Unidade Básica de Saúde.
Ricardo Dias Corrêa, Sibelle Caroline Schramm Carvalho Teixeira da Silva, Mariana Suguino, Bruna Cristina Mascarenhas, Josiane Letícia Marques Martins, Clotilde Nunes Martins Rocha Silva, Adriana Gomes Brandão, Ana Maria Chagas Sette Câmara

Resumo


INTRODUÇÃO: A prevalência nacional de diabetes mellitus (DM) aumentará nos próximos anos. Segundo estimativas, o número de brasileiros com DM passará de cerca de 7,5 milhões da população adulta (6%), em 2010, para quase 13 milhões (7,8%) em 2030. Como a alimentação é descrita como causa modificável de DM, mudanças no estilo de vida desses pacientes são medidas preventivas relevantes no âmbito da Atenção Básica à Saúde (ABS). Nesse sentido, diabéticos devem ser incentivados para que melhorem os hábitos alimentares e, com isso, promovam melhor controle metabólico, adequação do peso corporal e manutenção dos níveis seguros de pressão arterial. Dessa forma, as orientações fornecidas por profissionais da saúde são imprescindíveis tanto na prevenção quanto no controle do DM no âmbito da atenção básica, além disso podem ser usadas como estratégia para o auto-cuidado desses pacientes. OBJETIVOS: Comparar a cobertura das orientações para mudanças alimentares, a percepção do impacto da dieta na própria saúde e quais são os hábitos alimentares de indivíduos autodeclarados diabéticos (ADM) e os que negam diabetes (NDM) em uma Unidade Básica de Saúde (UBS). METODOLOGIA: Estudo de caráter transversal exploratório. A coleta dos dados consistiu na aplicação de um questionário semi-estruturado por estudantes integrantes do Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde) a usuários residentes na área de abrangência da UBS Milionários, do município de Belo Horizonte – MG, realizada no período de setembro a dezembro de 2009. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa – Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte (CEP-SMSA/PBH). Todos os participantes foram informados sobre os objetivos do estudo e aceitaram participar voluntariamente da pesquisa após a leitura e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. As análises estatísticas foram realizadas em SPSS for Windows, versão 17. O valor de significância considerado para análise dos cruzamentos de dados foi p < 0,05. RESULTADOS: Participaram da pesquisa 388 indivíduos de ambos os gêneros, com idade acima de 18 anos, sendo a maior parte composta pelo sexo feminino. Os indivíduos ADM corresponderam a 12,2% da amostra, isto é, 47 indivíduos. A média de idade foi de 44,41 (±14,95), nos NDM, e 56,70 (±10,76), nos ADM. Considerando-se todos os indivíduos participantes com idade superior a 60 anos, a prevalência de DM foi de quase 25%, isto é, um em cada quatro indivíduos idosos eram diabéticos. A renda familiar foi semelhante nos dois grupos, mas a escolaridade média foi quase duas vezes maior no grupo NDM (p<0,05). Com relação à cobertura das orientações fornecidas pelos profissionais da atenção básica para hábitos de vida saudáveis, foi observada que 53,5% dos NDM afirmam terem recebido alguma informação sobre hábitos saudáveis, enquanto 89,4% dos ADM afirmam terem-nas recebido (p<0,05), provavelmente devido ao maior contato desses usuários com serviços de saúde. Ao ser investigado sobre qual o profissional da UBS estaria mais envolvido com orientações sobre hábitos de vida saudáveis, encontrou-se que 81% dos usuários ADD apontaram o médico da equipe de saúde de família (ESF) como único provedor dessas orientações. O enfermeiro e o nutricionista (Núcleo de Apoio à Saúde de Família - NASF) foram lembrados posteriormente, ambos cobrindo isoladamente 2,4% dos ADD. Embora a maioria dos usuários ADM afirmem terem recebido orientações, constatou-se que ambos os grupos consideram a própria alimentação saudável, porém indivíduos NDM valorizam mais o impacto da alimentação na própria saúde que indivíduos ADM (p<0,05). Com relação aos hábitos alimentares, investigou-se o número diário de refeições e a frequência de consumo de alguns grupos de alimentos comuns na mesa dos brasileiros. Constatou-se que tanto os indivíduos ADM quanto os NDM fracionam menos as refeições diárias do que o recomendado pela Sociedade Brasileira de Diabetes. Entre os grupos alimentares avaliados, percebe-se que a freqüência de consumo de alimentos como o biscoito recheado, refrigerante comum, embutidos, frituras, salgados, chips e sanduíche foi significativamente menor no grupo ADD. No entanto, esperava-se que os indivíduos ADD tivessem uma menor ingestão de alimentos como doces, sorvete, balas, chicletes, biscoitos, macarrão, banha de porco, óleo, molhos industrializados, sazon e caldo knnor e maior ingestão de peixes. Contudo, não foram observadas diferenças estatisticamente significantes para a freqüência de consumo desses alimentos entre os grupos. Isso permite inferir que os diabéticos auto-declarados não fazem restrições quanto ao consumo destes alimentos, fazendo o uso de maneira semelhante à população sem diabetes. Porém, diferentemente, detectou-se que tanto o consumo de adoçantes quanto o consumo de fibras é maior no grupo ADM, refletindo uma adesão parcial às orientações recebidas. CONCLUSÕES: O estudo permite perceber uma alta prevalência de DM na população estudada, principalmente entre os idosos. Percebe-se que grande parte dos usuários recebem orientações para mudanças de hábitos de vida, porém o fornecimento de orientações tendem a se concentrar naqueles com o DM. Embora indivíduos ADM afirmem serem mais orientados, tendem a menosprezar o impacto da alimentação na própria saúde. Além disso, entre tantos profissionais da saúde atuantes na ABS, o médico é apontado muitas vezes como o único provedor de orientações para estímulos aos hábitos saudáveis de vida. Verificou-se que a frequência de consumo de alguns alimentos ricos em carboidratos, gorduras ou proteínas foi semelhante nos dois grupos. Dessa forma, a detecção de um perfil de consumo alimentar semelhante entre os grupos permite sugerir ou uma baixa adesão às recomendações para mudanças dietéticas propostas ou uma falha no processo de comunicação entre os profissionais da saúde da atenção primária e esses usuários. Assim, surgem desafios: não só ampliar e manter constantes o engajamento de profissionais da ABS no fornecimento de orientações aos diabéticos como também buscar novas estratégias de intervenções educativas baseadas no diálogo e na compreensão das necessidades e das dificuldades de cada usuário diabético.