Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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A Residência Multiprofissional em Saúde Mental: metodologias inovadoras a serviço da integralidade na formação em saúde
Maria Paula Cerqueira Gomes, José Carlos Campos Lima, Flávia Fasciotti Macedo Azevedo

Resumo


Caracterização do problema Apresentamos aqui o Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Mental do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como uma proposta de formação inovadora em saúde. Esse programa integra o conjunto de propostas de qualificação dos trabalhadores de saúde promovido pelo Ministério da Saúde em parceria com o Ministério da Educação. Objetivamos com este trabalho efetuar uma reflexão sobre o modelo de organização do curso, sua concepção de ensino e os mecanismos pedagógicos elaborados para a estruturação do processo de formação dos alunos. Descrição da experiência A partir da análise do Projeto Político Pedagógico previsto para o curso foram desenvolvidos um conjunto de ações que visam à formação de uma nova geração de profissionais, por meio de um processo educacional inovador e transformador, que assegura a excelência técnico-científica contextualizada pela abordagem ética, singular e integral de cada pessoa e comprometida com a defesa da vida e o direito à saúde, conforme preconizado pelo SUS. Temos como pressupostos orientadores da prática assistencial a construção de linhas de cuidado para os pacientes e, no exercício do fazer, operamos com os conceitos de desinstitucionalização e território. No campo pedagógico educacional trabalhamos com o desenvolvimento de competências cognitivas, afetivas e motoras, conforme designação do MEC. O marcos conceituais desse projeto estão fundamentados nos quatro pilares do conhecimento e formação permanente, trabalhados por Moacir Gadotti (2000)[1], a saber: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver com os outros, aprender a ser. Esses pilares concentram a grande complexidade que está colocada na missão de formar sujeitos integrais, para o exercício da prática em saúde que acontece no mundo das necessidades reais das pessoas. A relação teórico prática, o aprender a pensar, o saber fazer, o saber conhecer e o saber conviver, vistos como mecanismos fundantes da competência humana e de habilidades profissionais. Esses eixos de sustentação nos permitem entender o processo ensino-aprendizagem na educação profissional como uma competência[2] a ser adquirida numa determinada área de atuação, expressa na qual o profissional deve saber e ser capaz de fazer para exercer sua prática com sucesso, em diferentes contextos, possibilitando o desenvolvimento de profissionalismo, referenciado em padrões de qualidade. Esse projeto propõe uma organização curricular que aborda uma íntima articulação entre teoria/prática, sem subordinações. O curso utiliza uma abordagem pedagógica construtivista e fundamentada na aprendizagem significativa e para colocarmos em prática esta proposta formativa investimos na utilização de metodologias ativas de aprendizagem nas aulas; apostamos na construção de espaços semanais de Educação Permanente; promovemos o acompanhamento dos alunos em sessões de tutoria, sustentando a articulação teoria e prática de forma contínua de forma que os impasses e incidentes críticos são tomados em análise e propulsores de pesquisa, reflexão, e produção teórica; trabalhamos as questões de cada profissão nas preceptorias de núcleo profissional; e no cotidiano do trabalho , contamos com os preceptores de campo de estágio. Esses são os dispositivos pedagógicos centrais, sobre quais trabalhamos árdua e incansavelmente. O curso tem ainda como um de seus pilares fundamentais a construção de projetos pedagógicos singulares junto a um processo de avaliação formativa com base na construção do Portfólio. Isto é, é no acompanhamento individualizado de cada aluno com seu tutor e, a partir do que constrói enquanto reflexão de sua prática, que o seu projeto pedagógico vai se construindo, os serviços de estágio vão se definindo, de forma que as diversidades e interesses individuais sejam considerados e, ao mesmo tempo, mantendo uma estrutura curricular comum. Efeitos alcançados Em 2012, entramos no terceiro ano desta experiência que traz importantes reflexões para o campo da formação em saúde mental. São visíveis as transformações clínicas, institucionais e formativas em todos os atores envolvidos nesse processo: coordenação, residentes, tutores, preceptores e profissionais de saúde dos diferentes cenários de práticas. Os efeitos alcançados são recolhidos cotidianamente na condução dos casos, no número de pacientes em processo de desinstitucionalização, no impacto que as ações formação têm causado para o processo de transformação de uma instituição asilar e na construção de uma rede capaz de diminuir o hiato entre a atenção hospitalar e a comunitária. Consideramos tais efeitos nada modestos. Na verdade o programa de residência tem atuado de forma ética, clínica e política, operando transformações na forma de conceber e atuar no campo da saúde mental principalmente na sua instituição sede, um hospital psiquiátrico universitário, atuando como uma forma de intervenção. A “invasão” dos residentes multiprofissionais, que neste ano somam vinte alunos, tem convocado a instituição, eminentemente médica, a rever suas práticas, a incluir outros aspectos do sujeito em sofrimento, a ampliar o seu leque de estratégias de tratamento. Com estas iniciativas, todos ganham, não somente os alunos. Recomendações Nosso objetivo, com esse trabalho, é problematizar a formação de profissionais para área da saúde e saúde mental, partindo de uma experiência que vem sendo bem sucedida e que, cada vez mais, precisa ser publicizada. Nosso compromisso ético e clínico nos impele a esse trabalho de formar profissionais dentro de uma lógica integral de cuidado à saúde em defesa da consolidação do Sistema Único de Saúde. [1] GADOTTI, Moacyr. PERSPECTIVAS ATUAIS DA EDUCAÇÃO. SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, 14(2) 2000 [2] A noção de competência aqui empregada refere-se à mobilização de capacidades para a tomada de decisão e realização de ações específicas que caracterizam uma determinada prática profissional, nesse caso a prática dos profissionais de saúde frente a situações de saúde-doença, segundo contexto e critérios de excelência (Hager & Gonzci, 1996). Hager P, Gonczi A. What is competence. Med Teach.1996;18(1): 15-8.