Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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A Visita Domiciliar como estratégia educacional e seus sentidos para estudantes dos cursos de Enfermagem, Medicina e Odontologia em um Centro Universitário no estado do Rio de Janeiro.
Francisco Augusto Silva, Carlos Otávio Fiúza Moreira, Verônica Santos Albuquerque

Resumo


No início da década passada, foram instituídas as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) dos Cursos de Graduação em Enfermagem (2001), Medicina (2001) e Odontologia (2002), entre outras profissões da saúde, que definem os princípios, fundamentos, condições e procedimentos da formação de enfermeiros, médicos, e cirurgiões-dentistas a serem observados na organização curricular pelas Instituições de Ensino Superior (IES), cujos projetos pedagógicos devem buscar a formação integral e adequada do estudante através de uma articulação entre o ensino, a pesquisa e a extensão e assistência. Essa recomendação geral de articulação entre os currículos das IES e o Sistema Único de Saúde (SUS) - com o sentido de formar profissionais com ênfase na promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da saúde, contemplando o modelo de atenção à saúde preconizado para o país - transforma os cenários da Atenção Básica, onde os estudantes são inseridos desde o inicio da graduação, em especial a Estratégia de Saúde da Família (ESF), em potenciais espaços de ensino-aprendizagem para a construção de algumas das competências profissionais preconizadas nas DCNs para a formação em saúde, onde dentre outras atividades, os estudantes realizam a Visita Domiciliar. Este estudo buscou analisar a Visita Domiciliar (VD) enquanto estratégia educacional a partir dos sentidos atribuídos pelos estudantes dos cursos de Enfermagem, Medicina e Odontologia de um Centro Universitário no estado do Rio de Janeiro. O objetivo do estudo foi analisar o potencial educativo da visita domiciliar na formação em saúde, tendo como referência os sentidos atribuídos à visita domiciliar pelos estudantes no processo de formação, e identificar potencialidades e limites da visita domiciliar como estratégia pedagógica. A abordagem metodológica teve como referencial mais amplo a noção de sentido desenvolvida por Max Weber e articulou dados quantitativos e qualitativos. Os dados quantitativos foram construídos a partir de questionários. Já os dados qualitativos se basearam em entrevistas individuais semi-estruturadas. Participaram da pesquisa estudantes dos cursos de Enfermagem, Medicina e Odontologia regularmente matriculados a partir do 5º período devido ao fato dos mesmos já terem cursado os quatro períodos com atividade de inserção na Atenção Básica nas UBSF a partir da lógica das atividades extra-muros, denominada pela IES de IETC (Integração Ensino, Trabalho e comunidade) tendo, portanto, algum tipo de vivência em relação à visita domiciliar (VD). Os dados quantitativos foram analisados quanto à freqüência absoluta e freqüência relativa. Já os dados qualitativos foram analisados sob a perspectiva da análise de conteúdo na sua modalidade temática. Após análise criteriosa dos dados obtidos através dos questionários e das entrevistas foram extraídas categorias empíricas que confrontadas com as categorias analíticas, orientaram a discussão dos resultados, permitindo-nos chegar a algumas constatações. A VD, enquanto estratégia educacional, apresenta algumas potencialidades, particularmente por proporcionar uma visão mais próxima da realidade como ilustra a seguinte fala: “...se depara lá com a realidade totalmente diferente do que a gente vê dentro de sala de aula... ver a necessidade das pessoas e a importância do SUS pra elas... conhecer o outro lado, é vivenciar aquilo que a pessoa vive. Olhar com outros olhos a realidade...vê também o outro lado, que não é só aquela coisa que a gente vê no papel, é vivenciar realmente a realidade das pessoas, de certas comunidades”(EO1) que não pode ser vivenciada e apreendida em sala de aula, favorecendo o contato, a observação e vivência junto as pessoas e seu contexto social e, proporciona também ao estudante a oportunidade de aprender fazendo, exercitando as dimensões cognitiva, afetiva e psicomotora da competência, ao ter a oportunidade de associar a teoria com a prática, como percebido nesta fala: “... associa o que você tá vendo na teoria com o que você ver na prática e, isso assim você aprende muito, não é só teoria, é prática também” (EE2). Podemos constatar também que realização da VD pelos estudantes contribui notoriamente para o desenvolvimento da tecnologia leve ou de relação: “...aprende a saber conversar com as pessoas, saber como passar a informação que você quer...aprende a conversar, ouvir a pessoa... você aprende usar uma linguagem melhor com as pessoas, uma linguagem mais fácil” (EO3). Sentimentos distintos como satisfação, comoção, rejeição, impotência e frustração também são despertados nos estudantes durante a realização da VD. Embora os estudantes não conceituem de forma clara a VD, os sentidos colocados, quando perguntados como a definiriam, remeteram a aspectos da promoção da saúde, do olhar ampliado de saúde e de formas de conhecer a vida das pessoas, sentidos estes também encontrados na literatura consultada. O estudo revelou também fragilidades na VD, enquanto estratégia pedagógica, como a necessidade de melhor planejamento das atividades a serem realizadas pelos estudantes, a realização de mais discussões após as visitas,a continuidade das atividades enquanto construção de processo, a falta de conhecimento técnico para realização da VD e de resolução dos problemas dos usuários. Enfim, a VD permite ao estudante desenvolver um olhar ampliado de saúde, que pode marcar ou iniciar um processo de transição entre o discurso biologicista-tecnicista dos currículos tradicionais, que se preocupam sobretudo com a doença, para um discurso e práticas de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação, considerando o indivíduo como um todo e suas relações com o ambiente e o social. Palavras-chaves: ensino; integração docente-assistencial; visita domiciliar;