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Agrofarmácia Viva Comunitária - Tecnologia Social em Saúde
Resumo
Introdução Este é um projeto que pretende promover a extensão universitária, de forma integrada ao ensino e à pesquisa, a partir das plantas medicinais, consideradas, não apenas como uma ferramenta tecnológica na recuperação, prevenção e promoção da saúde; mas também como um importante instrumento de valorização das Tecnologias Sociais e dos saberes tradicionais em saúde. A concepção deste projeto considera a importância de alguns pressupostos. O primeiro é que o vasto campo das plantas medicinais oferece uma oportunidade extremamente rica de integração, troca, interpenetração dos saberes científicos com os saberes tradicionais, sobretudo para a composição de Tecnologias Sociais. O segundo é que a busca de integração entre universidade e comunidade não pode passar pela mera transferência de conhecimentos da primeira em direção à segunda, tampouco pela mera obtenção de dados da comunidade pela universidade; mas antes, deve-se buscar a mútua integração crítica. O terceiro pressuposto deste projeto é que a relação entre conhecimentos científicos e saberes tradicionais não precisa ser necessariamente concorrente ou discordante, mas, ao contrário, quando estes diferentes saberes se encontram, e cooperam, em um campo de atuação como o da produção de saúde, eles se valorizam e se fortalecem mutuamente. O quarto pressuposto deste projeto é que este encontro entre universidade e comunidade pode ser assentado sobre soluções tecnológicas que sejam viáveis, acessíveis e geradoras de autonomia para as comunidades envolvidas. Neste sentido, trabalha-se aqui com o conceito de Tecnologias Sociais, em oposição ao mero adensamento tecnológico baseado nas tecnologias geradoras de heteronomia e dependência de fornecedores alheios ao processo comunitário. A chamada Tecnologia Social compreende produtos, técnicas, metodologias ou processos de baixo custo, de fácil utilização, que possam ser facilmente reaplicáveis, desenvolvidas na interação com a comunidade e que representem efetivas soluções de transformação social. Objetivos Geral: Promover a valorização dos saberes tradicionais e a promoção das Tecnologias Sociais na produção de saúde, como forma de contribuir para uma formação crítica e socialmente responsável dos estudantes, e, ao mesmo tempo, contribuir com o bem estar, a autonomia e o desenvolvimento sustentável da população local; valorizando a flora nativa e a importância da preservação da biodiversidade. Específicos: Fazer o levantamento etnobotânico das plantas medicinais mais usadas nas comunidades; Resgatar o conhecimento que as pessoas da comunidade têm sobre as indicações terapêuticas e as formas de preparação e uso das plantas medicinais; Discutir e repassar informações científicas sobre manuseio, indicação terapêutica e formas de preparação de remédios caseiros à base de plantas medicinais; Vincular o uso das plantas medicinais com a preservação do meio ambiente, através da valorização da flora nativa e de sua biodiversidade; Desenvolver numa perspectiva dialógica com a comunidade, uma pedagogia fraterna e ecossistêmica que desperte o cuidado com os outros e com o meio ambiente. Construir vínculo com as famílias das comunidades, entendendo e refletindo sobre suas angústias e problemas individuais e coletivos, sempre respeitando sua cultura; Potencializar agentes comunitários de saúde e outros moradores acerca da fitoterapia, para que eles atuem como agentes multiplicadores; Implantar canteiros de plantas medicinais em espaços públicos coletivos para a formação das Farmácias Vivas Comunitárias, como escolas, creches, unidades de saúde, ONGs, e em espaços privados como quintais e residências; Desenvolver no estudante uma perspectiva crítica sobre o processo saúde-doença, os fatores que o influenciam, as racionalidades que os informam; Possibilitar ao estudante uma visão e experiência multiprofissional, interdisciplinar, transdisciplinar, e a capacidade de trabalhar em equipe; Promover no estudante uma visão de saúde que ultrapassa os processos orgânicos e a racionalidade técnico-científica; Permitir aos alunos o contato com outros saberes constituintes do campo da saúde, para além dos estritamente médicos; Construir com os alunos uma visão crítica ampliada sobre a disputa dos planos de produção de cuidado. Metodologia Este é um projeto baseado no respeito e valorização dos saberes populares, portanto apóia-se na metodologia da Educação Popular, vislumbrada por Paulo Freire, iniciando com o reconhecimento das comunidades em seu contexto físico, ambiental, político, cultural e social. Com identificação e articulação de seus grupos representativos (escolas, grupos religiosos, grupos de mulheres, ONGs, associação comunitária, pastorais) e agentes mobilizadores, realizando-se pactuação das atividades com todas as pessoas a serem envolvidas. Como estratégia de levantamento etnobotânico os alunos entram em contato com as pessoas consideradas e apontadas pelas próprias comunidades como referências importantes no uso das plantas medicinais, ou seja, benzedeiras, raizeiros, curandeiros, parteiras, anciãos, e lideranças comunitárias. A abordagem é feita em visitas domiciliares, com a identificação do perfil, a credibilidade e a confiança das famílias acerca do uso de plantas medicinais; sua utilização como terapia complementar, abordando a relação comunidade x fitoterapia, através de entrevistas semi-estrurturadas. Através dessas entrevistas, realiza-se o levantamento das principais plantas e formas de preparação na ótica da população local, bem como seu conhecimento sobre plantas tóxicas e efeitos colaterais. É importante salientar que para aplicação desse método, o grupo será calibrado e orientado, a fim de que a coleta não seja um simples levantamento de dados, mas sim uma forma de abordar e interagir com as famílias. Resultados Identificadas setenta e duas espécies utilizadas tradicionalmente pela primeira comunidade participante, realização de oficinas de produção agroecológica com compostagem, uso de microorganismos eficientes, adubos orgânicos, consórcio de plantas alimentícias e medicinais. Implantação de uma agrofarmácia em espaço coletivo. Conclusões A agrofarmácia tem sido uma vivência concreta para alunos de graduação experimentarem tecnologias de produção de cuidado e saúde baseadas nos saberes tradicionais, criadoras de autonomia dessas comunidades e de auto-determinação na promoção, preservação e recuperação da saúde, através da alimentação sem agrobiotóxicos e do uso de plantas medicinais.