Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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ALIMENTAÇÃO E CONSUMO NA MÍDIA IMPRESSA – CONHECER PARA EDUCAR
Claudimar Freire, Jacqueline Oliveira Silva, Roger dos Santos Rosa

Resumo


O trabalho discute a ampliação da comunicação e do consumo nas classes C e D através da presença e apresentação do alimento na mídia impressa. O campo de análise foi uma revista feminina, do nicho de mercado “vida saudável” e bem estar. A saúde e a alimentação são capitais econômicos e sociais presentes na comunicação de massa. Diferentes autores indicam as dificuldades de identificar homogeneidade do tratamento dado pelas mídias à saúde. Há distintos investimentos discursivos na sua explicação e abordagem. Estes discursos articulam contextos conformando certo tipo de saber sobre saúde que compartimenta e sobrepõem discursos expressos nas diferentes mídias, inclusive aquelas destinadas a divulgação científica (ZAMBONI,1997) . Esses meios, buscam eficiência na transmissão e atribuição de significados que tendem a disseminar e legitimar condutas, comportamentos e estilos. Com o crescimento do poder aquisitivo das classes C e D após a estabilização da economia brasileira, o veio mercadológico insere bens e serviços em oferta direta ou indireta de produtos,fortalecendo nichos da indústria cultural e veiculando comportamentos ligados a formas diversificadas de consumo alimentar. A mídia, no caso da saúde, faz a mediação de idéias, comportamentos, estilos de vida e uso do corpo. SILVA e BORDIN (2003) ” Não se trata mais de aceitar os efeitos do tempo sobre o corpo, mas de manter sua eterna juventude e a capacidade de executar uma diversidade de ações de conservação e proteção que o valorizam como bem de capital, incitando um processo de “gestão” prudente do corpo, oportunizadas por uso de tecnologias, tratamentos holísticos, exercícios, contato com a natureza, alimentação saudável.” O objetivo deste trabalho foi analisar os conteúdos sobre alimentação em textos e imagens de revista de ampla veiculação levantando elementos que caracterizem seus significados do alimento no padrão estético sanitário atual. Foram analisadas todas as publicações de 2010, da revista “Boa Forma”, utilizando-se como método a análise de conteúdo, seguindo as etapas de pré análise, exploração do material, tratamentos dos resultados e a finalização com interpretação dos dados. A pesquisa analisou os conteúdos dos boxes e colunas da seção “Abaixo as calorias/Menos calorias”,por ser a única presente em todos os exemplares e por concentrar as informações sobre alimentação.Além disso essa seção tem permanecido ao longo dos anos. A análise constatou que a alimentação na mídia possui um viés neo -informativo,caracterizado por informes em pílulas com títulos alarmistas .É marcada por padrões sócio estéticos e pelo estimulo ao consumo.Além disso,medicaliza e sofistica o campo alimentar focando a obtenção dos padrões estéticos e de obtenção de status,a partir de símbolos ligados as elites e a valorização do alimento industrializado( light e diet e de consumo rápido). O marketing é explicito. Sugestões de marcas e preços aparecem em profusão. A perda de peso e manutenção de uma “boa forma” representada por um padrão de beleza a tônica das abordagens . O ideal buscado pela revista analisada associa saúde ao emagrecimento como sinônimo de beleza e bem estar. As práticas alimentares com restrições; uso terapêutico de alimentos e gastronomia, abrindo um amplo leque de introdução e legitimação de produtos lançados no mercado As recomendações sanitárias de consumo de cinco porções de frutas diariamente, a diminuição do uso de alimentos industrializados, a redução do consumo de sal de adição, aumento do consumo de água em detrimento a bebidas açucaradas, a promoção de práticas e estilos de vida saudáveis que incluem a promoção de hábitos como redução do sedentarismo através de mudanças de hábitos cotidianos (andar a pé, subir escadas, realizar atividade física regular, etc.), ampliação do tempo de lazer e realização de atividades sociais,estão ausentes. Em relação aos parâmetros nacionais de alimentação e nutrição, existem contradições com o apresentado neste veículo, considerando que os órgãos reguladores e especialistas indicam uma alimentação simples, regionalizada e natural. Os alimentos sofisticados, medicalizados e industrializados disseminados nesta revista tiram de cena o tradicional arroz e feijão base da alimentação nacional , incentivado como fonte de carboidrato e proteína pelos programas governamentais Segundo dados IBGE (2011), o consumo de arroz, feijão e salada diminui à medida que a renda familiar per capta aumenta. Em nosso estudo, identificamos que as fontes sobre alimentação em geral, são agentes internacionais da ciência ,referidos como: estudos da universidade “X”, pesquisador “y”, pesquisa na cidade “Z”. Os termos “estudos” e “pesquisas” dão o caráter de cientificidade a informação. Estas fontes não são passíveis de rastreamento e verificação, pela inexistência de referencias completas não permitindo verificação de veracidade.A legitimação das informações é dada pelo saber especializado de nutricionistas, médicos e outros profissionais de saúde na condição de consultores . A revista estudada não tem por referência esses elementos. Contribuindo para mudanças das práticas alimentares já detectada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e estatística (IBGE) .Os conteúdos indicam maneiras fáceis e diretas para conquista do corpo e da vida idealizada.A mulher representada na revista é caucasiana, magra, jovem e sensual invisibilizando a diversidade racial e etária da população feminina. Nos resultados, observou-se que a prescrição dos industrializados é privilegiada em detrimento da utilização de alimentos in natura, representando o estilo de vida atual,urbano, associado à idéia de não perder tempo.Comer deve dar prazer sem engordar ou gastar tempo.A sofisticação do alimento cria a distinção social almejada e a obtenção da ‘qualidade de vida” elitizada.Sugere a impossibilidade de emagrecimento saudável e preservação da saúde através de uma alimentação simples, natural e equilibrada. A revista analisada associa saúde ao emagrecimento como sinônimo de beleza e bem estar. As práticas alimentares com restrições; uso terapêutico de alimentos e gastronomia, abrindo um amplo leque de introdução e legitimação de produtos lançados no mercado. O consumo de alimentos propostos na revista analisada parece estar mais próximo da busca de pertencimento social do que de satisfação pessoal. O alimento é apresentado como um emblema que responde ao anseio social do indivíduo ,dado que na sociedade de nosso tempo,os sistemas de consumo são fenômenos culturais (Allères,1997 ; Lipovetsky,2005). Referências Bibliográficas Allérès, D. (1997). Luxo... Estratégias, Marketing. São Paulo: FGV Editora .Lipovetsky, G.( 2005). O luxo eterno. Da idade do sagrado ao tempo das marcas. Rio de Janeiro: Companhia das Letras. Silva, J.O., Bordin, R. (Org.) (2003). Máquinas do Sentido: Processos comunicacionais em saúde. Porto Alegre: Editora da Casa.