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Caracterização do problema: Este trabalho traz o relato da experiência de um estágio em docência do Curso de Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva - RMSC da Universidade de Pernambuco - UPE, utilizando os desafios inerentes à prática docente no curso médico após reforma curricular. A RMSC foi criada em 1995 e tem como característica o treinamento em serviço, sendo as atividades práticas dos residentes: os estágios em serviços de saúde em nível de Distritos Sanitários, Secretarias Municipais e Secretaria Estadual de Saúde; estágio em pesquisa e o estágio de docência. O estágio de docência é obrigatório durante dois semestres da residência e ocorre nas disciplinas do curso médico da Faculdade de Ciências Médicas - FCM com maior proximidade da Saúde Coletiva. Neste contexto, há nove anos, a coordenação da RMSC mantém articulação com o curso de medicina da FCM, através do módulo de Atenção Primária à Saúde - APS-1 para inserir os residentes na prática docente. Os residentes que participam do estágio de docência têm como base a disciplina de Metodologia do Ensino em Saúde que faz parte da grade curricular da RMSC. Essa disciplina tem por objetivo preparar os residentes para efetivamente partilhar da construção da formação do médico, como profissional estratégico para as mudanças do modelo assistencial, dependente das concepções e ações das equipes envolvidas em todos os níveis dos serviços de saúde. O módulo APS-1 envolve conteúdos que abordam a concepção de saúde e seus determinantes, as políticas de saúde / ecologia no contexto saúde/família/comunidade utilizando o método construtivista de ensino/aprendizagem, no qual os alunos deverão ser mais pró-ativos e os residentes assumem o papel de tutores, sob supervisão de um docente. Descrição da experiência: O estágio em docência ocorreu no período de julho a dezembro de 2011, atendendo ao requisito da disciplina de metodologia do ensino, da RMSC, visto a necessidade de incrementar a capacitação dos residentes no tema da educação em saúde. Inicialmente, foi apresentado o módulo, a ementa, objetivos e metodologia da disciplina de APS-1, através do manual confeccionado pela coordenação da disciplina, para fornecer todos os objetivos e cronograma. Em seguida, os estudantes de medicina são inseridos nas comunidades para dar início à realização das atividades práticas que ocorrem em unidades básicas de saúde dos distritos sanitários II e III do Município de Recife/PE. Então são selecionadas oito unidades de saúde da família, sendo quatro para cada DS e divididos os alunos em ordem alfabética em oito grupos. Durante o módulo de APS-1 os residentes/docentes desenvolveram quatro ações estratégicas no território com os alunos de medicina. A primeira atividade é o reconhecimento do território, os alunos realizam três visitas a área adstrita à unidade de saúde, fazendo um reconhecimento local, reconhecem o trabalho dos Agentes de Saúde Ambiental e Controle de Endemias – ASACE. Na terceira visita ao território, os residentes, auxiliam os estudantes de medicina a observarem uma unidade produtiva dentro da comunidade, construindo uma associação entre as condições de trabalho e o processo de saúde/adoecimento dos indivíduos. O objetivo destas visitas é de estimular, por parte dos estudantes de medicina, o reconhecimento do território como local dinâmico e resultante de uma acumulação de situações ambientais, históricas, sociais que promovem condições particulares para a produção de doenças. Em outro momento do módulo, outra atividade prática facilitada pelos residentes ocorre através de visitas domiciliares às famílias da comunidade. Neste momento a finalidade da atuação do tutor/residente é promover o conhecimento, por parte dos alunos de medicina, de conhecer as características sociais, econômicas e culturais que envolvem o dia-a-dia da sociedade. Após as atividades os residentes/ tutores problematizam, com o grupo de estudantes, uma análise da situação local e junto à comunidade e a equipe da unidade de saúde, definem um tema para uma atividade educativa para a comunidade. Os alunos escolhem a problemática a ser trabalhada a partir da observação que fizeram ao longo das visitas citadas anteriormente, discutem e estudam sobre o que é aprender e ensinar e quais as estratégias metodológicas para tal, e, essas atividades são desenvolvidas para a comunidade. Com relação às atividades teóricas, foram coordenadas discussões através da metodologia construtivista com temas sobre: o processo saúde-doença, níveis de prevenção e promoção da saúde, o programa de saúde da família e a família enquanto sujeito de mudança em saúde e saúde ambiental. Os residentes realizaram apresentações expositivo-dialogadas com a finalidade de esclarecer temas previamente abordados pelos alunos em painéis. A(s) didática(s) utilizada(s) nas atividades teóricas se desenvolvem da seguinte forma: inicialmente são levantadas discussões sobre o tema e a vivência da atividade prática que é vivenciado no turno da manhã. No segundo momento, no turno da tarde, um grupo de estudantes apresentava um painel sobre o tema do dia e os residentes/docentes faziam uma sistematização das apresentações, como conclusão do tema em pauta. Efeitos alcançados: O modelo utilizado pelos residentes como estratégia de ensino-aprendizagem no módulo APS I, permitiu aos alunos do curso de medicina, uma maior reflexão sobre os problemas apresentados na comunidade com relação ao ambiente, família, sociedade e educação em saúde. Os resultados evidenciaram que esse modelo de ensino prático, onde os estudantes de medicina são inseridos na comunidade possibilita uma concepção multicausal do processo saúde-adoecimento, em contraposição ao modelo biomédico, antes hegemônico. Para os residentes em estágio de docência essa estratégia de ensino também foi muito valiosa, pois acrescentou bastante na aprendizagem sobre a atenção primária à saúde, assim como a postura a ser adotada como docente. Recomendações: A experiência do Estágio em Docência foi nova para os residentes e nos permitiu observar que a teoria da sala de aula precisa estar articulada à realidade, à prática, tentando explicá-la, procurando compreendê-la, para assim intervir e mudá-la, tornando o aluno sujeito ativo-reflexivo. Por isso, recomendamos que essa metodologia adotada pelo programa da residência em Saúde Coletiva da UPE que, não só incentiva, mas, prepara o profissional da saúde para atuar na promoção da saúde. Desta forma, o residente de saúde coletiva, futuro sanitarista, ao compreender que será o contexto que determinará suas diretrizes para alcançar seus objetivos saberá administrar dissensos encontrando as alternativas mais justas e equânimes para fazer valer e consolidar o SUS que precisamos e temos direito.