Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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Depressão, Saúde Púbica e Capitalismo
André Kolb, Arthur Parreiras Gomes

Resumo


Introdução Dados da OMS durante a primeira Cúpula Global de Saúde Mental, realizada em Atenas-Grécia em 2009, apontam que nos próximos 20 anos a depressão deve se tornar a doença mais comum do mundo, afetando mais pessoas do que qualquer outro problema de saúde. Nos Centros de Saúde de Belo Horizonte, a situação se confirma. O fluxo de pacientes depressivos que são encaminhados para o atendimento pela psicologia é significativo. Sendo assim, torna-se importante conhecer esta realidade no âmbito da saúde pública.Objetivo Geral Investigar a depressão como um quadro clínico recorrente nos Centros de Saúde de Belo Horizonte considerando a prática da psicologia nestes espaços.Objetivos Específicos Conhecer os desencadeadores dos quadros depressivos e suas relações com o modo de produção capitalista organizador da sociedade contemporânea;rever a prática da psicologia no contexto da saúde pública; propor intervenções clínicas que considerem as dimensões orgânicas, psíquicas e sociais.Metodologia Atendendo os princípios do Pró-Saúde, a PUC-Minas desenvolve estágios no âmbito da saúde pública em diferentes cursos da área de saúde. Neste contexto, temos o estágio curricular oferecido aos alunos do 9º e 10º períodos do Curso de Psicologia realizado no Centro de Saúde Jardim Filadélfia sob a supervisão do Prof. Dr. Arthur Parreiras Gomes. Na realização desta prática clínica, é possível constatar o crescente número de usuários depressivos e, através das intervenções feitas pelos estagiários, não só conhecemos esta realidade, como também, deparamos com suas interfaces com as dimensões sociais, econômicas e culturais daquela população.Discussão / Resultados Obviamente, os desencadeadores das crises depressivas são inúmeros, envolvendo questões familiares, questões relativas ao trabalho ou ao desemprego, patologias orgânicas, na maioria das vezes crônicas, etc. Contudo, num contexto diversificado destes desencadeadores das crises depressivas, é notável a presença recorrente de uma lógica da exclusão associada à lógica capitalista da mais valia o que pode ser também chamado, na perspectiva psicanalítica, de uma lógica do gozo, do mais gozar. Também, esta lógica pode ser vista como uma contribuinte da banalização da depressão na sociedade atual, como sustentar o mercado do antidepressivo. No cotidiano de um Centro de Saúde, as queixas apresentadas pelos usuários ao serviço de psicologia, dizem de certa inversão nos processos de identificação constituintes da subjetividade. O sujeito, até então, identificava-se no grupo social com imagens através das quais pudesse se reconhecer como igual. Contudo, quando a vida passa ter valor pelo que se tem e não pelo que se é, além da insatisfação do sujeito que nunca tem o suficiente, este, no campo do imaginário, identifica-se com o outro enquanto um igual ideal, pois deste grupo ele não participa, reconhecendo-se como o excluído. A condição de excluído, muitas vezes vivida como uma morte, acentua a insatisfação do sujeito para quem, por não pertencer ao grupo social instituído como modelo universal, a vida perde o valor, instalando-se a depressão. Por outro lado, a exclusão vivida pelo sujeito contemporâneo também pode ser vista como o caminho pelo qual o sujeito se identifica e se vê pertencendo a um dado grupo social pela exclusão de outros, os quais mantidos fora deste grupo garantem para os que dele participam a sensação de pertencimento. A morte do outro para garantir a vida do sujeito também traz insatisfação, contraria os valores morais e éticos norteadores da vida humana, gera culpa e deprime. Novamente, a morte se faz presente no contexto da depressão, o que traz em cena o risco de auto-extermínio. A insatisfação do sujeito o paralisa por se encontrar sem condições de renovar o valor fálico necessário para o investimento em outros objetos de satisfação. Assim, cessam as demandas e se demanda é vida, cessa a vida, manifestando-se com a morte, a depressão. Na busca do que é lucro e nunca se alcança, não há espaço nem para se viver efetivamente e nem para a morte que interrompe o fluxo desta corrida. Nos dias atuais, a depressão é banalizada e a indústria farmacêutica, com a promessa da cura e da felicidade, se beneficia, beneficiando o modo de produção e mentalidade capitalistas. Recomendações A clínica da depressão merece atenção que vai além da terapêutica medicamentosa. A utilização de medicamentos deve ser criteriosa e considerar as particularidades de cada caso. Contudo, é no contexto das singularidades que os coletivos também se expressam dando visibilidade as dimensões sociais, econômicas e culturais essenciais à compreensão e intervenções junto ao atendimento dos pacientes com depressão.*Psicólogo Clínico; Professor Adjunto III da PUC-Minas; Mestre e Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa; Tutor do PET Saúde Mental: Álcool, Crack e outras drogas.