Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIAS E ESTRATÉGIAS MULTIFOCAIS NA PREVENÇÃO DE AGRAVOS TÓXICOS EM CRIANÇAS: IDENTIFICAÇÃO DE RISCO, EDUCAÇÃO E PREVENÇÃO EM UMA EXPERIÊNCIA EM SERVIÇO DE SAÚDE COMUNITÁRIA DO GRUPO HOSPITALAR CONCEIÇÃO (GHC), PORTO ALEGRE/RS
Alberto Nicolella, Eliane Dallegrave, Maria da Graça Boucinha Marques, Edilson Mitidieri Ferreira, Izabela Luchese Gavioli, Daniela Pazini Naressi, Stella Maria Cony Vieira, André Machado Santos, Ana Lucilia Silva Marques, Mayna Yaçanã Borges Ávila, Alessandra Xavier Bueno, Maria Luiza Ferreira Barba, Raíssa Barbieri Ballejo Canto, Irani Jesus Borges Silva, Rosane Machado Rollo, Jamaira Giora, Maria da Graca Hofmeister, Alcindo Antônio Ferla, Rafael Dall Alba

Resumo


Introdução: Intoxicações são agravos à saúde que frequentemente acometem a população, em especial crianças, gerando ampla repercussão no sistema de saúde. O Rio Grande do Sul apresenta um dos maiores registros de intoxicação humana no país, não devido à totalidade de eventos, mas sim, por um avançado processo de notificação. A elevada incidência de casos de intoxicação registrados no Rio Grande do Sul (cerca de 20.000/ano), principalmente em crianças menores de 10 anos (36% dos casos) representa, além de custos elevados para o SUS, uma preocupação com a segurança em saúde da população. Segundo o Ministério da Saúde, a vigilância em saúde é caracterizada como um conjunto articulado de ações destinadas a controlar determinantes, riscos e danos à saúde de populações, sob a ótica da integralidade do cuidado, o que inclui tanto a abordagem individual quanto a coletiva. A problemática das demandas em saúde necessita abordagens multidisciplinares e o constante aperfeiçoamento do processo de trabalho amparado pela educação em saúde. A educação permanente em saúde promove: a articulação entre ensino, trabalho e cidadania; a vinculação entre formação, gestão setorial, atenção à saúde e participação social; a construção da rede do SUS como espaço de educação profissional; o reconhecimento de bases locorregionais como unidades político-territoriais onde estruturas de ensino e de serviços devem se encontrar em ‘co-operação’ para a formulação de estratégias educacionais, promovendo a integralidade. O presente projeto tem como objetivo desenvolver tecnologias e implantar programas que visem à redução dos agravos tóxicos em crianças através de abordagens de mapeamento de variáveis e estratégias de educação nos serviços de saúde, tendo como diretriz a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde, estabelecida através do Pacto pela Saúde, trabalhando em rede e atrelado as demandas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).Objetivo: Desenvolver e implementar um programa multifocal visando a descrição das características e relações de uso de produtos como medicamentos, saneantes e pesticidas de uso doméstico envolvidos em acidentes tóxicos com crianças e a realização de ações de educação e prevenção destes acidentes com foco na segurança, junto à Estratégia de Saúde da Família (ESF) em uma parceria entre o Grupo Hospitalar Conceição e o Observatório das Tecnologias de Informação e Comunicação em Sistemas e Serviços de Saúde (GHC-OTICS.) Num contexto da educação continuada em saúde, este programa visa aproximar a produção de conhecimento do cotidiano das instituições através dos agentes comunitários de saúde (ACS), que a partir da realidade vivida nos serviços, possam cada vez mais se empoderar do protagonismo das ações em saúde. De forma sucinta o projeto visa à participação da equipe de saúde na construção de uma metodologia multidisciplinar e multiprofissional englobando, promoção em saúde, educação permanente e vigilância no contexto dos agravos tóxicos em crianças. Métodos: Em um planejamento multifocal realizou-se as seguintes ações: (1) pesquisa das notificações de intoxicação em prontuários de forma retrospectiva e entrevista com os responsáveis pelas crianças envolvidas, buscando características dos produtos e sendo identificados os respectivos riscos conferidos pelos agentes tóxicos; (2) avaliação do perfil de conhecimento sobre risco tóxico dos responsáveis por crianças assistidas pelo Serviço de Saúde Comunitária do GHC, realizado por meio de um questionário sobre o comportamento de uso de medicamentos, saneantes e pesticidas de uso doméstico, cujas respostas foram categorizadas conforme uma escala de 0 a 10, constituindo assim, um escore, onde valores menores eram atribuídos a uma menor percepção de risco conferido pelos produtos; (3) qualificação para abordagem de intoxicações, desenvolvida no contexto da educação continuada em saúde, com a elaboração de manuais técnicos e atividades didáticas direcionadas aos profissionais dos ESFs abordando a prevenção (agentes comunitários de saúde) e condutas específicas (equipes médicas) de eventos tóxicos; (4) desenvolvimento de Campanha de Prevenção de Acidentes Tóxicos, junto à população assistida pelo SSC-GHC, realizada junto às unidades básicas e em áreas comunitárias como escolas e creches, proporcionando atividades de educação em saúde a cerca de medidas de prevenção de acidentes tóxicos e lembrando os riscos do mau uso dos produtos (medicamentos, saneantes e pesticidas); (5) analise do impacto da ação em saúde, monitorando a ocorrência nos casos de intoxicação infantil na população exposta nas áreas de atuação das equipes de ESF capacitadas pela ação (etapa não finalizada), e avaliando novamente o perfil de conhecimento sobre risco tóxico dos responsáveis por crianças assistidas pelo SSC-GHC. Resultados: (1) As entrevistas com os responsáveis por crianças envolvidas em casos de intoxicação registrados nos prontuários do GHC, permitiram verificar os aspectos de risco que envolveram estas ocorrências. (2) Foram realizadas 254 entrevistas com responsáveis por crianças assistidas pelo SSC-GHC, de 11 unidades de ESF, resultando num escore geral médio do grau de conhecimento de risco tóxico dos produtos de 2,55±0,7 (média ± desvio padrão), e de 2,47±0,59 para medicamentos, 2,97±1,10 para saneantes e 2,12±0,77 para pesticidas. Analisando os resultados constatou-se uma reduzida percepção de risco relacionada à guarda de todos estes produtos, à indicação e uso de medicamentos e a aquisição de saneantes e pesticidas. Conclusões: Até o presente momento, o projeto já esboça um constructo no desenvolvimento, na consolidação e ampliação de estratégias de vigilância e monitoramento de eventos tóxicos, colaborando assim, com as demandas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Quanto à reduzida percepção de risco associada às substâncias estudadas, constata-se a importância das ações de educação em saúde, não só para a população, mas também para toda a equipe de saúde, através da educação permanente. O projeto terá continuidade nas atividades de monitoramento dos casos de intoxicação, nas ações educativas e na avaliação do perfil de risco pós-intervenção, de modo a avaliar o impacto dessa abordagem em saúde junto ao programa ESF. Através das diferentes abordagens desenvolvidas espera-se reduzir o risco de ocorrência de acidentes tóxicos na população e contribuir com a estratégia de vigilância e monitoramento de eventos adversos, fortalecendo assim, as ações integradas do SUS.