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Introdução A promoção da saúde se refere a um processo multifatorial de responsabilidade interdisciplinar, relacionado, principalmente, à prevenção primária. O processo é dito multifatorial uma vez que nele devem ser considerados distintos fatores. A responsabilidade das estratégias de promoção de saúde e prevenção de doenças assume um caráter interdisciplinar, pois profissionais de diferentes áreas atuam em prol da promoção da saúde. Neste sentido, o papel dos professores é imprescindível quando visualizada a capacidade de multiplicação de informações que eles possuem, junto aos alunos e comunidade na qual a escola está inserida. Dentro da área da saúde é importante que esses agentes multiplicadores tenham conhecimentos e conceitos adequados para a difusão de informações, principalmente com os escolares. Desta forma, o professor capacitado terá o papel de prevenir e orientar os alunos a hábitos saudáveis e assim promover saúde na escola e, consequentemente, na comunidade em que estão inseridos. O professor tem uma importante função na formação dos escolares, uma vez que estão trabalhando com crianças e/ou adolescentes em formação intelectual e desenvolvimento de hábitos, então é de alta relevância que esses profissionais tenham uma percepção apropriada de saúde, para instruir seus alunos a boas condutas em relação à saúde. Para que isso ocorra, no entanto, os professores precisam ser capacitados para promover a saúde no ambiente escolar. Em um primeiro momento é necessário verificar as concepções que os professores têm sobre saúde, para detectar dificuldades e limitações; sendo assim o objetivo deste estudo foi verificar a percepção de professores de escolas públicas da cidade de Uruguaiana-RS acerca da saúde. Metodologia Esta pesquisa teve caráter qualitativo, visando conhecer, entender e interpretar as concepções que norteiam o imaginário de docentes da rede pública acerca do conceito de saúde e do papel da escola e do professor na promoção da saúde juntos aos estudantes. Foram entrevistados onze professores de escolas públicas estaduais e municipais de Uruguaiana-RS, que participaram por voluntariedade, sendo o grupo formado por um homem e dez mulheres. O roteiro da entrevista foi composto por cinco perguntas previamente validadas por profissionais da área, a fim de atender aos objetivos da pesquisa. Os professores foram orientados acerca do objetivo do estudo e responderam às questões de forma escrita e anônima. Para análise dos resultados utilizou-se a técnica de análise em profundidade, que compreende: a) pré-análise, incluindo a leitura global das entrevistas para ter um primeiro contato com o conteúdo que elas veiculam; b) exploração do material, identificando as unidades de registro em cada entrevista e, com base nessas, procurando categorizá-las; c) interpretação inicial com base na discussão teórica. As principais ideias apontadas e mais frequentes foram organizadas em categorias que melhor caracterizam a percepção dos professores acerca da saúde. Resultados A partir da análise de profundidade, foi verificada, em relação à percepção de saúde, a presença das seguintes categorias: Saúde como condição do corpo e bom estado físico: Esta foi a ideia que mais se destacou, tendo maior número de citações. As citações dos docentes abrangeram os cuidados com o próprio corpo, higiene pessoal, prevenção através de exames de rotina, entre outros.Importância da saúde mental e bem-estar: Alguns docentes citaram a importância da saúde mental (sono adequado, estado psicológico) e bem-estar (que compreende o equilíbrio e a homeostasia). Outros aspectos foram apontados, embora menor frequência, assim como a relação de saúde com a prática de exercícios físicos e boa alimentação. Com relação à importância e ao papel da escola e dos professores na promoção da saúde junto aos alunos verificou-se a prevalência de uma categoria: Papel orientação e divulgação da informação de saúde: Os professores enfatizaram em suas falas que a escola tem um papel preventivo na área da saúde, o que deve ser feito através de orientação e divulgação de informações relacionadas à saúde. Poucas respostas referenciaram o exemplo que os docentes são para os alunos, além de parecer que os docentes não consideram a importância de conhecer a realidade e o contexto que os escolares estão inseridos para entender as condições de saúde dos mesmos, pois esta não foi citada em nenhuma das respostas. Discussão Segundo Fernandes (2005) grande parte dos professores não conseguem visualizar a saúde como uma questão global. A percepção de saúde apresentada pelos professores entrevistados demonstra que ainda há prevalência sobre os aspectos físicos e bom estado do corpo como sendo o mais importante para uma boa condição de saúde. Embora tenha sido bastante mencionado o aspecto mental e psicológico, como um conjunto que deve ser mantido em equilíbrio, poucos docentes fizeram menção à relação da saúde com as questões sociais e de qualidade de vida. Para Conceição (1990) a saúde do escolar deve ser um trabalho em conjunto entre profissionais da saúde e da educação, sendo que suas funções são de promover, proteger e recuperar a saúde das coletividades que compõem a escola. Dessa forma, a promoção de saúde consagra-se como um processo multifatorial e interdisciplinar, e o papel dos professores nesse contexto é primordial, uma vez que possuem contato direto com os alunos e convivência diária, e suas atitudes servem de exemplo aos estudantes. De acordo com Focesi (1990) o professor desempenha a função de maior responsabilidade quando se trata de educação em saúde, indo desde a formação do pensamento crítico do estudante até a encaminhar as crianças a bons hábitos de saúde. Considerando o exposto, verifica-se a importância de se conhecer a realidade em que o aluno está integrado, para então poder orientar para a saúde de forma coerente com a situação vivida pelo mesmo. No entanto, nos relatos dos docentes não houve registros significativos em relação à referência que o professor e suas atitudes podem ser para os alunos e nem à importância da interação do docente com a comunidade em que a escola está inserida, para melhor conhecimento da condição de vida dos alunos, o que é essencial não só para promoção da saúde na escola, como também para o próprio ato de educar e ensinar. Desta maneira, observa-se que é necessário melhor trabalhar o tema saúde com os docentes, os quais apresentaram poucas ideias sobre a importante função de promover saúde no contexto escolar, e posteriormente comunitário. Entendemos que, para que isso ocorra, é necessária uma formação continuada que capacite os docentes, além de um maior envolvimento de profissionais da área da saúde no contexto escolar, fornecendo suporte mais técnico e prático aos educadores. Assim, como uma ação inicial, organizamos um curso de capacitação docente para promoção da saúde na escola, que compreendeu a discussão dos conceitos de saúde, de promoção e prevenção em saúde, assim como aspectos mais específicos de prevenção em saúde diretamente relacionados com a realidade do município de Uruguaiana. O curso obteve uma boa participação docente, de forma que foi possível trabalhar os conceitos de saúde e o papel dos professores e da escola na promoção da mesma, tornando os docentes participantes aptos a tratar de saúde no contexto escolar, de forma ampla, dinâmica e inserida no contexto das aulas e atividades didáticas. Conclusão Com base nos resultados, foi possível verificar que os docentes da rede pública de Uruguaiana-RS possuem uma percepção de saúde cujos aspectos mais relevantes incluem o estado físico e mental do indivíduo, poucos consideram as questões sócio-ambientais. Para os professores, seu papel e da escola em relação à saúde é a transmissão de informações. Diante desta realidade percebemos a necessidade de uma formação mais adequada a esses profissionais, com o objetivo de ampliar esta percepção, trabalhando as demais esferas que influenciam a saúde (social, ambiental) e discutindo diferentes formas de inserção da saúde no contexto escolar. Referências CONCEIÇÃO, J. A. N. Conceito da Saúde do Escolar. Manual da Saúde do Escolar. Rio de Janeiro: Sarvier, 1990.FERNANDES, M. H.; ROCHA, V. M.; SOUZA, D. B. A concepção sobre saúde do escolar entre professores do ensino fundamental (1ª à 4ª série). História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v. 12, n. 2, p. 283-91, Maio - Agosto. 2005.FOCESI, E. Educação em saúde na escola. O papel do professor. Revista Brasileira Saúde do Escolar. v. 1, n. 2, p. 4-8. Abril. 1990