Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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FORMAS DE APRENDIZADO EXTRAMUROS: O PROJETO VER-SUS/BRASIL POTENCIALIZANDO MUDANÇAS NA FORMAÇÃO EM SAÚDE
Pedro Henrique Oliveira Bernadi, Jéssica Nery Fão, Marlete Andrize de Oliveira, Samanta Basso, Karin Schuler, Simoni Silva da Silva, Karoline de Quadros, Márcia Gauer Ribeiro, Adriana Ferrapontoff Lemos, Gbariela Dalenogare, Guilherme Silva de Farias, Matheus Antochevis de Oliveira, Cristhian Ricardo Schieck, Ieda Cristina Morinel, Maiara Gauer Ribeiro, Sabrina da Silva Siqueira, Aline de Cássia Bonoto Gurski, Gabriela Fávero Alberti, Stéfani Figueiredo Maciel, Eduardo Kraetzig Donini

Resumo


Introdução: O projeto Ver-SUS (Vivências e Estágios na Realidade do Sistema Único de Saúde), iniciou-se no estado do Rio Grande do Sul, em 2002, através da parceria entre Ministério da Saúde e Movimento Estudantil e, posteriormente, em outros estados nos anos de 2004 e 2005 e experiências diversas locais após este período. Este dispositivo indutor de mudança na prática de saúde destaca-se dentre as ações que visam redirecionar a formação enquanto um espaço de aprendizagem para estudantes das diversas graduações que, sob a metodologia de imersão, inserem-se no cotidiano de trabalho das organizações de redes e sistemas de saúde possibilitando assim, a formação de profissionais comprometidos ética e politicamente com as necessidades de saúde da população. Este relato, portanto, aborda especificamente a realização da primeira edição deste estágio de vivência no município de Santiago/RS em parceria com Coletivo IntenSUS – Interdisciplinaridade e Ensino no Sistema Único de Saúde, da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai das Missões – URI Campus de Santiago; Rede Unida; Escola de Saúde Pública/RS; Rede Colaborativa de Governo/UFRGS e UNE – União Nacional dos Estudantes. A efetuação deste estágio neste município é resultado de encontros anteriores organizados por e para estudantes e apoiadores do Ver-SUS das diferentes instituições de ensino e cursos de graduação do estado. Objetivo: discutir e relatar a operacionalização e resultados decorrentes da primeira edição do Ver-SUS no município de Santiago/RS. Método: O Ver-SUS Santiago/RS ocorreu no período de 04 a 13 de fevereiro de 2012, contemplando, de maneira interdisciplinar, vinte e dois acadêmicos de: Enfermagem, Psicologia, Farmácia, Medicina, Ciências Sociais, Serviço Social, Terapia Ocupacional e Nutrição. Estes estudantes estiveram imersos durantes os dez dias da vivência nas dependências da Universidade local – URI Santiago, participando de rodas de discussões atreladas a diferentes temáticas; dinâmicas integrativas, críticas-reflexivas; visualização de filmes e documentários que norteavam as discussões; e, principalmente, inseridos na rede de saúde local e região. Resultados: É válido ressaltar que cada um dos participantes possuía expectativas singulares pré-vivência, sendo elas motivadas pela curiosidade ou por um ideal profissional, mas, sobretudo, cada um, em seu modo, contribuiu para que esta experiência se construísse única em sua plenitude. Este espaço de aproximação dos cursos da área da saúde, como objetiva o Ver-SUS, estimulou a atuação destes participantes enquanto equipe (logo, interdisciplinar) que contribuiu para que pudéssemos conhecer e entender o objeto de estudo de cada profissão, assimilando semelhanças que intensificavam o rompimento da lógica do trabalho em saúde fragmentado e desarticulado do processo de formação. Ponderamos, portanto, o Ver-SUS enquanto disparador de espaços para a construção prática e real da interdisciplinaridade e do trabalho em equipe, na medida em que aproxima diferentes áreas de conhecimento e potencializa a importância de cada uma delas, isoladas e em conjunto, no contexto do serviço de saúde. Nesse sentido, a partir da imersão na rede de saúde do município, os estudantes conheceram os contextos histórico-culturais e sociais que abarcam a organização destes serviços locais, visto pela maioria dos estudantes externos como uma nova lógica de operacionalização diferente do habitual vivenciado em seu município de origem. Assim, foi possível compreender o Sistema Único de Saúde enquanto resultante de um processo de produção social e de discussão entre atores sociais motivados por diferentes interesses provocando reflexões a cerca do papel do estudante como agente transformador da realidade social. As conclusões no fim destes dias são de que não importa o quanto achamos que algo está bom, sempre há possibilidade de melhorar e aperfeiçoar. Realidades sociais são mutáveis, e por conta disso existe a necessidade que construamos mecanismos que possibilitem o acompanhamento deste dinamismo. O SUS possui falhas, obviamente; contudo, mais importante do que apontá-las é atentar para a intenção de melhora, percebida durante as visitas durante alguns locais. Esta contestação insere fagulhas de confiança que uma transformação está em processo. A importância dada por alguns profissionais da vivência, abrindo as portas do serviço para o grupo explanando sobre as dificuldades, os empecilhos, mas também nos relatando a satisfação em trabalhar no SUS, a especificidade deste sistema e toda a gratificação pessoais que vivenciam. Sendo assim, o versus caracteriza-se como importante mecanismo de reflexão. Desde a convivência com pessoas diferentes, proporcionando um espaço de união, companheirismo, doação e respeito. Ter a oportunidade de visualizar os contextos das comunidades e suas necessidades, demanda, particularidades é uma importante ferramenta para formação profissional, que refletirá numa dedicação ímpar, numa visão mais abrangente da complexidade do ser humano, influenciando diretamente as ações que nós, versusianos, teremos quando assumirmos os espaços de trabalho que conhecemos. Considerações finais: A oportunidade de conhecer outras pessoas, outros olhares e aprender com eles são uma oficina de conhecimento, troca e dedicação. Tudo é positivo se pensarmos que, mesmo os acontecimentos que não saíram como o planejado, torna-se circunstâncias de aprendizado. Assim não podemos apontar negatividades. Acreditamos que o mais importante é explicitar a relevância do Ver-SUS como um disparador e crescimento pessoal, primeiramente; em seguida apontar o crescimento profissional, oriundo do contato direto com os serviços. Com isso, pretende-se chamar atenção para a necessidade que novas experiências extramuros sejam oportunizadas, para que mais pessoas tenham acesso às realidades multifacetadas que formam nosso contexto cultural, de forma que se consiga construir um dinamismo interno ao Sistema de Saúde, capaz de dar conta de toda esta heterogeneidade, tornando assim único, mas não padronizador único em sua especificidade, único em sua condição plural, e assim parâmetro para que outros povos repensem seus modelos de atenção em saúde.