Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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CONCEPÇÕES E PRÁTICAS DE SAÚDE E DOENÇA ENTRE ALUNOS DO BACHARELADO INTERDISCIPLINAR EM SAÚDE DA UFBA
Déborah Santos Conceição, Maria Thereza Ávila Dantas Coelho, Vanessa Prado dos Santos, Bárbara Menezes da Silva, Evelyn Martins Reale de Oliveira

Resumo


Conhecer as concepções e práticas de saúde utilizadas por alunos universitários do campo da saúde é fundamental para que se conheça o perfil profissional que o estudante está construindo. As concepções e práticas de saúde-doença vêm sendo discutidas em diversos campos e, no campo da saúde, esta discussão está no centro tanto da produção de conhecimento, quanto das práticas profissionais e não-profissionais. Para que os alunos sejam formados de maneira a poderem desenvolver práticas mais humanizadas, que incluam a prevenção e a promoção da saúde, é preciso estimular, entre eles, o exercício da consciência crítica e ensiná-los a compreender a permanente interdependência existente entre as dimensões biológicas, psicológicas e sócio-ambientais do processo saúde-doença. Nesse contexto, este trabalho pretendeu investigar as concepções e práticas de saúde e doença entre alunos do Bacharelado Interdisciplinar em Saúde da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Inicialmente, após consentimento prévio através do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, os alunos responderam um questionário aberto sobre o tema de investigação. O questionário continha as seguintes perguntas abertas: 1) Você se sente saudável? Por quê? 2) O que você considera importante cuidar para manter boa saúde? 3) O que é saúde para você? 4) Você se sente doente? Por quê? 5) Que providências você toma quando está doente? 6) O que é doença para você? Os questionários foram aplicados em sala de aula e respondidos manualmente pelos alunos, de forma livre. Os dados coletados foram, então, agrupados de acordo com os objetivos do estudo e analisados conforme a análise categorial proposta por Bardin. As respostas aos 131 questionários dadas pelos ingressos no ano de 2009 foram digitadas em programa do Microsoft Word. Os dados coletados em cada pergunta foram agrupados em planilhas do Microsoft Excel ®. Em relação à auto-percepção de saúde/doença, a maioria dos estudantes (74%) afirmou se sentir saudável. As respostas negativas à pergunta “você se sente saudável” evidenciaram motivos diversos. Alguns alunos reportaram sua percepção de não-saúde relacionando-a a aspectos pessoais, financeiros e emocionais, não correlacionados necessariamente à presença de doenças. Poucos alunos (4%) responderam de forma imprecisa em relação a essa questão, alegando a complexidade do conceito saúde-doença ou alternância de tal auto-percepção. Quanto às ações de promoção da saúde, os alunos apresentaram forte referência à alimentação saudável e à prática de atividades físicas. Dentre os 131 questionários, 80 (61%) citaram a alimentação saudável e 57 (44%), a atividade física. Se, de um lado, em 2004 a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou a Estratégia Global para Alimentação, Atividade Física e Saúde, a fim de estimular a promoção da saúde e reduzir os fatores de risco associados às doenças crônicas, tampouco podemos desprezar o papel social da mídia exercendo influência na construção do senso comum e dos ideais de saúde e beleza. Os cuidados com a saúde mental também foram considerados importantes pelos alunos, aparecendo em 68 (52%) questionários. Nas respostas fornecidas pelos estudantes, apareceram outros aspectos ligados à manutenção da saúde, como família, dinheiro, educação, trabalho, lazer, moradia, amizade, fé e o cuidado de si e dos outro. Importante ressaltar que, no Bacharelado Interdisciplinar em Saúde, os alunos têm tido a oportunidade de refletir sobre o aspecto psicológico da saúde, tanto nos componentes curriculares do eixo específico de saúde do próprio curso, quanto nos componentes ofertados pelo Instituto de Psicologia da UFBA. As buscas terapêuticas mais utilizadas por eles são: assistência médica, automedicação e chás. Noventa e sete (74%) respostas revelaram a busca por assistência médica, enquanto que 34 (26%) respostas fizeram referência à automedicação. A justificativa para a prática da automedicação entre os alunos do BI saúde foi, principalmente, a presença de sintomas leves, considerados de simples resolução. A procura por métodos chamados de “naturais” pelos alunos, como chás e medicações ditas “caseiras”, foi citada em 11 (8%) questionários. Nessa direção, reflexões sobre a dimensão cultural da saúde, bem como sobre distintas racionalidades e práticas de saúde são estimuladas no cotidiano do Bacharelado Interdisciplinar em Saúde e previstas em seu projeto político-pedagógico. Em ordem decrescente, as concepções de saúde dos estudantes envolveram as idéias de bem-estar (36% das respostas), equilíbrio (17% das respostas) e ausência de doença. Essa última perspectiva da saúde é marcada pela negatividade, na medida em que define a saúde pelo que ela não é. Outras respostas relacionaram a saúde à harmonia, capacidade para desempenho de atividades, felicidade, normalidade e perfeição, apontando para a perspectiva ampliada deste conceito. As concepções de doença foram relacionadas ao desequilíbrio, mal-estar, anormalidade e mau funcionamento. Também surgiu a concepção de doença como ausência de saúde. A perspectiva da doença como ausência de saúde pode ser considerada como opostamente simétrica à da saúde como ausência de doença. Nesse sentido, trata-se aqui de uma outra modalidade de expressão de uma idéia biomédica, que tem sido hegemônica no campo profissional da saúde. Os alunos do Bacharelado Interdisciplinar em Saúde, que responderam à pesquisa, não apresentaram essa perspectiva como dominante em seu discurso, na medida em que ela integrou um percentual reduzido de respostas. Tal aspecto aponta para o projeto político-pedagógico do curso, que pretende desenvolver uma concepção ampliada de saúde entre os estudantes, não restrita à perspectiva biomédica. Observamos outras concepções de doença entre os alunos, ligadas às idéias de desarmonia, debilidade e deficiência. Verificamos, assim, que as concepções e as práticas de saúde dos estudantes estão ligadas, principalmente, à idéia de bem-estar biopsicossocial, difundida pela OMS, o que reflete a diretriz interdisciplinar do curso.