Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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ENFERMAGEM E VISITA DOMICILIAR EM MEIO RURAL
Paloma Solano, Marcia Luna, Luiz Henrique Chad Pellon

Resumo


INTRODUÇÃO: A Visita Domiciliar (VD) é uma ferramenta de intervenção fundamental que possibilita compreender parte da dinâmica das relações familiares, as condições de vida, trabalho e saúde, além de criar vínculo entre os profissionais de saúde e seus clientes. No entanto, para que ela ocorra de forma satisfatória, precisa ser sistematizada, pois o profissional atuante na VD deve conduzi-la de maneira integral e humanizada, ou seja, ir além dos sinais e sintomas, acolher o cliente, família e comunidade de forma que englobe suas queixas, dúvidas, crenças e valores, aspectos psicológicos, sociais, ambientais e econômicos. Visto que a definição do processo saúde-doença-cuidado depende do meio em que o individuo está inserido, o modelo assistencial de enfermagem em saúde pública precisa ser flexível, especialmente em territórios rurais onde as relações com o ambiente e a cultura se mostram determinantes para a construção do sentido de realidade. OBJETIVOS: Relatar a experiência vivenciada em visitas domiciliares realizadas em uma Unidade de Saúde da Família (USF) localizada em meio rural e avaliar sua contribuição para formação acadêmica. MÉTODO: Trata-se de um relato de experiência vivenciada enquanto discentes do 4º Período do Curso de Graduação em Enfermagem durante o acompanhamento de VD em uma USF na zona rural do município de Angra dos Reis - RJ, no primeiro semestre do ano de 2010. A visita técnica foi desenvolvida a partir de requisitos necessários para a avaliação do ensino-aprendizagem da disciplina Enfermagem nas Ações Programáticas de Saúde da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (EEAP/UNIRIO) e envolveu duas etapas: a divisão dos discentes em duplas para o acompanhamento de atividades de rotina das enfermeiras em unidades de Estratégias da Saúde da Família em zona rural. A segunda etapa consistiu na entrega de relatórios que deveriam conter a análise da experiência, relacionando a prática com a teoria abordada em sala de aula, além da contribuição para a formação acadêmica. RESULTADOS: No dia em que aconteceu nossa visita técnica estava programada a realização de VDs as quais envolveram as seguintes etapas: planejamento, execução e avaliação. As VDs eram programadas em função das rotinas de acompanhamento, porém, percebemos que foram re-planejadas para atender nossa disponibilidade de tempo e meios para deslocamento. Acompanhamos junto à enfermeira e a Agente Comunitária de Saúde duas VDs realizadas à puérperas e recém-natos (RNs), nas quais foram executados os seguintes procedimentos: sinais vitais, exame físico, orientações quanto o aleitamento materno, período puerperal e avaliação da caderneta de vacina da criança. As VDs duraram cerca de 30 minutos, e percebemos que a delimitação do tempo foi diretamente dependente da escuta qualificada das queixas e dúvidas dos clientes e dos seus familiares e da atuação da enfermeira no que tange ao desenvolvimento de estratégias que tomassem as questões culturais, não como obstáculos, mas como orientadoras de um cuidado baseado em parâmetros de interculturalidade. Percebemos que após as orientações, as puérperas demonstraram maior segurança em relação à amamentação, vacinação, cuidados com o RN e período puerperal. A escuta ativa e a conduta integralizada nos possibilitou compreender que o estabelecimento de vínculos profícuos entre enfermeira-cliente-família necessita articular os aspectos biopsicosociais, culturais e ambientais para subsidiar a qualidade da assistência. Dessa forma, percebemos que a assistência humanizada no ambiente rural implica no conhecimento prévio dos recursos existentes no território e na sensibilidade da enfermeira de reconhecer o potencial latente em cada indivíduo, família ou grupo social. No entanto, alguns fatores se mostraram como barreiras à qualificação da VD, pois, a necessidade de deslocamento implica na superação de obstáculos de ordem climática e ambiental, o que faz com que a bicicleta seja a melhor opção neste território específico. Contudo, nem sempre as condições são propícias à utilização desse recurso, pois, o desgaste físico e as condições climáticas podem se interpor à qualidade da VD em função de obstacularizarem o deslocamento entre longas distâncias ou muitas vezes inviabilizarem o acesso a determinados ambientes em que só é possível acessar deambulando. Percebemos que esse tipo de problema não afeta somente os profissionais, mas também os usuários que residem em áreas distantes o que dificulta a demanda espontânea à USF. CONCLUSÕES: Observamos que as VDs se instituem como espaço para promoção da saúde, uma vez que permitem maior aproximação entre os profissionais-clientes-família-sociedade, o que possibilita que as dúvidas sejam sanadas. Concluímos que a visita técnica no meio rural promovida pela disciplina do 4º período do Curso de Graduação de Enfermagem foi de extrema importância para nossa formação, visto que exercemos atividades práticas que nos possibilitaram aplicar os princípios teóricos, adotando uma visão crítica e uma postura ética diante das ações de Enfermagem. Aprendemos na prática as funções que são designadas à nossa profissão, e o quanto a população necessita de um atendimento de qualidade, juntamente com uma equipe multiprofissional, para que assim se garanta os direitos de universalidade e integralidade da assistência prestada. Desta forma pudemos perceber que é um grande desafio para a enfermagem remodelar o seu cuidado de acordo com as especificidades culturais, tendo em vista que é necessário buscar alternativas que aproximem o cuidado profissional e o popular. Através desta experiência concluímos que a prática de enfermagem em saúde pública implica no desenvolvimento de formas produtivas de convívio com a alteridade, por meio do reconhecimento do outro como sujeito de direitos e do atendimento humanizado que respeite as necessidades em saúde, buscando uma interlocução com as diferentes formas de compreensão do processo saúde-doença-cuidado e as habilidades individuais e/ou coletivas, que transcendem as limitações do modelo biomédico, ao abranger os familiares e vínculos sociais na identificação e solução de problemas.