Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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Conhecendo a história de Pixunas: dos índios Temiminós a comunidade atual
Camille Melo Barreto Sousa, Rebeca Marinho Nascimento, Marina Fernandes Prado, Ivo Aurélio Lima, Marta Trabbold, Maria Alice Pessanha Carvalho

Resumo


Introdução O Diagnóstico Situacional, na área da saúde, é uma ferramenta utilizada para produzir conhecimento sobre um determinado território, fazendo um recorte temporal da realidade. As condições de saúde de uma população não podem ser apreendidas apenas por seus aspectos objetivos (SOUZA-SANTOS, 2004); é fundamental considerar o conceito ampliado de saúde. O “(...) grande mérito desta concepção reside justamente na explicitação dos determinantes sociais da saúde e da doença”, como afirma Batistella (2007, p.64). Assim, quando se discute o Diagnóstico Situacional de Saúde de uma referida população é necessário entendê-la para além dos indicadores que refletem unicamente os agravos e estender a discussão para as condições mais gerais - socioeconômicas, culturais e ambientais - que se relacionam com as condições de vida e trabalho de seus membros, como habitação, saneamento, ambiente de trabalho, serviços de saúde e educação, incluindo também a organização de redes sociais e comunitárias.Conhecer as necessidades de saúde da população exige um amplo olhar, que contemple o entendimento sobre as condições de vida dos indivíduos, sua história, suas redes sociais, suas concepções de saúde e doença, permitindo entender o território enquanto espaço dinâmico. Neste intuito, foi elaborado pelos alunos da Residência Multiprofissional em Saúde da Família da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca - Fiocruz, um diagnóstico situacional da comunidade Pixunas, coberta pela Estratégia de Saúde da Família, no município do Rio de Janeiro. O presente trabalho é um recorte deste diagnóstico. Objetivo Resgatar a história da comunidade para se aproximar da realidade dos moradores, compreendendo sua dinâmica, necessidades e potencialidades. Método O método utilizado foi a História Oral, que valoriza memórias e recordações dos indivíduos, obtendo informações com pessoas que vivenciaram o fato ocorrido. Segundo Fortunato e Ruscheinsky (2004, p.28), “(...) é possível afirmar que o uso da História Oral representa uma contribuição muito valiosa para auxiliar a desvendar aspectos que outros métodos de investigação não alcançam, incluindo-se a produção do espaço urbano”. As técnicas e fontes de dados utilizados foram: entrevistas semi-estruturadas, observação participante, diário reflexivo e registros audiovisuais. O período de coleta dos dados ocorreu entre junho e setembro de 2011. O primeiro entrevistado foi um morador a mais de 50 anos na região, sendo presidente de uma das Associações de Moradores. O segundo entrevistado foi um professor e historiador, voluntário na Biblioteca Regional Ilha do Governador - Cocotá, que forneceu algumas informações anteriores ao século XX. Outras informações relacionadas às condições de moradias da população de Pixunas foram obtidas por meio das fichas de cadastro das famílias – Fichas A - cobertas pela Estratégia de Saúde da Família (ESF). ResultadosFoi possível levantar informações sobre a história e dinâmica da comunidade, a qual faz parte do bairro Bancários.No século XVI a área que hoje corresponde ao Bairro Bancários era ocupada pela tribo indígena Temiminós (conhecida como Maracajás). A partir de 1554 essa tribo perdeu o território para os Tamoios, sendo esses expulsos de toda Ilha de Guanabara, junto com os franceses por Salvador Correia de Sá, sobrinho do então Governador Geral Mém de Sá. A Ilha do Governador fazia parte da capitania de São Vicente, se destacando na produção açucareira. Nessa época havia muitos engenhos na região, incluindo o território dos Bancários onde foi instalado o Engenho Nossa Senhora da Ajuda.Já no século XX, o processo de ocupação do bairro Bancários ocorreu por volta da década de 1940 e 1950. O antigo Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Bancários começou a urbanizar aquela área construindo habitações populares a seus funcionários. A parte comprada pelo Instituto pertencia à prefeitura, o restante foi propriedade de Leopoldo Capanema que, segundo o historiador entrevistado, loteou a área, vendendo posteriormente a preços baixos. Ainda nessa época, o processo de ocupação não era tão intenso, o que ocorreu entre a década de 1960 e 1970. A região de Pixunas e outras partes pertenciam ao senador da república Dinardi Maris, que também se desfez de suas terras vendendo por um preço irrisório quando a ocupação se intensificou. O nome Pixunas é referência ao nome de uma árvore que havia em grande quantidade naquela área, sendo uma possível justificativa para o nome da comunidade. Já o morador entrevistado, acredita que o nome tem relação direta com uma antiga colônia de pescadores localizada no atual terreno do 3º Batalhão de Infantaria do Corpo de Fuzileiros Navais, chamada Pixunas.No início da ocupação, por volta da década de 1950, não havia rede elétrica nem abastecimento de água nesse morro, fazendo com que os primeiros moradores da época fossem buscar água no terreno do Batalhão, carregando baldes. As ruas não eram asfaltadas, havia poucas casas, sendo a maioria, “barracos” de madeira. Com o passar dos anos, essas moradias foram substituídas por alvenaria, entretanto, segundo o morador, não houve nenhum acompanhamento da prefeitura na construção dessas casas, ocorrendo deslizamento nessa região. Hoje, há abastecimento de água, porém esse se dá de forma irregular e insuficiente, sendo considerado, pela própria população, como um dos principais problemas da comunidade. Esse abastecimento irregular é conseqüência da “manobra” de água, isto é, há uma relação de privilégios para alguns moradores, segundo informação obtida em conversas informais com a comunidade.A maior parte das casas do morro de Pixunas foi construída sem nenhum tipo de orientação técnica, ocasionando dessa maneira, edificações muito próximas, com pouca ventilação e luminosidade. O risco se agrava por conta da expansão das construções verticais, em que vai sendo agregadas partes a casa-base, o conhecido “puxadinho”, de maneira aleatória. Pixunas é uma região predominantemente residencial, com poucos estabelecimentos comerciais. As religiões predominantes são as protestantes com mais de oito igrejas presentes no território, tendo um único centro espírita. Em relação às escolas, as de ensino fundamental e creches públicas ficam bastante próximas de Pixunas. Não há escolas de ensino médio no bairro Bancários. Conclusão Conhecer a história de Pixunas possibilitou maior aproximação com realidade da população, de modo a facilitar a compreensão sobre seus diversos aspectos, fornecendo elementos para a construção de futuras ações do serviço de saúde. Além disso, o resgate histórico propicia a valorização e difusão da cultura local, reforçando o sentimento de pertencimento das pessoas por este lugar.Vale ressaltar que o resgate histórico não descreve a completude da realidade, isto é, a história sempre é contada sob determinado ponto de vista, sendo necessário o constante exercício da escuta, propiciando uma interlocução entre o serviço e o usuário. BibliografiaBATISTELLA, C. Saúde, Doença e Cuidado: complexidade teórica e necessidade histórica. In: FONSECA, A. F. (Org.) O Território e o Processo Saúde-Doença. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2007. FORTUNATO, E. RUSCHEINSKY, A. A história oral na pesquisa social sobre espaço urbano. Biblos, Rio Grande, v. 16, p.25-36, 2004. Disponível em: <http: //www.seer.furg.br/ojs/index.php/biblos/article/view/408/93>. Acesso em: 18 out. 2011. SOUZA-SANTOS, B. Um Discurso sobre as Ciências. 2.ed. São Paulo: Cortez, 2004.