Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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Experienciações para a formação dos módulos iniciais dos cursos técnicos da ETSUS/RS
Augusto Luiz Torre, Denise Azambuja Zocche, Andrea Pautasso, Naia Correa, Thais Cornely

Resumo


Caracterização do Problema: A Educação Profissional em Saúde vem recebendo cada vez mais recursos por meio de Programas de Formação (PROFAPS) para elevar a escolaridade dos trabalhadores do SUS ao nível técnico, possibilitando com isso qualificar as ações e serviços na atenção básica e em outros níveis da rede de saúde, consequentemente contribuindo no cumprimento de metas estabelecidas por planos de Governo e Políticas Públicas de Saúde.As ETSUS foram criadas na reestruturação da Política de Educação Permanente em 2007 como mais um dispositivo potencializador de mudança nos processo de formação dos trabalhadores, bem como da gestão dos serviços de saúde, uma vez que as ETSUS, em articulação com gestores e Comissões de Integração Ensino-Serviço (CIES) acabam por fomentar e desenvolver a formação dos trabalhadores em saúde. Sendo então as responsáveis por essa formação, cabe a elas lidar com todos os desafios postos quando se pensa e vive a formação dos trabalhadores técnicos da saúde, sendo um dos mais instigantes o de se defrontar com trabalhadores pouco valorizados nos seus serviços e com gestões municipais que não entendem o trabalho como prática de formação. Como diz Ceccim (2005) um dos entraves à concretização das metas da saúde tem sido a compreensão da gestão da formação como atividade meio, secundária à formulação das políticas de atenção á saúde. Diante disso há de se pensar em uma formação que procure dar visibilidade aos processos de produção e de contestação do mundo do trabalho e as potencialidades do trabalhador técnico para os serviços de saúde no SUS. Descrição da experiência: a fim de produzir os planos de curso técnicos que serão ofertados no estado do Rio Grande do Sul, o grupo de trabalhadores da ETSUS, hoje composto por Coordenação Geral, Pedagógica, coordenação de curso e especialistas em saúde, desenvolveu uma sistematização de trabalho coletivo com o compromisso de produzir planos de curso que refletissem as necessidades macrorregionais do estado e que ainda fossem ao encontro das metas de saúde propostas pelo Plano Estratégico do Ministério da Saúde 2011-2014. Como método, utilizamos os pressupostos do quadrilátero da formação proposto por Fauerweker e Ceccim (2004), participamos ativamente das discussões nos colegiados gestores (CIR), na Comissão Intergestores Bipartite (CIB), na CIES Estadual e reunimos um grupo de expertises nas áreas respectivas de cada curso com o objetivo de validar a organização curricular, tornando esta mais próxima possível da realidade do mundo do trabalho em saúde e das necessidades dos usuários do SUS. Acreditamos que as práticas educativas configuram-se como fortes dispositivos de mudança e de qualificação do próprio trabalho, desde que desenvolvida de forma a expor o trabalhador-estudante a situações que acabem mobilizando e re-criando sentidos, significados, como aponta o pensamento de Larossa (2002) sobre o saber da experiência. Concordamos com o autor quando pensamos numa formação que produza nos trabalhadores–estudantes uma formação que nos toca, ou que nos acontece, e ao nos passar nos forma e nos transforma, pois somente o sujeito da experiência está, portanto, aberto à sua própria transformação. Partindo destes pressupostos, iniciamos as reuniões entre as coordenações geral, pedagógica de cursos, e em alguns momentos com um grupo de expertises, que foram sistematizadas para definir as unidades temáticas bem como os conteúdos programático dos módulos introdutórios que contemplam um núcleo comum dos cursos (técnico de saúde bucal, hemoterapia e vigilância em saúde), constituindo assim na ETSUS um campo de saber e de práticas da Saúde Coletiva a partir do perfil de profissional que se pretende formar e que ao final do curso contemple a proposta que foi coletivamente construída. Efeitos Alcançados: Os planos de curso se propõem no módulo introdutório a estabelecer uma relação direta entre trabalho técnico e as relações dos modos de produção desenvolvidas pelo capitalismo contemporâneo através dos estudos da Saúde Coletiva para uma formação transformadora das práticas dos trabalhadores técnicos do SUS que tem a Educação Permanente em Saúde como dispositivo de mudanças institucionais das equipes de saúde e gestão.Recomendações: As reuniões de planejamento e estudo se mostraram um dispositivo potente para problematizar a situação atual dos trabalhadores técnicos e a partir disso contemplar um conteúdo programático que se pretende transformador das práticas dos trabalhadores técnicos. Ao longo das reuniões buscávamos nas portarias emitidas pelo Ministério da Saúde, na legislação educacional, suporte para a construção de uma matriz curricular o mais articulada possível com o objetivo desta transformação. A portaria 3.189/09 (implementação do PROFAPS) reforça a ideia de que a legislação educativa brasileira foi forjada “segundo uma concepção de formação voltada para a compreensão global do processo produtivo, com a apreensão do saber tecnológico, a valorização da cultura do trabalho e a mobilização dos valores necessários à tomada de decisões”. Esta compreensão do processo produtivo resiste e cria condições de vida nos mais diferentes tipos de capturas a que os trabalhadores estão sujeitos nas suas práticas no cotidiano dos serviços de saúde. Sendo assim, pretende-se produzir no curso , de forma coletiva entre docentes e trabalhadores-estudantes, em articulação com as entidades representantes da profissão (conselhos,sindicatos) e com os trabalhadores, um saber tecnológico capaz de transformar a realidade do trabalho em saúde. Reforçamos que a escuta entre nós – técnicos da ETSUS - e entre todos os atores envolvidos com esta proposta de formação, acaba por refletir diversos modos de concepções de trabalho e educação oportunizando um cuidado em saúde efetivo e um trabalho crítico, que interrogue e proponha o cotidiano dos serviços de saúde. Pretende-se que esta sistematização de planejamento de curso, estenda-se para a sua implementação, e seja um exercicio permanente de reflexão-ação docente cidadã dos trabalhadores.REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS CECCIM, R.B. & FEUERWERKER, L. O quadrilátero da formação para a área da saúde: ensino,gestão,atenção e controle social. Physis.Revista de saúde coletiva, v.14,n.1, 2004. CECCIM, R.B. Educação Permanente em Saúde; desafio ambicioso e necessário.Interface-Comunicação, Saúde, Educação.v.9, n.16, set.2004/fev.2005 LAROSSA, J. Notas sobre a experiência e o saber da experiência.Revista Brasileira de Educação.jan/fev/mar, 2002.